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Literatura

Leidiane Holmedal e Lucila Eliazar Neves em entrevista exclusiva | ‘Somos muito intensas em sentir e acho que só a poesia foi capaz de traduzir essa intensidade’

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As poetas Leidiane Holmedal e Lucila Eliazar Neves nos concederam uma entrevista exclusiva sobre o livro que escreveram juntas, “As 79 Luas de Júpiter”. Nela falam, com muita sinceridade, sobre processo de escrita, inspirações e o que pretendem fazer no futuro.

No livro, as escritoras derramam emoções intensas e falam muito de amor e esperança. Mas também abordam assuntos delicados e tristes. Você pode conferir a resenha sobre “As 79 Luas de Júpiter” aqui.

Fique, a seguir, com a entrevista das autoras.

Livia Brazil: Para começar, por que decidiram publicar um livro juntas?

Leidiane Holmedal: Há alguns anos compartilhamos nossa poesia uma com a outra. Mas a ideia de publicarmos juntas veio junto com a pandemia. Eu tinha pensamentos e sentimentos demais que precisavam tomar forma de algum jeito. Comecei a escrever furiosamente e então pensei que seria legal publicar em algum lugar, então cheguei à conclusão de que um livro seria um sonho realizado, mas eu queria fazer com a Lu, porque a nossa escrita se conecta muito e ela sempre foi a primeira pessoa a ler o que escrevo.

Lucila Eliazar Neves: Leidiane e eu somos amigas há muitos anos e nos últimos começamos a trocar poemas e conversar sobre eles, ou apenas conversar e das conversas saírem poemas. Depois de quase 10 anos fazendo isso, surgiu a ideia do livro.

LB: E como foi o processo de escrita e de divisão dos poemas, estruturação do livro?

LH: Queríamos o livro com a mesma quantidade de poemas de cada uma, sem título ou assinatura. A ideia para não assinarmos os poemas foi da Lu e eu achei muito interessante.

LEN: A ideia sempre foi o diálogo e optamos por escolher os nossos poemas escritos até então. O meu processo foi um pouco diferente do da Leidiane porque ela tinha boa parte dos poemas prontos e eu tive que selecionar apenas alguns poemas que estavam prontos, e escrever mais alguns pra que desse o numero ideal de poemas. Depois disso, nós fizemos a mentoria de escrita com a escritora Fernanda Rodrigues, que foi primordial pra gente entender melhor o nosso processo e o que a gente queria passar com o livro.

LB: E o título? Qual a inspiração para a escolha dele?

LH: A escolha do título foi minha. Sou sagitariana, Júpiter é o planeta regente de sagitário. Júpiter tem, de fato, 79 Luas. Uma delas se chama Leda, apelido pelo qual minha mãe me chama desde que nasci. Leda na mitologia grega era uma deusa que foi estuprada por Zeus, que é Júpiter. Estupro é algo que aconteceu comigo na infância e adolescência. O nome As 79 Luas de Júpiter é muito de mim e da minha história. Todas as coincidências são fascinantes.

LEN: Nós duas sempre gostamos muito de astronomia e aprendi a gostar de astrologia com a Leidiane, apesar de não entender muito ainda. Os poemas da Leidiane já traziam essa temática e alguns meus também. Aí a Leidiane lançou o nome e veio a calhar.

LB: Tem algum poema preferido, que seja seu queridinho?

LH: Tenho, os poemas 41, 48, 59, 85.

LEN: Sim! Meus poemas favoritos são os 19, 46 e 47.

LB: Vocês são amigas há muitos anos. Tem algum poema que vocês escreveram pensando na outra?

LH: Sim. Ele se chama “Lucila”. É o único poema que tem nome. É o número 15.

LEN: Sim. Eu escrevi um poema pra Leidiane chamado “Leda” e ela escreveu um pra mim chamado “Lucila”.

LB: Vocês constroem imagens muito diferentes e incomuns nos poemas de vocês. De onde vêm essas referências? Das músicas que ouvem, das vivências?

LH: Vem das músicas, das vivências, dos lugares que visito, da minha imaginação. Meus pensamentos são confusos, muitos bagunçados e as minhas palavras também saem assim às vezes. E eu deixo de propósito, porque é pra não fazer sentido mesmo.

