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Literatura

Dois Passos e Um Café | Poesia de Kelly Lima

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Poesia e mar.
Poesia…

Da vida que se inicia todos os dias, os passos são a esperança.

O tato arenoso trazia o conforto no solo fofo, as pegadas iam ficando para trás sem ressentimentos por serem esquecidas. O vento trazia gotículas salgadas e o perfume no ar era familiar, o cheiro lhe encontrava onde estivesse. Perto ou longe. O suave barulho de espumas ao vento, uma brisa gelada e mais passos a caminho de destino específico.

Ali, de frente para ele, a serenidade invadiu e a paz se prontificou. Na mão direita carregava uma xícara de café quente, lentamente se sentou em posição de lótus na areia nua. As primeiras horas do domingo traziam um assento gelado e o frescor de temperaturas baixas de outono tocavam a pele do rosto recém desperto.

Vivacidade

A cada inspirar uma dose de vivacidade necessária para alimentar a si, os pés descalços na areia úmida, a maresia assentando no corpo, os fios de cabelo, desprendidos do coque, em liberdade tremulavam na nuca descoberta e a calmaria era quase palpável.

O céu com seu tom de azul claro muito mais quinze para as seis da tarde do que oito da manhã dizia tantas coisas e também não dizia nada. Os coqueiros atrás de si assobiavam fraco junto aos pássaros que voavam num horizonte muito perto. Um gole no líquido preto, o calor da bebida, fechar os olhos e sorrir.

No segundo silencioso, sem fazer alarde, uma pequena onda lhe tocou a pele descoberta. Tão perto do mar mas distante no pensar. O susto fez rir, gargalhou de olhos fechados com a sensação de além-mar. E assim ficou, contemplando a imensidão dos tons de azul que lhe rodeavam, dando afeto a companhia natureza que lhe era amiga.
E assim sorria para o dia.

* Crônica da série “Noutro tempo, memórias”, uma coletânea sobre experiências felizes para serem revividas e compartilhadas em tempos de isolamento social. A poesia foi postada primeiramente no Medium de Kelly Lima.

@particulas_rotineiras

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Literatura

‘Princesa Violeta’ | Resenha por Paty Lopes

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Princesa Violeta.

Penso que essa leitura tem muito a dizer sobre o futuro das mulheres em nossa sociedade, principalmente diante do que estamos atravessando em todo o território brasileiro. Temos que lembrar que essa mulher que sofre violência hoje, um dia foi uma menina. O mesmo pode-se dizer do homem agressor. Ele também um dia foi um menino. Pergunto, portanto: qual foi a base educacional deles? O que leram? Qual o caminho que os orientaram a seguir um dia?

Embora tenhamos um livro com uma protagonista princesa, a leitura também educa o menino a respeitar os sentimentos de uma mulher. O que deveria acontecer quando uma mulher, por exemplo, resolve romper uma relação, seja esse o motivo que for? Assim, todavia, fica livre para viver a vida dela, o que sabemos que muitas vezes não acontece.

Diversidade

Veralinda Menezes é a autora do livro. Como mãe, traz aos leitores mirins a primeira princesa negra da literatura brasileira e o primeiro conto de fadas com personagens negros. Além disso, os descreve com delicadeza. Quando sua filha não pode ser princesa em uma brincadeira, devido ao seu tom de pele bombom, a autora percebeu a importância dessa comunicação. Assim, o livro chegou em 2008, e volta após 16 anos com uma edição especial, o que merece ser comemorado.

Interessante é como a autora trouxe a miscigenação brasileira, trazendo tons de pele ligados a doce de leite e chocolate, doces que crianças adoram.

Enredo

Um belo conto de fadas de muita ação, cujo protagonismo está na força da figura feminina e o toque de encantamento está na mistura de seres humanos, seres mágicos, reis, rainhas, fadas, guerreiros e piratas, heróis e heroínas que se juntam na luta do bem contra o mal.

Uma princesa guerreira à frente de um exército é revolucionário. Coloca, assim, as mulheres no imaginário coletivo desde a infância, em um espaço de poder que influencia a sociedade e suas futuras relações familiares, sociais e econômicas.

Focado na diversidade e no resgate de valores, também ensina o cuidado e o respeito à natureza e aos mais velhos. A inovação estética com personagens protagonistas negros, representando a maioria da população de um país nem tão distante, é um grande diferencial. Ele fica por conta do traço naturalista do talentoso ilustrador gaúcho Rogério M. Cardoso. Criado para ser um clássico da literatura, Princesa Violeta, em suas versões em prosa e em poema, encanta as crianças de todas as cores e de todas as idades do Brasil, na literatura, no teatro e na música.

O livro apresenta músicas da autora que também colam no ouvido, o velho chicletinho.

Por que ler o livro para uma criança?

Vivemos em um país de forte patriarcado. O machismo ainda permeia no seio da sociedade. Portanto, educar é necessário. Tentar romper essa cultura deve ser uma luta de todos. No livro, a princesa escuta que o pai dela queria um filho homem. Depois, um dos súditos, um dos chefes da guarda real entende que a princesa Violeta deveria se casar com ele, por ter a ensinado a lutar. São situações na contramão dos dias atuais, onde nós, mulheres, fazemos nossas opções, como a princesa do livro fez, no entanto, ainda pagamos um preço alto por nosso posicionamento.

Observei também que no livro não há questões raciais em pauta, apenas protagonistas negros. Inclusive, há príncipes de pele alva que tentam casar-se com a princesa, assim como antagonista negro também. A vida é mesmo assim, está tudo ilustrado através dos desenhos coloridos.

Conclusão

Levar crianças negras a entenderem que podem ser princesas e fadas é um bom trabalho de autoestima e merece ser exercitado todo o tempo.  Não é mais possível aceitar somente a história da Cinderela da Disney – embora eu adore. Contudo. confesso que fiquei mais animada quando chegou a  Pocahontas, pois esse desenho falava muito mais sobre mim.

Observei que a leitura tem mais de um desdobramento, o que penso ser bem diferente. Geralmente, o conflito é um só, mas Veralinda, como mulher, sabe que as nossas lutas são diversas.

Longe da bipolarização hierarquizante em preto e branco, como disse o professor Kabenguele Munanga, antropólogo, a autora entende mesmo do Brasil atual. Seguiu, paralela às estúpidas verdades adultas, a realidade da vida por meio de uma linguagem infantil apropriada, cheias de fadas e mágicas!

Ficha Técnica

PRINCESA VIOLETA

Autora: Veralinda Menezes
Editora: Editora Príncipes Negros
Preço: R$ 24,46
Onde encontrar: Amazon

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