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Cinema

Nada de Errado | Documentário dá voz aos imigrantes negros

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Nada de errado

Assistir ao documentário Nada de Errado (Suíça, 2019) é ser atingido por uma onda de pautas contemporâneas extremamente urgentes – e vejam isso como algo bastante positivo,
mesmo. Apesar de ter a questão da imigração (tema onipresente nos países europeus atualmente) como fio, o filme também toca em outros assuntos relacionados, como a criminalização dos imigrantes e os estereótipos que os cercam, até a sensibilidade do homem negro. Aliás, se esses estereótipos o vilanizam e brutalizam, o filme faz sua parte em remover rótulos relacionados não só aos imigrantes, como também aos africanos e homens negros.

Filmado após a morte do imigrante nigeriano Mike Ben Peter durante uma prisão em 2018, o documentário é encarado por alguns dos outros imigrantes que aparecem no filme como uma oportunidade de dar voz a eles, que vivem em situação precária no continente europeu. Um cotidiano de dificuldades, preconceitos e de abuso policial. Realidade esta que é
experimentada por eles em Lausanne, na Suíça, onde se passa o filme, e por outros milhões de imigrantes nas diferentes partes do continente.

2020 e George Floyd

O filme fica ainda mais rico nos significados se o ligarmos ao que vimos ao longo do ano de 2020. As circunstâncias do assassinato do imigrante Mike Ben Peter foram semelhantes às do
assassinato de George Floyd, por exemplo. Então o recorte racial fica ainda mais claro. Uma triste realidade que une, em dor, os imigrantes africanos, os afro-americanos, os afro-
brasileiros. A Diáspora Africana, o processo de escravização e o colonialismo ganham contornos bastante atuais, e que as feridas estão presentes nos diversos depoimentos dados
ao longo do filme. Alguns, como a última fala do filme, do diretor nigeriano Ebuka Enokwa, são poderosas falas que resumem de forma tocante tantos caminhos que aproximam não só os imigrantes de diversos países africanos, mas também os negros nascidos na Diáspora e que convivem com as mesmas mazelas em seus países.

Não há, de fato, “Nada de Errado” em buscar uma vida melhor em outro lugar. Mais do que isso, a riqueza da Europa se deve ao que os europeus tiraram, por séculos, de outras partes do mundo. Nada mais justo que as pessoas busquem uma contrapartida, que é uma vida digna, buscando a Europa como uma terra de recomeço, de esperança. É uma dívida histórica que o Ocidente não quer pagar de jeito nenhum. Mas só terá paz quando essa reparação vier. Enquanto ela não vem, a gente vai aquecendo os motores para passar com um trator por  cima de herança tão maldita que é o colonialismo com esse ótimo filme. Nota nove.

Afinal, para ver o filmes e mais informações, visite o site: mostradecinemasafricanos.com 

*Flavio Braga é professor de História, vocalista e baixista da banda Outros Caras e escritor. Escreve para as páginas Um Blog de Nada Rolé Literário, que estão cobrindo a Mostra de Cinemas Africanos em parceria com o Vivente Andante.

Por fim, o trailer (sem legendas em português):

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Flavio Braga é professor de História, vocalista e baixista da banda Outros Caras - e escritor. Além do Vivente Andante, escreve para as páginas Um Blog de Nada e Rolé Literário.

Cinema

‘Névoa prateada’, de Sacha Polak, é filme para refletir | Crítica

O longa estreia no dia 18 de abril nos cinemas de Brasília e São Paulo.

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nevoa prateada

Névoa prateada é um filme arrebatador que, com certeza, não vai passar incólume. O longa propicia emoções intensas, sejam elas positivas ou negativas. Fato que muitos não irão gostar. Alguns podem considerá-lo extremo demais, pesado demais. Os espectadores acostumados a tratar o cinema somente como forma de entretenimento e diversão provavelmente não irão gostar, já que é um filme que propõe análise e questionamentos. E que retrata uma realidade comum em alguns lugares da Inglaterra – e também de outros locais. Contudo, para quem gosta de assistir filmes que criticam a sociedade e comportamentos é um prato cheio. E para quem pretende aprender com o audiovisual também.

Mas sobre o que fala Névoa prateada?