LEN: Acho que de tudo. Nós duas somos de signos de fogo. Somos muito intensas em sentir e acho que só a poesia foi capaz de traduzir essa intensidade.

LB: O livro evoca muitas sensações no leitor. Tem alguma específica que vocês gostariam de provocar?

LH: Vida. Independente de quão difícil seja o momento, quero que as pessoas sintam vontade de seguir em frente.

LEN: Acho que a intensidade de viver. Encontrar um caminho que leve a enxergar a própria humanidade com mais carinho e compaixão

LB: Leidiane mora na Noruega e Lucila em Cristais, interior de Minas Gerais. Como os lugares onde vivem influencia a escrita de vocês?

LH: Pra mim é sobre amor. As duas únicas pessoas que amei moram em Oslo. Dividir a vida e as ruas da cidade com meu marido e também com meu primeiro amor é um tanto doloroso e confortante na mesma proporção.

LEN: Influencia em tudo.  A gente é resultado de tudo o que já viveu e dos lugares já foi.

LB: Na contracapa do livro há duas letras de música e vocês também fizeram uma playlist do livro. Qual artista mais inspira vocês? E indiquem um cantor ou banda para nossos leitores.

LH: Noah Gundersen e Dermot Kennedy. Ambos são meus cantores favoritos. Noah é minha maior inspiração de escrita, honestidade e humildade. Eu me vejo nas palavras dele, é como se o que ele canta sobre si mesmo fosse sobre mim também. Eu me entendo e me percebo através das músicas dele.

Apesar de ter colocado “Ledges” na contracapa do livro e falar tanto sobre Noah, eu não sei se tô preparada para dividi-lo com o mundo. Eu tenho aquela sensação confortável de que ele é o meu porto seguro e de alguma forma me sinto enciumada com a ideia de pessoas se sentindo da mesma forma sobre ele. Rsrs. Eu não sou ciumenta. Zero ciúmes, mas tenho ciúmes de Noah Gundersen e Lewis Hamilton.

LEN: Ah, existem vários, mas nesse livro Dermot Kennedy e Luca Fogale me inspiraram demais.

LB: Aproveitando que falamos de indicações, quais escritores brasileiros vocês indicam? E quais inspiram vocês?

LH: Eu sou cria de Shakespeare, Camões e Dante. Amo Clarice Lispector e Álvarez de Azevedo. Minhas amigas Fernanda Rodrigues e Anna Carolina Ribeiro são incríveis. A Lu (Lucila) é a melhor poeta que eu conheço.

LEN: Ai, tem muitos! Clarice Lispector, Fernanda Rodrigues, Anna Carolina Ribeiro, Livia Brazil, Elizza Barreto, Cora Coralina… Nossa, muitos!

LB: Quais sãos seus objetivos na escrita? E planos futuros?

LH: Continuar a escrever. Quero publicar aqui na Noruega também.

LEN: Por enquanto não tem nada definido. Mas já tenho pensado em livro de poemas e de pequenos contos.

Se quiser conhecer mais sobre as autoras, pode conferir aqui a live de lançamento do livro. “As 79 Luas de Júpiter” está disponível no site da Editora Penalux e em diversas livrarias digitais do Brasil.

Ademais, veja mais:

Resenha | As 79 Luas de Júpiter

Entrevista com Anna Carolina Ribeiro | “Me sinto quase uma médium anotando as coisas e traduzindo ideias em palavras”

Dia Nobre em entrevista exclusiva | “Todo momento banal carrega uma potencial calamidade, na vida e na literatura”

Escritora, autora dos livros Queria tanto, Coisas não ditas e O semitom das coisas, amante de cinema e de gatos (cachorros também, e também ratos, e todos os animais, na verdade), viciada em café.

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Literatura

‘Princesa Violeta’ | Resenha por Paty Lopes

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Princesa Violeta.

Penso que essa leitura tem muito a dizer sobre o futuro das mulheres em nossa sociedade, principalmente diante do que estamos atravessando em todo o território brasileiro. Temos que lembrar que essa mulher que sofre violência hoje, um dia foi uma menina. O mesmo pode-se dizer do homem agressor. Ele também um dia foi um menino. Pergunto, portanto: qual foi a base educacional deles? O que leram? Qual o caminho que os orientaram a seguir um dia?

