Crítica
‘O Homem que Engoliu um Chip’ oferece uma abordagem teatral envolvente
Vai até o dia 30 de agosto, sempre às 19h das 3ª e 4ª feiras
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3 meses atrásem

“O Homem que Engoliu um Chip” reimagina a poderosa narrativa de “Todos os Cachorros São Azuis” de Rodrigo de Souza Leão. Este solo teatral, sob a direção eficiente de Adriano Garib e a dramaturgia sensível de Ramon Nunes Mello, irrompe no cenário teatral na Casa de Cultura Laura Alvim com uma brilhante atuação que enfrenta com leveza, mas não menos profundidade, os temas espinhosos da loucura e esquizofrenia.
A história em si, extraída das páginas da literatura de Souza Leão, foi habilmente transformada em um monólogo teatral de tirar o fôlego. O ator que segura essa viahem entre a loucura é Manoel Madeira. A princípio, no começo da peça, achei que seria uma experiência ruim. Pois tem um início devagar, que parece nada promissor. Contudo, aos poucos, com a sua presença magnética no palco, Madeira assume o papel do protagonista meio insano, e meio poeta Rimbaud e, em momentos íntimos, compartilha os dilemas e desafios da esquizofrenia.
A abordagem cuidadosa, que não busca imitar Souza Leão, mas sim capturar a essência e a poesia das suas palavras, ajuda a dar a essa peça uma singularidade e força emocional. Manoel Madeira demonstra uma entrega que vai conquistando o público num crescente. A ironia, em especial quando surge uma nova seita (mas não darei spoilers), me fez lembrar de Monty Python.
Risos e proezas do Homem que Engoliu um Chip
O espetáculo navega pelos altos e baixos do protagonista, explorando as camadas do sofrimento mental através dessa boa combinação entre humor e ironia. Dessa forma, “O Homem que Engoliu um Chip” consegue provocar risos enquanto traz à tona a complexidade da experiência humana em face da loucura.
Uma das proezas mais notáveis do espetáculo é a forma como o palco se torna um espaço onde a narrativa do livro ganha vida. Madeira, sob a direção sagaz de Garib, transita entre a peça e a autoconsciência do artista, recriando os momentos de internação e as reflexões do poeta, e moldando-os para se adequar ao palco de maneira envolvente e autêntica.
É um testemunho da harmonia entre ator, diretor e dramaturgo, que trabalham em conjunto para dar vida a um mundo fictício e emocionalmente carregado. Além disso, em meio à comédia e às reflexões, a peça também fomenta uma discussão relevante sobre a intersecção entre saúde mental e arte, oferecendo ao público uma oportunidade de refletir sobre a importância da expressão criativa na jornada de cura pessoal.
Por fim, o elenco e a equipe por trás desta produção merecem aplausos pelo compromisso de trazer à vida uma história tão impactante de uma maneira que ressoa com a alma do público e respeita o espírito do original literário.
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Jornalista especializado em Jornalismo Cultural pela UERJ.