A protagonista do filme é Franky, uma enfermeira de 23 anos que vive com a família em um bairro no leste de Londres. Obcecada por vingança e com a necessidade de encontrar culpados por um acidente traumático ocorrido há 15 anos, ela é incapaz de se envolver em um relacionamento com alguma profundidade. Até que se apaixona por Florence, uma de suas pacientes. As duas fogem para o litoral, onde Florence mora com a família. Lá, Franky encontrará o refúgio emocional para lidar com as questões do passado.

A saber, a atriz Vicky Knight, intérprete de Franky, venceu o Prêmio do Júri do Teddy Award do Festival de Berlim. Além disso, o longa recebeu indicação de Melhor Filme no Panorama Audience Award e foi destaque na programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São PauloParticipou, também, dos prêmios Dinard British Film Festival (vencedor como melhor filme), Tribeca Film Festival (indicado ao Best International Narrative Feature), FilmOut San Diego US, Sunny Bunny LGBTQIA+ Film Festival, entre outros.

Vicky Knight
A atriz Vicky Knight, protagonista do longa. Foto: Divulgação.

A diretora de Névoa prateada, Sacha Polak, costuma levar para filmes temas difíceis, que poderiam facilmente ser assunto de terapia. A necessidade de se sentir amada, preconceitos, dificuldade de esquecer uma situação, aceitação. No longa em questão, Sacha trata de vários assuntos, como autoaceitação e, também, dificuldade de perdoar. Porém, apesar de ter uma gama de temas, o filme não se torna cansativo ou confuso. Muito pelo contrário, o roteiro passa para o espectador muito bem todos os conflitos da protagonista.

Além disso, Franky não é apresentada de forma piegas ou clichê. Por ter sido vítima de um incêndio, a personagem tem marcas em sua pele que poderiam, em uma narrativa mais lugar comum, transformá-la em uma pessoa que se vitimiza ou que é vista como coitadinha o tempo todo pelos outros. Mas não é isso que Sacha quer passar para quem assiste. E, apesar de não ter uma vida fácil, é possível enxergar Franky para além de suas cicatrizes. Franky é uma personagem complexa, completa e muito bem desenvolvida, tanto pelo roteiro quanto por sua intérprete.

Talvez por já ter trabalhado com Sacha Polak anteriormente, Vicky Knight tem facilidade em transpor para a tela os conflitos internos de Franky sem deixá-la simples demais ou transformá-la em um mártir. Também ajuda ter passado por situações parecidas com as da personagem. O fato é que foi justo o prêmio Teddy Awards que Vicky recebeu, já que consegue trabalhar nos detalhes, algo que nem todo ator tem sucesso.

Fotografia

Apesar de ser um recurso bastante comum, não deixa de ser interessante ver o filme em cores mais frias, já que Franky não tem uma vida fácil e passa por conflitos internos durante todo o filme. Também é possível que tal característica seja por ter sido filmado na Inglaterra, onde não há mesmo muito sol. Todavia, fica claro que Sacha Polak – e também a fotografia de Tibor Dingelstad – quis expressar o interior de Vicky nas cores frias que vemos nas cenas.

Além disso, a escolha de planos abertos quando Vicky se encontra perdida em sua vida e planos mais fechados quando ela começa a se encontrar ajudam a contar a história da protagonista. E, também, de sua coadjuvante, Florence. Aliás, Esme Creed-Miles arrasa na interpretação da menina totalmente sem rumo e influenciável. Se há algo negativo nesse filme é que Florence poderia ter tido mais espaço. E também, talvez, poderia ter havido mais cenas de Franky e Alice. Vicky Knight e Angela Bruce têm uma química muito boa em tela e poderia ter sido mais explorada.

Angela e Vicky
Angela Bruce e Vicky Knight. Foto: Divulgação.

Para resumir, é um filme bastante introspectivo, bonito e reflexivo, que mostra, de forma original, o valor das pessoas que nos rodeiam. Névoa prateada estreia no dia 18 de abril nos cinemas de Brasília e São Paulo.

Por fim, fique com o trailer:

Ficha Técnica

NÉVOA PRATEADA (Silver Haze)

Holanda, Reino Unido | 2023 | 1h42min. | Drama

Direção e roteiro: Sacha Polak.

Elenco: Vicky Knight, Esme Creed-Miles, Archie Brigden, Angela Bruce, Brandon Bendell, Carrie Bunyan, Alfie Deegan, Sarah-Jane Dent.

Produção: Viking Films.

Distribuição: Bitelli Films.

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