O clássico de Arthur Miller
Na última sexta-feira, fui ao Teatro Casa Grande assistir à montagem de “As Bruxas de Salém”, peça escrita por Arthur Miller em 1953. O texto revisita os julgamentos de bruxaria de 1692, em Salém, nos Estados Unidos, mas é também uma metáfora poderosa ao Macartismo, período em que intelectuais e artistas foram perseguidos sob acusação de comunismo.
Mais de setenta anos depois, percebi como a obra continua atual e necessária, porque fala sobre medo, intolerância, manipulação e como tudo isso pode se transformar em injustiça coletiva.
A história da peça
A trama começa quando o Reverendo Páris (Carmo Dalla Vecchia) descobre um grupo de jovens, lideradas por Abigail Williams (Elisa Pinheiro), dançando na floresta. A partir daí, rumores de bruxaria se espalham e a comunidade mergulha em pânico. Um tribunal é instaurado e o fazendeiro John Proctor (Marcel Giubilei) precisa enfrentar a Corte Suprema, representada por Vannessa Gerbelli, para defender sua família e sua honra.
Direção e encenação
O espetáculo, dirigido por Renato Carrera, traz um ritmo forte, que não deixa a plateia respirar. Além da intensidade das atuações, a peça conta com música ao vivo, composta e tocada por Gustavo Benjão, que dá ainda mais emoção a cada cena. As projeções em tempo real usadas na encenação também criam momentos visuais interessantes, que ampliam o impacto da narrativa.
Minhas impressões sobre cenário e figurino
Gostei muito do cenário: simples e funcional, mas capaz de criar a atmosfera certa para a história. Ele não compete com os atores, ao contrário, valoriza o trabalho em cena e deixa que a tensão da narrativa seja o grande destaque.
Os figurinos também chamaram minha atenção. Achei bonitos e bem pensados, ajudando a levar o público para dentro daquele universo puritano, sem exageros. Cada detalhe parecia estar no lugar certo para compor a época e reforçar a dramaticidade da história.
O elenco e seus destaques
O elenco é grande e coeso, mas alguns nomes marcaram profundamente a minha experiência:
- Carmo Dalla Vecchia como Reverendo Páris é impressionante. Ele domina o palco, transmite força e fragilidade ao mesmo tempo, e faz o público mergulhar nas contradições do personagem.
- Vanessa Gerbelli, como Juíza Danforth, foi um dos pontos altos da noite. Além da atuação intensa, ela surpreendeu ao cantar em estilo operístico em cena. Sua voz arrepiou o teatro e deu um peso ainda maior aos julgamentos.
- Elisa Pinheiro, como Abigail Williams, mostrou energia e presença marcante, conduzindo a intriga da peça com maestria.
- Marcel Giubilei, no papel de John Proctor, trouxe emoção e firmeza em sua luta contra as acusações.
- Patrícia Pinho, como Elizabeth Proctor, também me emocionou muito pela delicadeza e dignidade em sua interpretação.
O restante do elenco — Isabel Pacheco, José Karini, Fernanda Sal, Daniel Braga, Bela Carias, Clarisse Deussane, Flávia Freitas, Izabella Almeida, Lindomar Francisco e Maria Adélia — completa a montagem com atuações sólidas, especialmente nas cenas de tribunal, que são vibrantes e cheias de energia.
Uma noite que ficou comigo
Assisti à peça acompanhada de uma amiga do trabalho e, depois, fomos jantar juntas. Durante a conversa, percebemos como o espetáculo nos manteve presas do início ao fim. Eu me senti completamente envolvida pela intensidade da encenação, pelas atuações arrebatadoras e pela força do texto de Arthur Miller. Foi uma daquelas experiências que ficam na memória.
Reflexões atuais
Enquanto assistia, não pude deixar de pensar no Brasil de hoje. A forma como boatos, fake news e acusações infundadas se espalham rapidamente, destruindo reputações e dividindo pessoas, tem muito em comum com o que a peça mostra. “As Bruxas de Salém” continua sendo um alerta poderoso sobre os perigos da manipulação e da intolerância.
Conclusão
Para mim, essa montagem de “As Bruxas de Salém” no Teatro Casa Grande foi uma das experiências teatrais mais intensas que já vivi. A direção, os recursos cênicos, a música ao vivo e, principalmente, as atuações de Carmo Dalla Vecchia e Vanessa Gerbelli fazem desse espetáculo algo imperdível.
Saí do teatro emocionada, reflexiva e com a sensação de ter assistido a uma obra que fala diretamente com o nosso tempo.
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