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Cinema
Crítica | ‘O desafio de Marguerite’ mostra a potência da mulher
Filme estreia em 07 de dezembro no Brasil.
Publicado
29 minutos atrásem
1 de dezembro de 2023Por
Livia Brazil
O desafio de Marguerite foi destaque na primeira edição do Festival Internacional de Cinema de Biarritz. Além disso, foi apresentado na Sessão Especial do Festival de Cannes de 2023, onde venceu o prêmio do júri técnico CST Young Film Technician Award, pela direção de arte assinada por Anne-Sophie Delseries. O longa de Anna Novion estreia no Brasil no dia 07 de dezembro, com distribuição da Synapse Distribution.
O filme conta a história de Marguerite Hoffmann, uma estudante de 25 anos que está prestes a apresentar sua tese de doutorado. Mas, quando um erro técnico acaba com sua teoria, ela decide sair da universidade e aplicar o que aprendeu na vida real. A personagem foi inspirada em uma experiência pessoal da diretora e na trajetória de Ariane Mézard, uma das grandes matemáticas francesas da atualidade. “Ela foi a primeira pessoa que conversou comigo sobre matemática de uma forma artística e imaginativa, o que me interessa muito como cineasta”, diz Anna Novion.
A diretora conta também que, quando tinha cerca de 20 anos, ficou doente e precisou se afastar do convívio social por seis meses. Ao retornar, sentiu uma lacuna entre ela e as pessoas da mesma idade, como se não pertencessem ao mesmo lugar. Essa experiência de desconexão com o mundo e com as outras pessoas, aliada aos ensinamentos de Ariane, tornaram O Desafio de Marguerite possível de acontecer.
Para exemplificar, fique com o trailer:
Originalidade
O ponto alto do filme é, sem dúvida, sua temática diferenciada. A diretora se utiliza da matemática e do fato de Marguerite não ter outra vivência senão o estudo da ciência para mostrar como as pessoas arranjam artifícios dos mais variados para esconder suas fragilidades e se esconderem do mundo. É uma forma bastante criativa de tratar do assunto, principalmente por ser uma mulher. Temos muitos filmes retratando cientistas e estudiosos de áreas das Exatas homens, porém poucos que mostram mulheres cientistas.
O motivo disso aparece em O desafio de Marguerite e está no fato de se relacionar sempre mulheres a sentimentos e associar isso a algo negativo. Como o orientador de Marguerite diz, “matemáticos não podem ter sentimentos”, e a sociedade acredita que só mulheres os têm. E , além disso, que essa característica as resume. O filme mostra que não. E que é possível utilizar esses sentimentos ditos negativos no mundo científico para benefício próprio. E, também, como a mulher é desvalorizada no mundo acadêmico, principalmente em um tão masculino como o da matemática.

É muito original, também, a forma como os conflitos de Marguerite são resolvidos. Os caminhos que ela vai tomando a partir de sua saída da universidade. É um roteiro que não segue o óbvio. Ele te surpreende a cada passo tomado, e isso é muito surpreendente. Principalmente em um mundo tomado de obras audiovisuais previsíveis.
Ritmo diferente
Contudo, exatamente por não ser uma produção genérica e mais do mesmo, há um burilamento no roteiro, ele tem um ritmo diferente do que se vê por aí hoje em dia. Portanto, o espectador acostumado a um ritmo mais acelerado vai estranhar. Pode, inclusive, achar um pouco chato. É um filme cheio de silêncios, principalmente por causa da natureza contida de Marguerite. Ele te obriga a observar o tempo inteiro, assim como precisa fazer um matemático tentando provar uma hipótese. Isso não significa que é um filme chato ou lento demais. Por causa do ritmo, você entra aos poucos na vida e na cabeça de Marguerite, e esse tempo ajuda a compreender melhor a personagem.
Ella Rumpf brilha no papel de Marguerite, essa mulher que faz de tudo para se esconder do mundo e das pessoas. E que só sabe enxergar seu potencial no mundo acadêmico, mas não tem ideia de como enfrentar o mundo real. É bonito de ver como a atriz se entregou ao papel e a forma como ela retrata a personagens aos poucos se entregando e entendendo como o mundo funciona fora dos portões da universidade.
“Quando conheci Ella Rumpf, conversamos muito e eu simplesmente soube. Tive a sensação de que poderia haver uma conexão fascinante entre Ella e a personagem, e que daria à luz uma encantadora Marguerite. Ela exalava uma intensidade e um comprometimento que eu queria filmar”, disse Anna Novion.
É um filme encantador, que mostra a potência da mulher. Em qualquer área que escolha viver.

Ficha técnica
O DESAFIO DE MARGUERITE
Le Théorème de Marguerite | 2023 | França | 1h52 | Drama
Direção: Anna Novion
Roteiro: Anna Novion e Mathieu Robin
Elenco: Ella Rumpf, Jean-Pierre Darroussin, Clotilde Courau
Produção: TS Productions
Distribuição: Synapse Distribution
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