“O Lugar mais seguro do mundo”. Se lar é onde o coração está, seria seguro dizer que os moradores da finada Bento Rodrigues estão sem teto graças aos corações partidos?
A história recente nos lembra que Bento Rodrigues e Mariana foram engolidos por tsunamis de lama e detritos. Culpa da Samarco. Culpa do “homem”, a sociedade agressiva e gananciosa da qual devemos nos prevenir ou seremos literalmente soterrados pelos seus caprichos.
Já conhecemos a história e a forma como a dor daqueles que estiveram no ponto zero foi consumida e cuspida pela vênus do marketing. O grande diferencial de “O Lugar Mais Seguro do Mundo” é que ele transforma a tragédia em algo… pessoal.
Marlon e eu
O filme nos apresenta Marlon, um dos sobreviventes da tragédia, e suas tentativas de seguir em frente. Preso entre o que foi e o que pode vir a ser, ele nos leva por um tour pelos escombros de Bento Rodrigues, uma cidade destruída pela busca por pedras preciosas.
Marlon nos convida a ver o lado humano de algo que fingimos ter esquecido. Sentimos a dor dos desabrigados ao ver suas casas tomadas pela lama ou reivindicadas pela natureza. Ao longo do documentário descobrimos que há certa resistência em aceitar as novas casas, até porque elas foram colocadas num lugar conveniente para a empresa, que continuará alterando a geografia local em busca de riquezas.
“O Lugar mais seguro do mundo” é um soco no estômago. O filme nos lembra que, ainda que o lugar mais seguro do mundo é aquele que queremos estar, aquele cantinho feliz em nossa memória, onde nos apegamos a dias melhores e a certezas que não existem mais.
Estamos tão seguros de nossas certezas que não nos preparamos para o infortúnio.
Afinal, o longa faz parte da MOSTRA CINEMA, MINERAÇÃO E MEIO AMBIENTE, que pretende discutir a partir da produção cinematográfica recente um dos temas mais urgente do presente, os malefícios da mineração para o meio ambiente e as pessoas. Contando com longas inéditos e debates, o evento gratuito começa nesta quarta (26) e vai até 29 de julho, no espaço Nave (R. José Bento, 106 – Cambuci), e é promovido pelo O Instituto Camila e Luiz Taliberti.