Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista é um espetáculo com bela estética e um show de iluminação de Ricardo Fujii com distintas camadas. Fala sobre a vida de Mercedes Baptista, que foi uma pioneira da dança afro-brasileira e a primeira bailarina negra a integrar o Theatro Municipal do Rio de Janeiro.
Nascida em 1921, no interior do estado do Rio, ela enfrentou o racismo estrutural e transformou sua arte em uma poderosa forma de resistência e valorização da cultura afro-brasileira. Mesclando técnicas clássicas com expressões da cultura negra, Mercedes criou um estilo único que influenciou a dança brasileira e abriu caminho para futuras gerações de artistas negros. Sua trajetória simboliza luta, arte e a força da ancestralidade.
A peça mistura a vida de Mercedes com a de Ivanna Cruz, atriz principal da peça. É uma das graças do espetáculo. O texto de Ivanna Cruz, Luiz Antônio Rocha e Pedro Sá Moraes se sobressai perante as falhas que surgem. A história mescla traumas da jornada de Ivanna, alguns bem dolorosos e emocionantes, com referências pontuais como a Abdias do Nascimento em situação derradeira da vida de Mercedes. Há trechos inspirados e inspiradores. É possível se emocionar, ainda mais aqueles que entendem melhor muito do que é colocado ali.
Além disso, os músicos entregam boas canções apesar de Ivanna Cruz ser mais dançarina do que cantora. Mercedes Baptista e Ivanna são duas artistas pretas da dança que nasceram na mesma Campos dos Goytacazes, cidade do interior do Estado do Rio de Janeiro.
Mão na barra
O espetáculo Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista ainda carece de maior lapidação, mas pode evoluir e consegue fornecer diversas boas cenas e sacadas como Mercedes Baptista no cinema e a homenagem ao cinema mudo, bem como a divertida sequência no rádio e a linda mala que vira um pequeno cenário, lúdico. Vale ressaltar também os figurinos cuja equipe conta com Nilton Souza como aderecista, Marcos Vieira na confecção do figurino “raízes”, Aline Nogueira responsável pelo tingimento e Maria Madalena de Oliveira como costureira. Há cenas onde eles são as estrelas, sem dúvidas.
A peça pode ficar mais enxuta e eficiente com o passar do tempo e os ajustes corretos, pois há força ali, não somente na história de Mercedes, mas na genuinidade de Ivanna. Mesmo que ela nem sempre consiga entregar as nuances necessárias para a grandiosidade de Mercedes Baptista – convenhamos, uma missão árdua que requer experiência – quando ela fala sobre si, a emoção é verdadeira e soca o estômago.
Pé no terreiro
Infelizmente o final não é tão apoteótico quanto deveria ser. Há cenas anteriores que fechariam melhor o espetáculo, no alto. Percebe-se também claramente alguns vacilos nas transições, entradas e saídas. Contudo, os detalhes de cenário invocam coisas boas como a simbologia no chão onde Ivanna dança e há criatividade no uso do figurino e dos adereços.
A estreia de Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista, espetáculo eficientemente antirracista, foi magicamente no dia 20 de novembro, celebrando o Dia da Consciência Negra, no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, Tijuca, onde acontecem apenas 5 apresentações, seguindo para o Instituto Pretos Novos, na região da Pequena África, de 27 a 29 de novembro, às 15h. Posteriormente, a cidade de Itaocara, município do noroeste do estado, também recebe apresentações do espetáculo, nos dias 02 e 03 de dezembro.
Serviço – Mão na barra, pé no terreiro, a vida e a dança de Mercedes Baptista
Classificação: Livre
Duração: 80 minutos
Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro de 20 a 23 de novembro – às 19h e 24 de novembro – às 18h
Rua José Higino, 115 – Tijuca
Lotação: 150 lugares
ENTRADA GRATUITA: Retirada de ingressos no site do Rio Cultura
Instituto Pretos Novos de 27 a 29 de novembro – às 15h.
Rua Pedro Ernesto – 32 – 43 – Gamboa
Lotação: 60 lugares
ENTRADA GRATUITA: Retirada de ingressos no site do Sympla
Rede Cine + Itaocara
Rua Coronel Roque Teixeira Alves, 83, Itaocara – dias 02 e 03 de dezembro- às 19h
Lotação: 65 lugares
ENTRADA GRATUITA: Retirada de ingressos no site do Sympla