Entrevistas
Alec Silva fala de Sertãopunk e ‘Alma Artificial’ | “É bonito falar sobre nordestino no papel, mas dar espaço é outra conversa”
Publicado
4 anos atrásem
Tive uma conversa com o escritor, editor e pesquisador de símbolos e mitos, Alec Silva. Ele está envolvido com o movimento literário do Sertãopunk e a organização da aguardada antologia ‘Alma artificial: histórias de máquinas e homens‘, que reúne diversos autores de todo o Brasil para falar de um futuro possível. Comecei questionando sobre como esse gênero da ficção científica, supostamente, não tem uma tradição no país, seja no cinema, na literatura, nos quadrinhos.
“Antes de tudo, acho bastante complexo afirmar que não temos uma tradição de ficção científica. Não é bem assim. Tivemos manifestações, sim, de teor que lembra a ficção científica mais em seus primórdios, com elementos do gótico, com elementos mais fantásticos sobre fenômenos científicos. Eu diria que a gente apenas não deu o devido valor antes, contudo aos poucos tem surgido, por meio de outras editoras, um resgate desse passado fantástico de nossa literatura”, argumentou o pesquisador.
Em seguida, Alec Silva contou um pouco sobre essa nova empreitada: “Agora, sobre os dois volumes de ‘Alma Artificial’, me envolvi no tema pelo desafio. Foi proposto, no início do ano, um calendário temático, e entre eles alguns de ficção científica, incluindo sobre inteligência artificial. É um desafio para mim, mais acostumado a escrever e ler contos de fantasia e terror, embarcar nisso. Até o momento, tem sido satisfatório, a julgar que é a única antologia da Cartola Editora este ano a pegar dois volumes, devido ao tanto de contos que recebemos, e a maioria com muita qualidade e originalidade.”
Aliás, saiba mais sobre ‘Alma Artificial’ da Cartola Editora: https://www.catarse.me/almaartificial
Sertãopunk
Alec mostra personalidade e não foge da polêmica quando questiono sobre o Sertãopunk e se foi uma resposta ao cyberagreste.
“O termo, em si, não é novidade. Mas o conceito todo que foi dado pelos criadores (G. G. Diniz, Alan de Sá e eu) busca ‘devolver’ aos nordestinos o interesse em falar de sua região. Buscamos incentivar histórias sobre o amanhã, seja daqui um ano, uma década ou mais. Temos algumas características definidas, afinal trata-se de um movimento e um gênero, mas uma vez preenchidos os requisitos (entre os quais está ser nordestino, tanto de nascença quanto de criação), o céu é o limite. E sim, é uma resposta ao falecido (risos).”
Então, fiz uma pergunta da qual já sabia a resposta, mas que achei válido ressaltar. Se estar distante do eixo sul-sudeste dificulta ou ajuda um escritor. “Dificulta. Em praticamente tudo. As oportunidades de publicação são mais escassas, o mercado que adora falar que busca representatividade olha para o Nordeste mais como um planeta estranho, com seres alienígenas. É bonito falar sobre o nordestino no papel, mas dar espaço pro nordestino é outra conversa.”, respondeu Alec. Existiria um racha crescente entre as regiões do Brasil, favorecida pelo momento político? Alec deu uma resposta corajosa.
“Talvez. Eu costumo brincar com o tema, e é uma das características do sertãopunk e eu o explorei em alguns contos, mas acho que o lado mais ofensivo seja o eixo Sul-Sudeste. Nós, do Nordeste, seguimos de boas e se tiver que separar, a gente separa, sim. Cansa carregar o país nas costas, às vezes.”
Realismo Mágico
Quando comentei que o Nordeste é estereotipado pelo eixo sul-sudeste, Alec veio com: “Bastante! É uma coisa que o sertãopunk defende: sem estereótipos, apenas o olhar do nordestino sobre sua realidade, sua região. Um nordestino que nasceu e cresceu aqui terá uma visão diferente de um que nasceu noutro estado e mora aqui há cinco anos; é algo que buscamos, é o que nos move. Não queremos sudestinos reforçando o estereótipo de que aqui é tudo seca, cangaço e cangaceiros. Por isso, o movimento é para os nordestinos, e apenas para eles, para nós.”
Apesar dessas diferenças entre as regiões, fica bem clara a vontade de Alec Silva de elevar a literatura brasileira como um todo. Trouxe para a pauta se precisamos valorizar mais a arte nacional e se somos escravos de um eurocentrismo e da cultura norte-americana. “Precisamos, sim, e muito. E somos bastante. Lembro que quando montávamos os elementos do sertãopunk, foi sugerido alguns elementos estrangeiros importados dos EUA ou Europa. Um deles foi o new weird. Eu perguntei ‘Por que não o realismo mágico?’, e agora temos isso. Assim como temos oportunidade de falar sobre nossas origens afros, e o folclore vem em cheio também, cabendo todos os aspectos possíveis. Não nego a importância da globalização, mas não devemos ser reféns disso.”, disse o escritor de “A Jornada Para Encontrar a Felicidade da Mamãe”.
Jornada e depressão
Pensando em um dos trabalhos de Alec, perguntei se a noite nordestina tem mil olhos. “E um homem é uma coisa muito pequena, como diria Lord Dunsany. A noite sempre me deu uma sensação de enigma, de coisas além do que posso ver, mas estão lá. As corujas são olhos da noite. As mariposas. Os grilos. E algo mais. ‘A noite tem mil olhos’, minha estreia do sertãopunk, é sobre esse algo mais que habita na noite.”, respondeu.
