“O Homem que Engoliu um Chip” reimagina a poderosa narrativa de “Todos os Cachorros São Azuis” de Rodrigo de Souza Leão. Este solo teatral, sob a direção eficiente de Adriano Garib e a dramaturgia sensível de Ramon Nunes Mello, irrompe no cenário teatral na Casa de Cultura Laura Alvim com uma brilhante atuação que enfrenta com leveza, mas não menos profundidade, os temas espinhosos da loucura e esquizofrenia.
A história em si, extraída das páginas da literatura de Souza Leão, foi habilmente transformada em um monólogo teatral de tirar o fôlego. O ator que segura essa viahem entre a loucura é Manoel Madeira. A princípio, no começo da peça, achei que seria uma experiência ruim. Pois tem um início devagar, que parece nada promissor. Contudo, aos poucos, com a sua presença magnética no palco, Madeira assume o papel do protagonista meio insano, e meio poeta Rimbaud e, em momentos íntimos, compartilha os dilemas e desafios da esquizofrenia.
A abordagem cuidadosa, que não busca imitar Souza Leão, mas sim capturar a essência e a poesia das suas palavras, ajuda a dar a essa peça uma singularidade e força emocional. Manoel Madeira demonstra uma entrega que vai conquistando o público num crescente. A ironia, em especial quando surge uma nova seita (mas não darei spoilers), me fez lembrar de Monty Python.
Risos e proezas do Homem que Engoliu um Chip
O espetáculo navega pelos altos e baixos do protagonista, explorando as camadas do sofrimento mental através dessa boa combinação entre humor e ironia. Dessa forma, “O Homem que Engoliu um Chip” consegue provocar risos enquanto traz à tona a complexidade da experiência humana em face da loucura.
Uma das proezas mais notáveis do espetáculo é a forma como o palco se torna um espaço onde a narrativa do livro ganha vida. Madeira, sob a direção sagaz de Garib, transita entre a peça e a autoconsciência do artista, recriando os momentos de internação e as reflexões do poeta, e moldando-os para se adequar ao palco de maneira envolvente e autêntica.
É um testemunho da harmonia entre ator, diretor e dramaturgo, que trabalham em conjunto para dar vida a um mundo fictício e emocionalmente carregado. Além disso, em meio à comédia e às reflexões, a peça também fomenta uma discussão relevante sobre a intersecção entre saúde mental e arte, oferecendo ao público uma oportunidade de refletir sobre a importância da expressão criativa na jornada de cura pessoal.
Por fim, o elenco e a equipe por trás desta produção merecem aplausos pelo compromisso de trazer à vida uma história tão impactante de uma maneira que ressoa com a alma do público e respeita o espírito do original literário.
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