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Meu Querido Supermercado | Veja as histórias que não percebemos

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Meu Querido Supermercado

Meu Querido Supermercado. “Se não tiver ninguém olhando as possibilidades são infinitas”, o atendente de balcão de um supermercado Rodrigo diz isso enquanto reflete sobre os significados e possibilidades da vida. O primeiro longa da diretora Tali Yankelevich tem ambientação em um supermercado, um lugar onde os funcionários passam o dia realizando tarefas repetitivas.

Mas percebe-se que o filme é muito menos sobre o supermercado e muito mais sobre as pessoas que trabalham nele. Pessoas que, assim como muitos prestadores de serviços essenciais, acabam tornando-se invisíveis aos olhos das pessoas com pressa em seus cotidianos e correrias diárias.

No início do filme, um dos funcionários entrevistados questiona: “o que tem de interessante em um filme sobre o trabalho em um supermercado”? Justamente por focar nas histórias, personalidades e aspirações destas pessoas é onde está o interesse do filme. O documentário poderia ser em qualquer outro ambiente de trabalho que as pessoas passem o dia invisíveis aos olhos dos clientes, como por exemplo uma loja de departamentos ou uma lanchonete.

Histórias cinematográficas

A diretora teve a ideia do filme ao perceber, certa vez durante suas compras, uma intensa conversa sobre a primeira paixão, entre dois repositores de supermercado. Ela percebeu que aquilo era quase como uma cena de filme. De fato, o tempo todos as nossas voltas acontecem diversas histórias interessantes, as quais precisamos apenas prestar atenção para encontrar.

Curiosamente, grande parte dos funcionários entrevistados realiza uma função que tem uma afinidade com sua personalidade e gosto pessoal. Às vezes mais evidente, às vezes menos. Alguns nem precisam falar nada para que isso seja entendido, como por exemplo o rapaz que é responsável por pintar os cartazes com ofertas e preços. Nas horas vagas ele desenha, praticando seu estilo.

Personagens

O responsável por dirigir a empilhadeira gosta de jogos de construção no celular. Enquanto isso, a segurança que monitora as câmeras do supermercado adora séries de investigação. Por outro lado, o atendente gosta de fazer reflexões sobre a vida. Cada um apresenta uma personalidade, como personagens de um filme. A diretora explora tanto as particularidades de cada um, que é difícil um espectador não se identificar com pelo menos um dos funcionários. Até mesmo os que aparecem apenas em imagens e não em suas falas.

O filme mostra como cada pessoa possui uma história profunda, digna de um filme, de forma bem agradável e natural. Alguns personagens poderiam render um longa só baseados em suas histórias como o possível interesse amoroso entre dois colegas. A diretora não tenta produzir artificialmente essas histórias, elas simplesmente surgem a partir da observação e de deixar as pessoas à vontade.

Cada funcionário é uma história diferente

A importância das pessoas

Apesar de na sinopse o filme evidenciar o fato de que em um mercado as pessoas realizam tarefas repetitivas todos os dias, ninguém aparece como triste ou conformado. Alguns expressam afeição por seus trabalhos. Enquanto isso, outros falam sobre suas ambições como viver fora do país e descobrir sobre as origens da humanidade. Por fim, alguns apenas demonstram isso na forma como executam seus trabalhos, como a faxineira que está sempre cantando.

Afinal, o filme também não apresenta a vida deles como um mar de rosas. Por exemplo, apresenta o funcionário que teve um colapso nervoso por crise de ansiedade. Além disso, várias reflexões sobre solidão por parte de um funcionário e as dificuldades de estabelecer laços fora do ambiente de trabalho, por causa da longa jornada.

É importante observar

Pode-se perceber que cada pessoa é importante em sua contribuição de sua função ao supermercado. É como se a diretora estivesse apontando para o público a importância que cada pessoa tem no coletivo. É necessário prestar atenção em cada um. Nos tempos que vivemos atualmente, de cada vez mais individualismo, radicalização de posturas e falta de diálogo, este filme é de uma extrema importância para que as pessoas relembrem ou percebam que para ver a humanidade basta parar e observar.

O supermercado é quase como um personagem, no qual cada pessoa realiza uma função vital para seu funcionamento. A segurança é a visão, os repositores são os braços, os atendentes são o coração, os estoquistas são a mente, os funcionários que guardam os carrinhos são as pernas, e assim por diante.

Inusitadamente, o funcionário Caio, fã do personagem Goku da série de anime Dragon Ball, torna-se mais visível para as pessoas quando anda mascarado e fantasiado no supermercado do que quando está sendo ele mesmo em sua função no mercado. Mas, em qual destes momentos ele realmente está sendo ele mesmo?

A mensagem do filme é bem clara: precisamos observar para perceber a essência das coisas e das pessoas. Nos pequenos detalhes podemos descobrir histórias e imagens profundas, como a borboleta que volta e meia aparece no supermercado.

