Dirigido por Sven Bresser, Reedland é um lento thriller que almeja instigar o espectador refletir, ao invés de entregar todas as resoluções
Um campo de juncos sob o vento, nuvens em constante transformação, uma bicicleta solitária percorrendo uma estrada vazia. Reedland nasce do que o cinema de arte tem de mais puro: não o apelo comercial, mas a contemplação, em seu primeiro longa-metragem, Sven Bresser, molda a produção como um quadro em movimento, fortemente inspirado pelos pintores holandeses dos séculos XIX e XX.
A trama acompanha Johan, Gerrit Knobbe, um idoso e silencioso coletor de juncos, cuja rotina é abruptamente quebrada ao encontrar o corpo de uma jovem no pântano. As plantas parecem observar, quase conscientes, o que ocorre, testemunhando horrores sem nada poder dizer. A partir deste crime, um peso se abate sobre a pequena comunidade, especialmente sobre as jovens mulheres. A investigação, porém, permanece inerte, e pequenas insinuações colocam em dúvida a real bondade do protagonista que vive afastado do vilarejo, mantendo apenas um vínculo afetivo genuíno: sua neta
Bresser não se interessa por respostas fáceis. A tensão está nos silêncios, como na cena em que Johan oferece carona a uma jovem, e a quietude dentro do carro torna-se sufocante. O mesmo homem que ensaia falas para a peça escolar da neta pode, talvez, ser um assassino impune, nunca ficando claro e deixando o espectador decidir em que acredira. A linha entre o afeto e a crueldade se dissolve, questionando até que ponto o bem e o mal convivem disfarçados no cotidiano.

Cena de Reedland-Divulgação Oficial
Narrativamente, Reedland foge do modelo clássico. É uma experiência que beira o experimental, com longos planos de nuvens e juncos que exigem paciência, uma virtude cada vez mais rara na era das redes sociais e dos Blockbusters frenéticos. Para o público disposto a mergulhar nesse ritmo, a recompensa está em um estudo de personagem que discute o progresso versus a tradição, a solidão e o perigo de uma vida de negligência pela sociedade.
A fotografia é um espetáculo à parte, alternando entre a serenidade ampla de um horizonte e a opressão quase claustrofóbica de um matagal. O design de som oscila do reconfortante ao agônico com rapidez calculada, ampliando a sensação de desconforto. É hiper-realismo a serviço do incômodo, de forma pura e bruta.
Escolher Gerrit Knobbe, um não ator, para interpretar Johan foi uma decisão ousada. Sua presença carrega uma aspereza genuína, e suas expressões, por vezes sutis demais, traduzem a agonia, a raiva e o cansaço de um homem que vê sua vida escapar ao controle. Ainda que essa contenção contribua para a estranheza, talvez um pouco mais de variação dramática desse estoicismo tornasse a experiência mais dinâmica.
No fim, Reedland não busca respostas, mas sensações. É um filme que se observa mais do que se assiste, que se sente mais do que se entende. E, como os juncos que o cercam, permanece ali, imóvel, esperando que o espectador se aproxime o suficiente para perceber o que está escondido entre as folhas.

Cena de Reedland-Divulgação Oficial
Reedland faz parte da 2º edição do Festival Filmes Incríveis que será realizado no Reag Belas Artes, em SP. Entre os dias 31 de Julho e 14 de Agosto, o festival passará 15 filmes de diferentes países como França, Geórgia, Turquia, Vietnã, entre outros, além de um filme surpresa que somente receberá informações no dia da projeção.
As informações sobre o festival Filmes Incríveis podem ser encontradas no site oficial, com ingressos a venda a partir do dia 24 de Julho, sendo R$12 reais a meia entrada, e R$24 a inteira, além da possibilidade de se comprar um passaporte para aqueles que desejam assistir a todos os filmes deste promissor espetáculo audiovisual.
Siga-nos e confira outras dicas em @viventeandante e no nosso canal de whatsapp !



