Cinema
Sussurros do Coração | Crítica
Publicado
4 anos atrásem
Por
Felipe NovoaNos últimos meses a gigante do streaming Netflix disponibilizou o catálogo de filmes do lendário Estúdio Ghibli para o mundo assistir. A fama do estúdio é normalmente associada a magnum opus do diretor Hayao Miyazaki, A Viagem de Chihiro de 2001; mas desde 1984 eles vem lançando vez após outra filmes magníficos de animação que inexplicavelmente passaram direto pelos radares da grande maioria dos espectadores. Hoje quero falar sobre o magnífico Sussurros do Coração (Whisper of the Heart , 1995) do diretor Yoshifumi Kondō.
Sussurros do Coração segue uma linha menos fantasiosa do que a maior parte das outras animações do Estúdio Ghibli mas definitivamente não é menos emocionante. A história se baseia na vida da jovem Shizuku Tsukishima enquanto ela termina o ensino fundamental e luta com suas emoções para encontrar sua razão de existir. Existe um subplot das suas amizades e amores no colégio que lentamente se embrenha e entrelaça com a história principal criando um final relaxante.
Simples e meditativa
O longa é uma experiência diferente do que as audiências ocidentais estão acostumadas. De um lado temos as produções hollywoodianas super produzidas e lançadas aos borbotões, do outro, encontramos uma história deliberadamente simples e meditativa que leva o espectador para dentro da história. Podemos observar um cuidado extremo, não só com a ambientação e animação, mas também com a caracterização dos personagens, seus trejeitos e idiossincrasias.
A narrativa mais intimista e pessoal que o filme adota é a forma mais eficiente de criar uma aura de calma e domesticidade que quase nenhuma outra obra de arte, salvo algumas pinturas de Monet ou Pissarro, é capaz de criar. Esse estilo narrativo contemplativo pode vir de tradições zen budistas ou do fato que a sociedade japonesa é fundamentalmente diferente da ocidental e suas ansiedades, mas seja o que for, essa diferença é responsável por um filme memorável.
Detalhista
A atenção aos detalhes que os animadores e a direção tiveram é absurda. Cada frame tem um background impecável, me fazendo prestar atenção nas lombadas dos livros, na louça sobre a pia e em qualquer outro objeto visível. A cena no antiquário é um deleite sublime que genuinamente tira o fôlego e leva a um estado de torpor que eu consideraria quase religioso. A maneira como Shizuku segura a saia quando senta no chão para que ninguém veja a sua roupa íntima é tão intuitiva e natural que foge completamente a percepção de quem assiste; um detalhe tão mínimo, mas tão meticuloso é impossível de ignorar ao mesmo tempo que passa despercebido. O amor da produção pela sua obra é tornado visível em cada cenário, cada movimento, cada objeto inserido da forma mais natural nessa Tóquio de tinta e acetato.
É possível dizer que esse é um dos melhores filmes já lançados pelo Estúdio Ghibli, mesmo que seja ofuscado por obras de fantasia. Nesses momentos de quarentena e incerteza é difícil manter a cabeça relaxada, mas Sussurros do Coração ajuda com isso. O longa nos transporta a uma outra realidade onde nossos problemas são mais triviais e podem ser resolvidos com pouco esforço. Sente, assista e tire a cabeça dos seu problemas com essa obra magnífica e pouco explorada.
Afinal, veja o trailer:
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Crítico/fotógrafo. Atualmente focando na graduação em jornalismo e escrevendo muito.
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Cinema
‘Névoa prateada’, de Sacha Polak, é filme para refletir | Crítica
O longa estreia no dia 18 de abril nos cinemas de Brasília e São Paulo.
Publicado
10 horas atrásem
18 de abril de 2024Por
Livia BrazilNévoa prateada é um filme arrebatador que, com certeza, não vai passar incólume. O longa propicia emoções intensas, sejam elas positivas ou negativas. Fato que muitos não irão gostar. Alguns podem considerá-lo extremo demais, pesado demais. Os espectadores acostumados a tratar o cinema somente como forma de entretenimento e diversão provavelmente não irão gostar, já que é um filme que propõe análise e questionamentos. E que retrata uma realidade comum em alguns lugares da Inglaterra – e também de outros locais. Contudo, para quem gosta de assistir filmes que criticam a sociedade e comportamentos é um prato cheio. E para quem pretende aprender com o audiovisual também.