Onde ver o filme

O filme já participou de diversos festivais ao redor do mundo como IDFA – International Documentary Film Festival Amsterdam (2019) e o MoMA Doc Fortnight 2020, além de festivais em Guadalajara, no México, e Thessaloniki, na Grécia e está na programação do festival É Tudo Verdade 2020 com exibições dia 24/09/2020 às 21h00 e dia 25/09/2020 às 15h00.

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4 Comentários

1 Comentário

  1. Letícia

    23 de setembro de 2020 at 00:15

    O filme é interessante e com o texto leva a uma reflexão sobre o cotidiano e suas várias facetas que não exploramos. 😊

    • Luciano Dantas

      23 de setembro de 2020 at 19:11

      Que bom que gostou! 😀

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Cinema

‘Aumenta que é rock ‘n roll’ traz nostalgia gostosa | Crítica

Longa protagonizado por Johnny Massaro e George Sauma estreia em 25 de abril.

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Uns anos atrás, mais especificamente em 2019, o Festival do Rio (e outros festivais do Brasil) trazia em sua programação um documentário sobre a Rádio Fluminense. “A Maldita”, de Tetê Mattos, que levava o título da alcunha pela qual a rádio era conhecida, narrava sua história e, além disso, a influência que teve em seus ouvintes. Para muitos, principalmente os que não viveram a época, foi o primeiro contato com a rádio rock fluminense.

Anos depois, no próximo 25 de abril, quinta-feira, estreia “Aumenta que é rock ‘n roll”, longa de Tomás Portella. O longa é baseado no livro “A onda maldita: Como nasceu a Rádio Fluminense”, escrito por Luiz Antônio Mello, criador da rádio. Protagonizado por Johnny Massaro na pele de Luiz Antônio, o filme foca em toda a trajetória do jornalista desde sua primeira transmissão na rádio do colégio, até o primeiro contato com a Rádio Fluminense (por causa de seu amigo e cocriador Samuca) e a luta pra fazer da Fluminense a rádio mais rock ‘n roll do Rio de Janeiro.

Muito rock

Pra começo de conversa, é preciso dizer que o filme é uma bela homenagem ao gênero rock. Além de uma trilha sonora com nomes de peso, como AC/DC, Rita Lee, Blitz e Paralamas do Sucesso, o longa consegue mostrar ao espectador do que o rock é verdadeiramente feito: de muita ousadia e questionamentos. Em uma época em que o gênero vem sendo esquecido, principalmente pelas gerações mais jovens, Tomás Portella consegue relembrar a todos que o rock é sinônimo de controversão e revolução, já que foi criado para questionar os ideais vigentes da época.

Isso fica muito claro nos personagens que compõem a rádio e que a tocam pra frente. A ideologia de fazer diferente fica tão nítida na tela que eu desafio o espectador a não sair do filme com vontade de revolucionar o mundo ao seu redor.

Roteiro

Isso se dá, obviamente, por um texto muito bem escrito e uma trama bem desenvolvida e bem amarrada. O que significa, portanto, que L.G. Bayão fez um ótimo trabalho na adaptação do livro.

Mas, além disso, as atuações dos atores em cena tambémajudam muito. Apesar de a maioria dos atores nem sequer ter vivido a época (no máximo, eram criancinhas nos anos 80), eles personificam a vontade de transformar da época. Principalmente Flora Diegues, que tem uma atuação tão natural que dá até pra pensar que ela pegou uma máquina do tempo lá em 1982 e saltou na época em que o filme foi gravado. Infelizmente, a atriz faleceu em 2019 e uma das dedicatórias do longa é para ela. Merecidissimo, porque Flora realmente se destaca entre os integrantes da rádio rock.

Sintonia fina

George Sauma interpreta o jornalista Samuca, amigo de colégio de Luiz Antonio que cria a rádio com o colega. A escolha dos dois protagonistas não poderia ser melhor, já que Johnny Massaro e George têm uma química que salta da tela. O jogo de dupla cheio de piadas, típico dos filmes de comédia dos anos 1980, funciona muito bem entre os dois. Os dois atores têm um timing ótimo para comédia e, ao mesmo tempo, conseguem emocionar quando o texto cai para o drama. Tanto George quanto Johnny brilham.

Também brilham a cenografia e o figurino do filme. Cláudio Amaral Peixoto, diretor de arte, e Ana Avelar, figurinista, retrataram tão bem a época que parece que estamos mesmo de volta aos anos 1980. A atenção aos detalhes faz o espectador, principalmente o que viveu tudo aquilo, se sentir dentro da rádio rock.

Nostálgico

Para resumir, é um filme redondinho e gostoso de assistir, com atuações incríveis e uma trilha sonora de arrasar. Duvido sair do cinema sem vontade de ouvir uma musiquinha de rock que seja!

Fique, por fim, com o trailer de “Aumenta que é rock ‘n roll”:

Ficha Técnica

AUMENTA QUE É ROCK ‘N ROLL

Brasil | 2023 | Comédia

Direção: Tomás Portella

Roteiro: L.G. Bayão

Elenco: Johnny Massaro, George Sauma, João Vitor Silva, Marina Provenzzano, Orã Figueiredo.

Produção: Luz Mágica

Coprodução: Globo Filmes e Mistika

Distribuição: H2O Films.

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