Potente e impactante, o filme ‘A Procura de Martina’ desponta como um dos grandes destaques do Festival do Rio, oferecendo ao público uma narrativa cheia de camadas e provocações.
As muitas camadas de Martina
No último dia 5, o filme teve uma sessão seguida de debate no Festival do Rio. Durante a conversa, a diretora Márcia Faria usou uma expressão que sintetiza o impacto do longa: “são muitas camadas”. E essa afirmação não poderia ser mais verdadeira.
A história acompanha Martina, uma personagem argentina que viaja ao Brasil em busca de seu neto, nascido em um cativeiro durante a ditadura militar argentina. O que torna essa jornada ainda mais comovente é o fato de Martina estar sofrendo de Alzheimer e, por medo de perder suas memórias, embarca sozinha nessa missão, antes que as informações importantes sobre sua família sejam apagadas de sua mente.
Ao longo do filme, o público é levado por uma trama densa que entrelaça temas como memória, história, política, amizade feminina, saúde e identidade. Cada um desses tópicos é explorado com sutileza e profundidade, conferindo ao longa uma complexidade que envolve e faz refletir.
O protagonismo feminino é um dos pontos mais fortes de ‘A Procura de Martina’. O filme coloca em foco o papel da mulher como cuidadora, aquela que luta para não deixar a memória morrer. Martina, com sua fragilidade e força, simboliza a resistência feminina em tempos políticos difíceis, ao mesmo tempo que faz um paralelo com as ditaduras da América Latina e seus resquícios na sociedade atual.
Um dos aspectos mais brilhantes do filme é como a condição de Martina – sua luta contra o Alzheimer – reflete a própria luta da sociedade para não esquecer os horrores do passado. A deterioração de sua memória se torna uma metáfora para o esquecimento histórico, e a busca por seu neto representa a tentativa de preservar essa memória coletiva em meio à fragilidade.
Realismo emocionante
Para dar vida a uma personagem tão complexa como Martina, é necessário uma atuação à altura – e Mercedes Morán entrega uma performance comovente e intensa. Sua sensibilidade para retratar os dilemas da personagem, desde a dor até os momentos de lucidez, é um dos pontos altos do filme. O restante do elenco e a equipe técnica também brilham, garantindo que toda a produção esteja em sintonia com a narrativa rica que o roteiro propõe.
Surpreendentemente, o filme consegue inserir momentos cômicos, mesmo em um contexto tão dramático. Essas cenas, além de aliviar a tensão, contribuem para aumentar a identificação do público, que vê a vida real retratada em suas nuances – onde o humor pode coexistir com a tristeza. Essa dualidade torna o impacto emocional do filme ainda mais poderoso.
‘A Procura de Martina” é um filme cheio de vida, que explora temas profundos com sensibilidade e complexidade. A obra provoca reflexões sobre memória, história e a força das mulheres, ao mesmo tempo que emociona com suas camadas de significados. É, sem dúvida, um dos destaques do Festival do Rio.
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