Dirigido por Peter Cattaneo, Lições de Liberdade aparenta ser uma simples história sobre um pinguim, quando na verdade é muito mais
Para um amante da sétima arte, não há nada melhor do que assistir a uma produção que aparenta ser simples, porém, que nos transmite ao final toda uma gama de sentimentos, seja alegria, raiva ou tristeza, levando aqueles que estavam com guarda baixa, a uma catarse de emoções que fazem a produção se tornar memorável, este é o caso de Lições de Liberdade.
Da mesma forma que em Ou Tudo Ou Nada (1998, Peter Cattaneo), Peter Cattaneo pega uma história clássica e por meio de metáforas, transforma em algo bem mais profundo. No primeiro caso era um grupo de homens desempregados que decidem ser strippers, porém, em seu subtexto existe toda uma discussão sobre masculinidade e aceitação. No caso de Lições de Liberdade, a narrativa principal se passa na Argentina e gira em torna da amizade de Tom Mitchell, um sério professor de inglês de um colégio interno, e sua amizade com um pinguim que resgatou no Uruguai, mas, em seu subtexto é sobre liberdade perante as amarras impostas tanto por nós mesmos, quanto pelo sistema.
O principal simbolismo de Lições de Liberdade, é obviamente a do pinguim, uma ave livre, sendo adotado por um homem fechado e antipático, interpretado por um ótimo Steve Coogan, e como por meio desta pequena ave, uma escola inteira foi cativada, fazendo com que os personagens percebam o mundo ao seu redor, demonstrando o paralelo presente em todo o filme: o da liberdade vs. a repressão.

Tom Mitchell, Steve Coogan, e Juan Salvador em cena de Lições de Liberdade- Divulgação Diamond
O nome da ave é Juan Salvador, inspirado no livro Juan Salvador Gaivota (1970, Richard Bach). O livro conta a história de uma gaivota que apresentava paixão pelo voo, se recusando a ficar limitada à vida constante da ave, assim, sempre alça voos maiores e mais altos, atraindo a rejeição de seu próprio grupo, porém, com o tempo se torna mentor, e os ensina sobre liberdade, amor e perdão.
A produção se passa na Argentina durante o ano de 1976, ano em que ocorreu um golpe militar que durou até 1983, marcando o período com repressão e perseguição excessiva da parte dos militares, na medida que qualquer pessoa vista como inimiga do estado, era presa sem direito à defesa, algo que nós brasileiros conseguimos simpatizar, afinal, entre 1964 e 1985, nosso país viveu algo semelhante, em que não poderíamos sequer pensar em “voar”, sem sermos cortados, rejeitados e presos pelos nossos próprios compatriotas, porém, perseveramos da mesma forma.
Em um misto de comédia britânica seca, grande parte trazida por Coogan, e drama político por conta do retrato de uma fria Argentina sob regime ditatorial, vemos Tom Mitchell saindo de um homem frio que opta por não se meter, para alguém que confronta um militar pela liberdade de uma jovem presa pela ditadura, fechando uma ferida a muito tempo aberta dentro de si.

Jonathan Pryce e Steve Coogan em Lições de Liberdade- Divulgação Diamond
A maior vantagem de Lições de Liberdade é pegar o público desprevenido, afinal, no momento que uma fofa história sobre um pinguim e um professor, se torna uma metáfora para luto, repressão militar, o nascimento das mães da praça de Maio, e uma discussão sobre lutar pelo que acha certo, a produção se torna muito mais rica e complexa, se recheando de simbolismos que fazem os olhos do público brilhar, seja pela simplicidade, ou por conta de uma lágrima ou outra que poderá cair do olho, juntamente com um sorriso em cenas como a do rígido diretor da escola, fazendo uma sessão de terapia com um atento pinguim.
Lições de Liberdade é baseado no livro As Lições do Pinguim (2015, Tom Mitchell) e estreia nos cinemas no dia 24 de Julho, com distribuição da Diamond Films.
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