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Crítica

CAM (Ricardo Corrêa, 2021) | Como ser LGBTQIA+ pode ser doloroso

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cam peça lgbt

CAM é uma peça teatral on-line do grupo Cia. Artera de Teatro que definitivamente surpreende. Por tudo aquilo que é, e também pelo o que pretende ser. Entre cores e projeções, o monólogo transmitido pelo Instagram conta a história de Brad (Davi Reis), um camboy que acredita que será sua última apresentação erótica ao vivo por passar para a última etapa de um processo seletivo para participar de um reality show de pegação. Durante o espetáculo aguardamos com ele a resposta do produtor do programa de TV enquanto sua ansiedade e expectativas explodem. Seus pequenos surtos de clareza vão sendo sufocados pelas promessas dos benefícios que a superexposição em um programa de televisão pode lhe proporcionar, como financiar um tratamento odontológico por exemplo.

O texto quase crônico de Ricardo Corrêa busca criar identificação entre os espectadores que pagam o que for para serem aceitos sexualmente em seus meios e atingir certo status social.  Fala sobre problemas do cotidiano, como não  ter dinheiro sobrando, sobre viver no limbo que é apenas viver sobrevivendo. Sobre como ser lgbtqia+ pode ser doloroso nos dias de hoje, ainda. Sobre ser fora dos padrões, sejam físicos, raciais ou sociais. Um personagem com uma luta verossímil. Egocentrismo e desconexão com a realidade que nos permeiam são o ponto central da personagem que eventualmente pincela sua humanidade no meio de falas esperançosas de um ser deslumbrado com o mundo que ele criou dentro de sua cabeça. Um homem gay que aos poucos se ama menos e busca o sentido da vida em se sentir desejado para ter aquilo que ele julga merecer, sem perceber que existem coisas além do lado mais primitivo do sexo. Não aceitando muito bem o fim da juventude, a chegada da velhice.

LGBTQIA+

Enquanto Brad enumera suas frustrações, vídeos são projetados no corpo do ator e na parede tendo resultados plásticos interessantes que complementam a falta de profundidade da personagem. Nestes momentos o som deixa a desejar por não ter o áudio sendo mixado direto para a transmissão, já que a captação de som é feita pelo microfone do aparelho de celular. Nestes tempos pandêmicos pode passar, mas uma atenção maior ao áudio teria sido interessante, já que cumpriria a falta de acústica das salas de teatro que ajudam na imersão e compreensão da história. A movimentação da câmera é bem explorada no espaço cênico também dá um tom cinematográfico ao teleteatro já que usa recursos como close e desfoque.

As projeções não tem só uma função na plasticidade, funcionam como flashback, localização no espaço-tempo do momento que a história acontece e também acrescentam um conteúdo que falta ao Brad, já que as falas dele exalam sedução com pitadas de vislumbres políticos.  Ele se auto questiona a todo momento sobre muitas coisas, mas não levanta teses, não argumenta a si próprio sobre possíveis soluções para o problema.
Estes vislumbres são complementados com os vídeos das projeções que elevam o tom político.

Ao mesmo tempo, a edição dos vídeos que são projetados é muito boa e a escolha de imagens peculiar, passando por memes políticos, capas de filme ponográficos e informações sobre dados factuais sobre a pandemia do novo coronavírus. Uma miscelânea de assuntos que tem a ver com a neurose criada pelo sistema econômico no qual vivemos e somos regidos; sistema que nos faz questionar a nossa identidade, sexualidade e lugar no mundo perante nossa própria existência.

CAM é uma produção completamente adaptada para ser exibida como uma LIVE pelo Instagram. Consigo imaginar uma versão nos palcos de teatro tradicionais, mas a própria obra é fruto do mundo que ela denuncia. A interação ator-platéia é simulada com o chat da própria rede social usada como palco, onde Brad faz jogos sexuais e interage com o público. Muito utilizado durante a pandemia, o formato do teleteatro continuará sendo explorado neste mundo exposto por CAM onde o próprio ator emula o olhar da platéia olhando para a lente da câmera de um celular.

CAM é um grande click bait que pode atrair alguns consumidores de pornografia desavisados, mas na verdade é uma obra politizada que tenta exibir a decadência do capitalismo usando como fio condutor a exploração do corpo e do sexo como saída para sobreviver em um mundo cada vez mais tecnológico e desigual.

Reserva e Compra de Ingressos: @ciaarteradeteatro (Instagram) ou ciaartera@gmail.com
Temporada: 27, 28, 29 e 31 de outubro e 04, 05, 06 e 07 de novembro
Horário: 21h  Duração: 45 minutos  Classificação Etária: 18 anos

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‘Aumenta que é rock ‘n roll’ traz nostalgia gostosa | Crítica

Longa protagonizado por Johnny Massaro e George Sauma estreia em 25 de abril.

