Para qualquer diretor que se aventure a fazer um “favela movie” é necessária a cautela de não estereotipar os moradores e nem transformar em um filme de tiroteio. Se é uma tarefa já complicada para brasileiros, um norte-americano certamente teria mais dificuldades. Mas Pacificado conta com a direção de Paxton Winters, que viveu por 10 anos no Morro dos Prazeres, Rio de Janeiro. Além disso, foi co-escrita com Wellington Magalhães (morador da comunidade do Morro dos Prazeres) e Joseph Carter que também morou lá por 12 anos. O que ajudou a escapar desses problemas.
O filme conta a história de Tati (Cássia Nascimento), uma menina introspectiva de 13 anos que luta para se conectar com seu estranho pai, Jaca (Bukassa Kabengele), libertado da prisão no momento turbulento das Olimpíadas do Rio. Enquanto a polícia “pacificadora” batalha para ocupar as favelas ao redor do Rio, Tati e Jaca precisam navegar entre as forças que ameaçam suas esperanças para o futuro.
Foco no drama
O diretor evita as cenas de violência e foca no drama vivido não só pelos protagonistas mas também o da comunidade. Jaca era o chefe do tráfico que resolvia os problemas dos moradores por meios mais pacíficos, já Nelson (José Loreto), o novo chefe, é mais jovem, violento e impulsivo. Tati, tenta ter uma vida normal mas sua mãe, Andréa (Débora Nascimento), acaba não sendo boa para a menina devido seu vício em drogas e falta de dinheiro.
Indo mais além, Pacificado mostra que os maiores vilões vem de fora da favela. A agoniante abordagem policial sofrida por Andréa e Tati, o fornecedor do tráfico que quer aumentar seu lucro e a espetacularização dos confrontos na imprensa estão lá. Os moradores acabam ficando encurralados em um sistema mantido por interesses maiores, e o traficante se torna aquele que traz alguma ordem em meio ao caos.
O “favela movie” feito pela favela
A colaboração da comunidade foi importante para Winters fazer um filme que respeita a identidade dos moradores e da favela. O linguajar e as relações entre os personagens são muito legítimos. Certamente isso ajudou Cássia Nascimento, atriz de primeira viagem e moradora do morro, a manter o nível de atuação diante de atores e atrizes tão formidáveis.
A forma de mostrar os becos, casas e escadarias também nos convida a entrar no morro e entender toda aquela estrutura. Afinal, tudo é muito apertado, janelas são muito próximas, isso talvez ajude a explicar um pouco a união dos moradores e como parece que todos se conhecem tão bem. No fim, a comunidade do Morro dos Prazeres consegue mostrar suas alegrias e dramas com uma história que prende e emociona.