O documentário Libelu – Abaixo a Ditadura fala sobre o movimento estudantil homônimo que nasceu em meados da década de 70 e que revelou o lado político da USP. A princípio, o longa é montado no entorno de entrevistas com ex-integrantes e imagens de arquivo. Estranhamente, o filme parece ter um ethos que à princípio diz: “olha que fofo, os revolucionários hoje no topo do establishment. Entretanto, ao longo do filme isso chega a ser discutido sem que ninguém diga mea culpa, mesmo assim alguns dedos são apontados.
Uma das ex-integrantes afirma que o Libelu foi o pontapé inicial em toda a mobilização social que levou até a redemocratização. De acordo com vários dos relatos, essa é uma verdade curiosa. Um bando de jovens estudantes conseguiu criar e popularizar a resistência contra a ditadura. Libelu – Abaixo a Ditadura parece querer demonstrar quão inspirador o poder que um grupo de jovens idealistas pode ser.
Do mesmo modo, o filme apresenta vários dos ex-integrantes (incluindo alguns rostos conhecidos) que contam histórias que vão das eleições do DCE da USP até ocupar o Viaduto do Chá e além.
Autocrítica
Felizmente, Libelu – Abaixo a Ditadura não é apenas mais uma história de jovens que envelhecem e se unem sistema. Existe uma autocrítica muito bem colocada que cutuca onde é mais inoportuno. Esses trotskistas-socialistas se tornaram editores na Globo, editores na Veja, jornalistas internacionais, editores de jornal do PT, comentaristas de direita, médicos, escritores e até um Ministro da Fazenda (Antonio Palocci). O documentário apresenta um comentário coletivo sobre seu atual não-envolvimento (salvo alguns ex-membros que ainda são ativistas) é o que faltava para amarrar a narrativa que estava pendendo para um lado deslumbrado com os “traidores”.
Do mesmo modo, o diretor Diógenes Muniz, mesmo sendo envolvido com a grande mídia fluminense não deixa de criticar (na encolha) a grande mídia paulista. Por todo o longa paira um ar de desacordo com a passividade e opiniões nas imagens de arquivo, jornais e revistas. Até com os próprios entrevistados que passaram para o outro lado existe uma mínima agressividade latente da parte da montagem.
Em conclusão, Libelu – Abaixo a Ditadura é um documentário muito interessante que além de divertir, mostra a história do começo da redemocratização. Um processo longo, doloroso, violento e complexo até a saída dos militares do poder.
Por fim, o filme ganha exibição no Festival É Tudo Verdade nos dias 30 de setembro de 2020 e 1 de outubro de 2020.
Afinal, veja o trailer:
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