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Uns anos atrás, mais especificamente em 2019, o Festival do Rio (e outros festivais do Brasil) trazia em sua programação um documentário sobre a Rádio Fluminense. “A Maldita”, de Tetê Mattos, que levava o título da alcunha pela qual a rádio era conhecida, narrava sua história e, além disso, a influência que teve em seus ouvintes. Para muitos, principalmente os que não viveram a época, foi o primeiro contato com a rádio rock fluminense.

Anos depois, no próximo 25 de abril, quinta-feira, estreia “Aumenta que é rock ‘n roll”, longa de Tomás Portella. O longa é baseado no livro “A onda maldita: Como nasceu a Rádio Fluminense”, escrito por Luiz Antônio Mello, criador da rádio. Protagonizado por Johnny Massaro na pele de Luiz Antônio, o filme foca em toda a trajetória do jornalista desde sua primeira transmissão na rádio do colégio, até o primeiro contato com a Rádio Fluminense (por causa de seu amigo e cocriador Samuca) e a luta pra fazer da Fluminense a rádio mais rock ‘n roll do Rio de Janeiro.

Muito rock

Pra começo de conversa, é preciso dizer que o filme é uma bela homenagem ao gênero rock. Além de uma trilha sonora com nomes de peso, como AC/DC, Rita Lee, Blitz e Paralamas do Sucesso, o longa consegue mostrar ao espectador do que o rock é verdadeiramente feito: de muita ousadia e questionamentos. Em uma época em que o gênero vem sendo esquecido, principalmente pelas gerações mais jovens, Tomás Portella consegue relembrar a todos que o rock é sinônimo de controversão e revolução, já que foi criado para questionar os ideais vigentes da época.

Isso fica muito claro nos personagens que compõem a rádio e que a tocam pra frente. A ideologia de fazer diferente fica tão nítida na tela que eu desafio o espectador a não sair do filme com vontade de revolucionar o mundo ao seu redor.

Roteiro

Isso se dá, obviamente, por um texto muito bem escrito e uma trama bem desenvolvida e bem amarrada. O que significa, portanto, que L.G. Bayão fez um ótimo trabalho na adaptação do livro.

Mas, além disso, as atuações dos atores em cena tambémajudam muito. Apesar de a maioria dos atores nem sequer ter vivido a época (no máximo, eram criancinhas nos anos 80), eles personificam a vontade de transformar da época. Principalmente Flora Diegues, que tem uma atuação tão natural que dá até pra pensar que ela pegou uma máquina do tempo lá em 1982 e saltou na época em que o filme foi gravado. Infelizmente, a atriz faleceu em 2019 e uma das dedicatórias do longa é para ela. Merecidissimo, porque Flora realmente se destaca entre os integrantes da rádio rock.

Sintonia fina

George Sauma interpreta o jornalista Samuca, amigo de colégio de Luiz Antonio que cria a rádio com o colega. A escolha dos dois protagonistas não poderia ser melhor, já que Johnny Massaro e George têm uma química que salta da tela. O jogo de dupla cheio de piadas, típico dos filmes de comédia dos anos 1980, funciona muito bem entre os dois. Os dois atores têm um timing ótimo para comédia e, ao mesmo tempo, conseguem emocionar quando o texto cai para o drama. Tanto George quanto Johnny brilham.

Também brilham a cenografia e o figurino do filme. Cláudio Amaral Peixoto, diretor de arte, e Ana Avelar, figurinista, retrataram tão bem a época que parece que estamos mesmo de volta aos anos 1980. A atenção aos detalhes faz o espectador, principalmente o que viveu tudo aquilo, se sentir dentro da rádio rock.

Nostálgico

Para resumir, é um filme redondinho e gostoso de assistir, com atuações incríveis e uma trilha sonora de arrasar. Duvido sair do cinema sem vontade de ouvir uma musiquinha de rock que seja!

Fique, por fim, com o trailer de “Aumenta que é rock ‘n roll”:

Ficha Técnica

AUMENTA QUE É ROCK ‘N ROLL

Brasil | 2023 | Comédia

Direção: Tomás Portella

Roteiro: L.G. Bayão

Elenco: Johnny Massaro, George Sauma, João Vitor Silva, Marina Provenzzano, Orã Figueiredo.

Produção: Luz Mágica

Coprodução: Globo Filmes e Mistika

Distribuição: H2O Films.

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