Afinal, questionei sobre o livro que lançou “Jornada para encontrar a felicidade da mamãe”:
“Uma metáfora para a depressão. Sem brincadeira, é isso. Mas no olhar de uma menininha de uns seis anos. E ela não está sozinha. Tem amigos especiais, tem o segredo poderoso que só quem ama os livros conhece’, finalizou Alec Silva, com o romantismo literário necessário.
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Jornalista especializado em Jornalismo Cultural pela UERJ.
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Entrevistas
Trilha de Letras exibe entrevista inédita com Jeferson Tenório
Autor de ‘O avesso da pele’ fala da polêmica envolvendo seu livro.
Publicado
1 mês atrásem
19 de março de 2024Por
Livia BrazilO escritor Jeferson Tenório é o convidado da edição inédita do Trilha de Letras que vai ao ar na TV Brasil nesta terça-feira (19), às 22h30. Com condução de Eliana Alves Cruz, o autor fala, na entrevista, sobre a polêmica envolvendo O Avesso da Pele (2020), censurado em escolas de três estados brasileiros.
“Foi uma surpresa pela criatividade das interpretações e, também, pela repercussão”, conta o autor. Para ele, toda a polêmica em torno da obra mostra o quanto o romance, vencedor do Prêmio Jabuti, incomoda o segmento ultra conservador da sociedade. “Acho que talvez o livro tenha sido a bola da vez. É uma obra que carrega algumas questões sensíveis como, por exemplo, a violência policial”, completa.
A censura
Após a obra ser aprovada em 2022 para integrar o Programa Nacional do Livro e do Material Didático (PNLD) – política do Ministério da Educação (MEC) que avalia e disponibiliza publicações às escolas públicas -, as secretarias de educação do Mato Grosso do Sul, de Goiás e do Paraná afirmam que o livro O Avesso da Pele apresenta “expressões impróprias” para menores de 18 anos. Em função da linguagem inadequada e da descrição de atividade sexual citadas pelos órgãos, o livro distribuído aos alunos do Ensino Médio precisaria ser reavaliado ou retirado das bibliotecas das instituições.
Ao narrar a história do personagem Pedro, que teve o pai assassinado em uma abordagem policial, Jeferson Tenório trata de temas como racismo, educação, amor aos livros e relacionamentos familiares – e revela um país marcado pelo preconceito e por um sistema educacional falido.
Professor da rede pública de ensino, o escritor fala ainda sobre sua experiência em apresentar livros diversos aos alunos; as conexões políticas entre ascensão da extrema direita no mundo e a censura; e sobre ser um escritor negro.
O autor
Carioca radicado em Porto Alegre, Jeferson Tenório estreou na literatura com o romance O beijo na parede (2013), eleito o livro do ano pela Associação Gaúcha de Escritores. É autor também de Estela sem Deus (2018), que teve textos adaptados para o teatro e contos traduzidos para o inglês e o espanhol.
A respeito do caminho para a formação intelectual e literária dos brasileiros, Tenório acredita que é preciso que a sociedade encare e resolva eventos históricos que chamou de “trágicos”: a escravidão e a ditadura. “Apenas políticas públicas podem impedir retrocessos no que já avançamos em relação ao racismo e à censura”, destaca.
O programa
O Trilha de Letras busca debater os temas mais atuais discutidos pela sociedade por meio da literatura. A cada edição, o programa recebe um convidado diferente. A atração teve idealização da jornalista Emília Ferraz, em 2016, atual diretora do programa que entrou no ar em abril de 2017. Nesta temporada, as gravações aconteceram na BiblioMaison, biblioteca do Consulado da França no Rio de Janeiro
A TV Brasil já produziu três temporadas do programa e recebeu mais de 200 convidados nacionais e estrangeiros. As duas primeiras temporadas tiveram apresentação do escritor Raphael Montes. A terceira, de Katy Navarro, jornalista da Empresa Brasil de Comunicação (EBC). A jornalista, escritora e roteirista Eliana Alves Cruz assume a quarta temporada, que também ganha uma versão na Rádio MEC.
Serviço
Trilha de Letras com Jeferson Tenório
Estreia: Terça-feira, 19 de março, às 22h30, na TV Brasil.
Reprises:
Quarta-feira, 20 de março, às 03h30, na TV Brasil.
Quarta-feira, 20 de março, às 23h, na Rádio MEC.
Sábado, 23 de março, às 18h30, na TV Brasil.
POR FIM, LEIA MAIS:
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blogdodavipaiva
7 de junho de 2020 at 05:22
Parabéns pela entrevista.
É muito boa.
Alvaro Tallarico
24 de junho de 2020 at 10:00
Gratidão, meu amigo!
Alvaro Tallarico
24 de junho de 2020 at 10:01
As respostas do Alec foram muito interessantes.
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Jose Filho
21 de junho de 2021 at 15:12
Esse Alec Silva é muito ruim. O cara produz uma quantidade imensa de lixo e sai vendeno a 1 real na amazon. Peguei alguns e quase travou meu kindle. Escrita é ruim, enredo ruim, o cara é grosso e se auto intitula o fanfarrao da internet. Péssimo dos péssimos