Mas sobre o que fala Névoa prateada?
A protagonista do filme é Franky, uma enfermeira de 23 anos que vive com a família em um bairro no leste de Londres. Obcecada por vingança e com a necessidade de encontrar culpados por um acidente traumático ocorrido há 15 anos, ela é incapaz de se envolver em um relacionamento com alguma profundidade. Até que se apaixona por Florence, uma de suas pacientes. As duas fogem para o litoral, onde Florence mora com a família. Lá, Franky encontrará o refúgio emocional para lidar com as questões do passado.
A saber, a atriz Vicky Knight, intérprete de Franky, venceu o Prêmio do Júri do Teddy Award do Festival de Berlim. Além disso, o longa recebeu indicação de Melhor Filme no Panorama Audience Award e foi destaque na programação da 47ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo. Participou, também, dos prêmios Dinard British Film Festival (vencedor como melhor filme), Tribeca Film Festival (indicado ao Best International Narrative Feature), FilmOut San Diego US, Sunny Bunny LGBTQIA+ Film Festival, entre outros.
A diretora de Névoa prateada, Sacha Polak, costuma levar para filmes temas difíceis, que poderiam facilmente ser assunto de terapia. A necessidade de se sentir amada, preconceitos, dificuldade de esquecer uma situação, aceitação. No longa em questão, Sacha trata de vários assuntos, como autoaceitação e, também, dificuldade de perdoar. Porém, apesar de ter uma gama de temas, o filme não se torna cansativo ou confuso. Muito pelo contrário, o roteiro passa para o espectador muito bem todos os conflitos da protagonista.
Além disso, Franky não é apresentada de forma piegas ou clichê. Por ter sido vítima de um incêndio, a personagem tem marcas em sua pele que poderiam, em uma narrativa mais lugar comum, transformá-la em uma pessoa que se vitimiza ou que é vista como coitadinha o tempo todo pelos outros. Mas não é isso que Sacha quer passar para quem assiste. E, apesar de não ter uma vida fácil, é possível enxergar Franky para além de suas cicatrizes. Franky é uma personagem complexa, completa e muito bem desenvolvida, tanto pelo roteiro quanto por sua intérprete.
Talvez por já ter trabalhado com Sacha Polak anteriormente, Vicky Knight tem facilidade em transpor para a tela os conflitos internos de Franky sem deixá-la simples demais ou transformá-la em um mártir. Também ajuda ter passado por situações parecidas com as da personagem. O fato é que foi justo o prêmio Teddy Awards que Vicky recebeu, já que consegue trabalhar nos detalhes, algo que nem todo ator tem sucesso.
Fotografia
Apesar de ser um recurso bastante comum, não deixa de ser interessante ver o filme em cores mais frias, já que Franky não tem uma vida fácil e passa por conflitos internos durante todo o filme. Também é possível que tal característica seja por ter sido filmado na Inglaterra, onde não há mesmo muito sol. Todavia, fica claro que Sacha Polak – e também a fotografia de Tibor Dingelstad – quis expressar o interior de Vicky nas cores frias que vemos nas cenas.
Além disso, a escolha de planos abertos quando Vicky se encontra perdida em sua vida e planos mais fechados quando ela começa a se encontrar ajudam a contar a história da protagonista. E, também, de sua coadjuvante, Florence. Aliás, Esme Creed-Miles arrasa na interpretação da menina totalmente sem rumo e influenciável. Se há algo negativo nesse filme é que Florence poderia ter tido mais espaço. E também, talvez, poderia ter havido mais cenas de Franky e Alice. Vicky Knight e Angela Bruce têm uma química muito boa em tela e poderia ter sido mais explorada.
Para resumir, é um filme bastante introspectivo, bonito e reflexivo, que mostra, de forma original, o valor das pessoas que nos rodeiam. Névoa prateada estreia no dia 18 de abril nos cinemas de Brasília e São Paulo.
Por fim, fique com o trailer:
Ficha Técnica
NÉVOA PRATEADA (Silver Haze)
Holanda, Reino Unido | 2023 | 1h42min. | Drama
Direção e roteiro: Sacha Polak.
Elenco: Vicky Knight, Esme Creed-Miles, Archie Brigden, Angela Bruce, Brandon Bendell, Carrie Bunyan, Alfie Deegan, Sarah-Jane Dent.
Produção: Viking Films.
Distribuição: Bitelli Films.
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