Dirigido por Michel Fessler, Tristan L’Hermite e inspirado no livro de Felix Salten, Bambi: Uma Aventura na Floresta resgata o espírito da obra original em uma abordagem inovadora, ainda que cansativa em alguns momentos
Muita gente não sabe, mas Walt Disney não criou Bambi. Ele apenas produziu a primeira adaptação cinematográfica, lançada em 1942 e dirigida por David Hand. O filme recebeu três indicações ao Oscar em 1943 e, em 1948, um Globo de Ouro especial. A animação, por sua vez, se baseava no livro austríaco Bambi, A Fábula de Uma Vida na Floresta (1923, Felix Salten), um relato poético e maduro sobre perda, medo, fome e solidão, temas que foram suavizados tanto na versão da Disney quanto em sua mais nova adaptação Bambi: Uma Aventura na Floresta.
Diferente da animação, o longa de Fessler, co-roteirista de A Marcha dos Pinguins (2005, Luc Jacquet), aposta em uma narrativa filmada inteiramente na natureza, sem CGI. A fotografia utiliza filtros para marcar a passagem das estações e manipulações de cor para destacar os animais, resultando em uma produção que apesar de interessante, transmite artificialidade e lembra mais documentários do Discovery Channel, do que uma marcante adaptação ficcional.

Cena de Bambi: Uma Aventura na Floresta- Divulgação A2 FIlmes
A história acompanha o nascimento de Bambi e os perigos que enfrenta até se tornar o “rei da floresta”. Entretanto, a narração constante prejudica a experiência, além de uma ausência de expressividade dos animais que limita a emoção e a empatia do público, tal como ocorreu em O Rei Leão (2019), sobrando para a narração impor o que o espectador deve sentir, originando um lento filme que mesmo com apenas 85 minutos, aparenta ser bem mais longo do que é.
No Brasil, a narração é feita pela atriz e dubladora Lhays Macêdo, em um registro que oscila entre o lúdico e o redundante, em vários momentos, apenas descrevendo o que já está na tela. Ainda assim, a fotografia garante belas imagens da natureza, enquanto a trilha sonora dá ritmo e potência às estações e às fases da vida do jovem cervo.
O maior problema da produção é a falta de rumo narrativo. Não há sensação de progressão dramática, nem mesmo após a morte da mãe de Bambi. Esta falta poderia funcionar em um documentário observacional, mas enfraquece quando a proposta é adaptar uma obra literária tão carregada de simbolismo. Ao privilegiar cenas fofas, como as brincadeiras com o amigo corvo, coelho e guaxinim, ao invés dos dilemas existenciais da fábula, o longa perde a oportunidade de transmitir uma mensagem mais profunda sobre a natureza, até mesmo o clímax da história, aonde Bambi liberta sua amada das armadilhas do caçador, carece de catarse.

Cena de Bambi: Uma Aventura na Floresta- Divulgação A2 FIlmes
Apesar dos belos planos, de momentos poéticos como os vaga-lumes e do uso pontual do Efeito Kuleshov para gerar emoção, sem esconder que diversas interações não foram gravadas no mesmo momento, Bambi: Uma Aventura na Floresta funcionaria melhor como documentário contemplativo do que como adaptação literária que dilui a força da fábula em favor de uma narrativa mais ingênua, direcionada ao público infantil, mas que poderia, e deveria, ser algo bem maior.
Bambi: Uma Aventura na Floresta estreia nos cinemas brasileiros em 28 de agosto, com distribuição da A2 Filmes em parceria com a Alpha Filmes.
Siga-nos e confira outras dicas em @viventeandante e no nosso canal de whatsapp !



