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Dwayne “The Rock” Johnson em cena Coração de Lutador- Divulgação Diamond Films
Cinema e StreamingCrítica

Crítica: ‘Coração de Lutador’ retrata a dor do silêncio após os aplausos

Por
André Quental Sanchez
Última Atualização 27 de setembro de 2025
7 Min Leitura
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Dwayne “The Rock” Johnson em cena Coração de Lutador- Divulgação Diamond Films
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Dirigido por Benny Safdie, Coração de Lutador prioriza batalhas internas do que as externas, como deveria ser

Entre tantas questões que Coração de Lutador aborda, talvez a maior delas seja: “O que resta quando os aplausos se encerram? Muito mais do que um retrato do mundo da UFC, a cinebiografia de Mark Kerr não se contenta em narrar vitórias esportivas ou momentos gloriosos dentro do ringue, optando outro caminho: investigar o vazio que acompanha o sucesso, a dor íntima que persiste quando o público já se dispersou, e como afetamos todos ao nosso redor na medida que lidamos com isto.

A escolha de Dwayne “The Rock” Johnson para o papel pode soar óbvia à primeira vista. Seu corpo, sua experiência prévia como lutador, sua familiaridade com o espetáculo, tudo parecia já estar ali. Mas Safdie aposta em algo mais profundo: usar a imagem consolidada de Johnson como estrela de ação repetitiva para assim tensioná-la até o limite. O ator que, por anos, representou a força inabalável, apresentando uma cláusula em seu contrato que não pode perder uma luta, surge agora quebrado, frágil, dilacerado pela incapacidade de sustentar a própria imagem. Nesse sentido, sua atuação ultrapassa o realismo: é quase uma metáfora da luta de uma celebridade contra o estigma da própria persona.

Dwayne “The Rock” Johnson e Emily Blunt em cena Coração de Lutador- Divulgação Diamond Films

Dwayne “The Rock” Johnson e Emily Blunt em cena Coração de Lutador- Divulgação Diamond Films

Emily Blunt, contracena com intensidade semelhante. Sua personagem, marcada pelo medo de abandono e pelos próprios vícios, não é apenas a parceira romântica de Kerr, mas também um reflexo das suas falhas. Se ele busca grandeza no ringue para escapar da solidão, ela enxerga na relação uma dependência sufocante, transformando o amor em cuidado compulsivo. O casal, assim, vive entre a paixão e o desgaste, entre a necessidade de apoio e a impossibilidade de oferecê-lo, sem ninguém estar certo neste embate constante.

Por meio de uma filmagem em 16mm, Coração de Lutador apresenta uma textura granulada que auxilia neste conflito interno do protagonista, remetendo mais a uma memória imperfeita do que a uma reconstituição limpa. A steady-cam, constantemente colada aos corpos, cria um desconforto físico no espectador, como se estivéssemos dentro da luta, e também dentro das crises pessoais de Kerr, auxiliado por uma leve tremedeira em diversos momentos. O resultado é uma estética de instabilidade, que traduz em imagem a insegurança emocional do protagonista.

Apesar de conter cenas de luta bem coreografadas, Coração de Lutador não foca no espetáculo físico. Safdie parece consciente de que a violência esportiva por si só não sustentaria o arco narrativo, assim, torna a luta interna o verdadeiro ringue de Kerr: o confronto contra a depressão, o vício em narcóticos e a busca incessante por um sentido que vá além do próximo combate. Ao deixar de lado a tentação de mostrar detalhadamente processos de internação ou recaídas explícitas, o diretor opta por sugerir mais do que exibir, frustrando quem espera um retrato cru do vício, mas também amplia o espaço de reflexão, e a força no silêncio e ausências, que falam tanto quanto as quedas visíveis.

Dwayne “The Rock” Johnson e Emily Blunt em cena Coração de Lutador- Divulgação Diamond Films

Nesse aspecto, a trilha sonora se torna fundamental. O uso de My Way como canção de treinamento, não soa como uma afirmação de independência, mas como uma ironia amarga. Kerr quer viver “à sua maneira”, mas descobre que sua maneira o conduz à ruína, sendo o último plano em que observamos o próprio Mark Kerr vivendo uma vida comum, inverte a lógica habitual das cinebiografias esportivas: não é a vitória que importa, mas a aceitação de que é possível viver sem a glória.

Na última edição do festival de Veneza, Coração de Lutador foi aplaudido por 15 minutos, emocionando Emily Blunt e principalmente Dwayne “The Rock” Johnson, um homem que agora sentiu o gosto de executar um bom papel dramático e ser aclamado por isso, podendo inclusive concorrer a um Oscar, porém, agora todos ficamos curiosos se ele continuará por este caminho, ou retornará aos filmes que se sente tão confortável em fazer.

Coração de Lutador não retrata a vida de um herói, e sim de um homem comum que por alguns anos carregou o peso de ser mais do que humano. Ao focar em apenas quatro anos de sua vida, o diretor evita a armadilha de retratar “tudo” e concentra-se no período essencial em que Kerr precisou reconhecer sua vulnerabilidade, e mais do que isso, sua humanidade, levando a produção ao status de ensaio sobre a relação entre fama, corpo e identidade, comentando o abismo que tantas celebridades enfrentam ao perder o palco. Ao final, fica a sensação de que a maior batalha não foi vencida diante de milhares de pessoas, mas em silêncio contra si mesmo.

Distribuído pela Diamond Films, Coração de Lutador estreia nos cinemas no dia 02 de Outubro.

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Tags:cinebiografiaCinemacríticadiamond filmsEmily BluntThe Rock
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