Embora tenhamos um livro com uma protagonista princesa, a leitura também educa o menino a respeitar os sentimentos de uma mulher. O que deveria acontecer quando uma mulher, por exemplo, resolve romper uma relação, seja esse o motivo que for? Assim, todavia, fica livre para viver a vida dela, o que sabemos que muitas vezes não acontece.

Diversidade

Veralinda Menezes é a autora do livro. Como mãe, traz aos leitores mirins a primeira princesa negra da literatura brasileira e o primeiro conto de fadas com personagens negros. Além disso, os descreve com delicadeza. Quando sua filha não pode ser princesa em uma brincadeira, devido ao seu tom de pele bombom, a autora percebeu a importância dessa comunicação. Assim, o livro chegou em 2008, e volta após 16 anos com uma edição especial, o que merece ser comemorado.

Interessante é como a autora trouxe a miscigenação brasileira, trazendo tons de pele ligados a doce de leite e chocolate, doces que crianças adoram.

Enredo

Um belo conto de fadas de muita ação, cujo protagonismo está na força da figura feminina e o toque de encantamento está na mistura de seres humanos, seres mágicos, reis, rainhas, fadas, guerreiros e piratas, heróis e heroínas que se juntam na luta do bem contra o mal.

Uma princesa guerreira à frente de um exército é revolucionário. Coloca, assim, as mulheres no imaginário coletivo desde a infância, em um espaço de poder que influencia a sociedade e suas futuras relações familiares, sociais e econômicas.

Focado na diversidade e no resgate de valores, também ensina o cuidado e o respeito à natureza e aos mais velhos. A inovação estética com personagens protagonistas negros, representando a maioria da população de um país nem tão distante, é um grande diferencial. Ele fica por conta do traço naturalista do talentoso ilustrador gaúcho Rogério M. Cardoso. Criado para ser um clássico da literatura, Princesa Violeta, em suas versões em prosa e em poema, encanta as crianças de todas as cores e de todas as idades do Brasil, na literatura, no teatro e na música.

O livro apresenta músicas da autora que também colam no ouvido, o velho chicletinho.

Por que ler o livro para uma criança?

Vivemos em um país de forte patriarcado. O machismo ainda permeia no seio da sociedade. Portanto, educar é necessário. Tentar romper essa cultura deve ser uma luta de todos. No livro, a princesa escuta que o pai dela queria um filho homem. Depois, um dos súditos, um dos chefes da guarda real entende que a princesa Violeta deveria se casar com ele, por ter a ensinado a lutar. São situações na contramão dos dias atuais, onde nós, mulheres, fazemos nossas opções, como a princesa do livro fez, no entanto, ainda pagamos um preço alto por nosso posicionamento.

Observei também que no livro não há questões raciais em pauta, apenas protagonistas negros. Inclusive, há príncipes de pele alva que tentam casar-se com a princesa, assim como antagonista negro também. A vida é mesmo assim, está tudo ilustrado através dos desenhos coloridos.

Conclusão

Levar crianças negras a entenderem que podem ser princesas e fadas é um bom trabalho de autoestima e merece ser exercitado todo o tempo.  Não é mais possível aceitar somente a história da Cinderela da Disney – embora eu adore. Contudo. confesso que fiquei mais animada quando chegou a  Pocahontas, pois esse desenho falava muito mais sobre mim.

Observei que a leitura tem mais de um desdobramento, o que penso ser bem diferente. Geralmente, o conflito é um só, mas Veralinda, como mulher, sabe que as nossas lutas são diversas.

Longe da bipolarização hierarquizante em preto e branco, como disse o professor Kabenguele Munanga, antropólogo, a autora entende mesmo do Brasil atual. Seguiu, paralela às estúpidas verdades adultas, a realidade da vida por meio de uma linguagem infantil apropriada, cheias de fadas e mágicas!

Ficha Técnica

PRINCESA VIOLETA

Autora: Veralinda Menezes
Editora: Editora Príncipes Negros
Preço: R$ 24,46
Onde encontrar: Amazon

POR FIM, LEIA MAIS:

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