Cinema
Ficção Privada | Documentário argentino reflete sobre a intimidade
Publicado
3 anos atrásem
Por
Felipe Novoa
Ficção Privada. A partir da exposição da correspondência entre um casal indo-argentino, o diretor Andrés Di Tella acessa a privacidade e discute o amor e o contexto psicológico durante os anos de relacionamento. Essa invasão do espaço íntimo dos pais diretor, Kamala e Torcuato, é performada por um casal de jovens atores argentinos, que leem e interpretam várias passagens de várias cartas diferentes. A repetição e a exposição são usadas magistralmente para situar a audiência dentro desse microcosmo que foi esse casamento.
Tecnicalidades
Para começo de conversa, Ficção Privada é um filme visualmente belíssimo. As cores são vibrantes e expressivas, divididas em tons quentes e frios. Também é visto um uso incrível de contraste e sobreposição, principalmente nas cenas urbanas e internas. Cenas essas que estão sobrepostas por narrações introspectivas e impenetráveis em toda a sua argentinidade.
A montagem dos planos é feita como recortes de memórias enevoadas, fazendo uma alusão às passagens das cartas; pedaços e fragmentos indistintos e complexos, flutuando na cabeça do nosso diretor. Dolorosamente vemos Tella lutando para processar o que lhe foi deixado após a morte do pai. Seu irmão não está presente na sua vida, porém sua filha está, vemos solidão na quase total ausência da sua família. Essa jornada o leva de Buenos Aires para a Inglaterra e para a Índia, dois países onde seus pais estiveram juntos e se corresponderam. De certa forma essa peregrinação é quase mística: Tella encontra a mãe morta (um fantasma ou na carne?) em Londres, já na Índia ele visita um vidente que lhe deixa com mais questionamentos do que respostas.
Mergulho psicológico
Creio que além de ser um filme, Ficção Privada é um exorcismo, um expurgo. Através do processo de filmar, o diretor compreende a essência dos pais, das suas mortes e finalmente, do seu relacionamento. Tella digere cada palavra de cada carta assim como os dois atores ao lê-las. Posteriormente eles conversam sobre uma carta de Kamala, comentando como a atriz passou pela mesmas emoções quanto a expor suas dores de forma escrita, ao contrário de em pessoa. Essa preferência de escrever sobre seus problemas mostra medo do confronto. Esse paralelo denota a universalidade dos problemas de comunicação nos relacionamentos humanos, bem como pontua claramente uma das dúvidas do diretor, a existência (ou não) do amor entre seus pais.
Ainda mais, podemos no aprofundar na mente do Tella, focando na sua fixação por Freud e suas teorias, especificamente sobre a deificação e subsequente derrocada da figura dos pais na mente infantil. Essa é uma questão abordada quando ele fala sobre como todos nós (e aqui ele fala de si, mas generaliza para diminuir sua vergonha, dividindo esse “pecado” conosco) num dado momento nos imaginamos como crianças adotadas. Assim, a justificativa é a perda do posto régio dos pais na imaginação infantil e a sua vontade de se afastar dessas personas agora frágeis. Tella acordou um dia e notou que seus pais eram meros mortais, e sentiu nojo.
Finalmentes
Aliás, esse nojo ou vergonha é o estopim do seu processo de amadurecimento, que o leva a se afastar dos pais, o crepúsculo da infância. Assim, ao amadurecer, ele se separa dos pais e começa a notar suas falhas, sua humanidade, eles caem do pedestal onde estiveram na véspera. Dessa forma Tella acaba por procurar uma fuga dessa banalidade, imaginando uma origem mais “digna” do que ser filho de um homem comum e uma imigrante.
Em suma, Tella escreve dois dos seus outros filmes, um sobre o pai e um sobre a mãe durante esse processo de cura. Essa busca por uma aproximação após a morte dos pais é o fio condutor de um amadurecimento que talvez ainda leve muito tempo. Nosso diretor, através das cartas, acessa um passado remoto onde ele não existia e procura ressignificar a essência dos seus genitores. Ficção Privada mostra um homem procurando redenção através da auto análise e o faz com maestria.
Afinal, para ver o filme acesse o site do festival no dia 24/09 às 18h.
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Crítico/fotógrafo. Atualmente focando na graduação em jornalismo e escrevendo muito.

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Ao assistir ao documentário “TRANSO”, refleti sobre a peça de teatro “Meu Corpo Está Aqui“, Fica evidente a poderosa narrativa que ambos compartilham sobre a invisibilidade das pessoas com deficiência na sociedade. A forma como essas obras abordam as experiências íntimas e pessoais desses indivíduos é impactante e provocativa.
O documentário mergulha calorosamente na vida sexual dos atores. Dessa forma, quebra tabus e preconceitos ao mostrar que a deficiência não é um obstáculo para a vivência plena da sexualidade.
O documentário, assim como a peça de teatro, é um veículo para desafiar percepções e estimular conversas importantes sobre inclusão.
Impacto Social
Em um mundo que frequentemente marginaliza e exclui as pessoas com deficiência, é importante dar voz a esses indivíduos e celebrar sua capacidade de amar, se relacionar e sentir prazer.
Além de abordar as experiências individuais, o documentário também nos traz reflexões sobre a construção social da sexualidade e como as pessoas com deficiência são constantemente erotizadas ou dessexualizadas pelo olhar alheio.
Nas histórias compartilhadas fica evidente que existem diferentes formas de vivenciar o sexo e os relacionamentos, e que cada pessoa tem suas próprias necessidades, desejos e limitações. É importante lembrar que a diversidade também se faz presente nesse aspecto fundamental da humanidade.
Afeto
Ao enfatizar o afeto e o auto prazer, “Transo” nos leva a repensar conceitos tradicionais de sexualidade e a entender que o prazer não é exclusivo do sexo genital, mas sim uma vasta gama de sensações e experiências. Essa ampliação de perspectiva nos ajuda a enxergar além dos estereótipos estabelecidos e a celebrar a pluralidade da sexualidade humana.
O longa conta com a participação de Ana Maria Noberto, Adrieli de Alcântara, Daniel Massafera, Edvaldo Carmo de Santos, Fernando Campos, Jonas Lucena da Silva, Kollinn Benvenutti, Marcelo Vindicatto, Mona Rikumbi, Nayara Rodrigues da Silva, Nilda Martins, Siana Leão Guajajara.
Cineasta e pesquisador
Como uma pessoa sem deficiência, Messer conta que sua abordagem em relação ao tema é completamente observacional:
“O primeiro passo foi estudar o assunto e escutar os participantes antes mesmo de iniciar a gravação. No geral, percebi que muitas pessoas com as quais conversei estavam ansiosas para debater o tema”
A saber, o projeto de “Transo” começou quando o diretor produziu, em 2018, um curta sobre Mona Rikumbi, a primeira mulher negra a atuar no Theatro Municipal de São Paulo. Durante o processo deste filme, eles se tornaram amigos, e Mona, um dia, relatou da dificuldade de se encontrar motéis acessíveis na cidade.
Por fim, o o documentário está no Canal Futura e Globoplay.
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