Luzes acendem e apagam. Um grande objeto e alguns personagens vão aparecendo aos poucos, cada vez que a luz acende. Uma narração surge dizendo o que irá acontecer. Mas, por mais que sejamos avisados, não estamos preparados para o que virá. Eyja: Primeira Parte, a Ilha traz pernas que dançam e se falam e acrobacias diversas. Os artistas bailam num vulcão instável.
Lembrei da série islandesa Katla, por uma certa melancolia que o espetáculo traz. Mas são obras distintas. Katla viaja num algo sobrenatural. Por outro lado, Eyja é mais poesia, e o que parece sobrenatural é a capacidade do elenco. Além disso, também faz rir, em especial com a expressividade dos artistas, com destaque nesse sentido para Bárbara Abi-Rihan, que, ao simplesmente sorrir, já nos faz rir. Fabio Lacerda, Palu Felipe, Vinicius Mousinho não deixam a bola cair (e nem as companheiras) e apresentam sequências criativas e divertidas.
Espantoso
O espetáculo é mais concreto que água e cada um tem seu próprio naufrágio. Não inventei isso. São frases que a narradora fala, e que, para mim, traduzem muito da ludicidade presente. É sobre se equilibrar para sobreviver, é sobre desafios. As ótimas sequências acrobáticas impressionam e geram uma certa agonia. “Nossa amiga, tô muito nervosa” foi uma frase que ouvi atrás de mim. Realmente há cenas que evocam o poder do circo de nos atingir de uma forma especial. Dá um nervosismo. Procurava me manter firme e neutro, sem me afetar pela aura de tensão que pairava ao redor quando uns subiam nos outros e acrobacias perigosas aconteciam. Mas era difícil. Eram vários gritos de nervoso, de espanto, de incredulidade.
Aliás, a tríade eficiente de direção, iluminação e cenografia de Ricardo Rocha com aquele objeto versátil de aço, grande, que vira vulcão, barco, planeta, e tantas outras coisas, junto com a trilha sonora linda de Samantha Jones, criam a atmosfera perfeita para cenas épicas. Parece filme, mas é melhor. Indubitavelmente, todos treinaram e ensaiaram demais para entregar uma obra tão redonda.
Analu
O trabalho da Multifoco Cia de Teatro é empolgante e bonito. Inclusive, a montagem é a primeira inteiramente circense da Companhia e conta ainda com a incrível Ana Luiza Faria, uma artista deficiente visual. Ela fecha a equipe com louvor e coragem. Se não pode nos ver, sua alma nos percebe enquanto realiza as difíceis acrobacias. Vislumbrar seu rosto brilhar ao ouvir as palmas efusivas e a ovação final foi deveras emocionante.
É bom saber que esse é o primeiro espetáculo de uma trilogia. Em 2023, a companhia foi contemplada, por meio do Edital Firjan SESI RJ, com o fomento para a montagem de seu segundo espetáculo na linguagem circense, FJALLA: segunda parte, o vulcão, com estreia prevista para julho/agosto deste mesmo ano no Teatro SESI Firjan Duque de Caxias. Já aguardo ansioso.
SERVIÇO:
Teatro I
Temporada: 04 a 28 de maio de 2023
Quinta a sábado às 19h | Domingo às 18h
Inteira: R$ 30 | Meia: R$ 15, disponíveis na bilheteria física ou no site do CCBB (bb.com.br/cultura)
Estudantes, maiores de 65 anos e Clientes Ourocard pagam meia entrada
Classificação indicativa | 12 Anos
Duração | 60 min
Centro Cultural Banco do Brasil
Rua Primeiro de Março, 66 – Centro – RJ
Tel. (21) 3808-2020 | [email protected]