Dirigido por Marie Amachoukeli, Meu Verão com Glória é um coming of age com lindos toques oníricos.
Uma das maiores vantagens do cinema independente é a sua autoralidade, na medida que fogem de grandes estúdios, os diretores expressam a sua arte sem barreiras, às vezes em produções um pouco arriscadas e que não atraem o grande público, porém, que são excelentes experiências para aqueles que tem o privilégio de assistir, Meu Verão com Glória é um destes casos.
A história é um coming of age no qual Cleo, uma jovem menina francesa criada por sua babá, Glória, deve lidar com o retorno de sua figura materna para Cabo Verde. Assim, durante um verão, Cleo passa uma última despedida com esta mulher que significou tanto para ela.
Apesar de já termos visto esta mesma relação entre babá e criança em produções como Histórias Cruzadas (Tate Taylor, 2011), Meu Verão com Glória se destaca em dois lugares: em sua fotografia e no tom onírico passado pelas sequências de animação ao longo do filme.

Sequência animada do filme Meu Verão com Glória- Still Divulgado pela assessoria Filmes do Estação
Falando primeiro da fotografia: ao dar enfoque em planos extremamente próximos de seus personagens, conseguimos acompanhar seus olhares e suas vidas com muito mais fluidez, facilitando a empatia, um exemplo é a cena em que Cleo dança com seu pai. Antes visto como um personagem frio e distante, agora entendemos que ele é um homem falho que ficou sem chão após o falecimento de sua mulher e ainda mais depois que Glória retorna ao seu país, o deixando sozinho com Cleo.
Todo este contexto pregresso ao filme: a infância de Cleo, a morte de sua mãe, entre outras lembranças, são mostradas por meio de lindas animações que remetem à arte pós impressionista, movimento marcado por características como o subjetivismo, a valorização de luz e textura e valorização de temas cotidianos.
Sem nenhuma fala, somos levados em uma jornada onírica e emocionante. A cena mais linda é a que demonstra a morte da mãe de Cleo, juntamente com uma analogia de mudança das estações. A animação apresenta tons de laranja, marrom e amarelo, demonstrando, de modo totalmente imagético, a maneira que Glória preencheu um vazio na vida da menina.
Em grande medida, Meu Verão com Glória é um filme sobre maternidade. Glória foi uma mãe afetuosa e presente para Cleo, porém, se tornou uma estranha para seus próprios filhos, principalmente Cézar, um menino por volta de 12 anos.

Louise Mauroy-Panzani e Ilça Moreno Zego em cena de Meu Verão com Glória- Still Divulgado pela assessoria Filmes do Estação
O filme não apresenta uma linha clássica muito clara, com exceção de um momento ao final do filme, Meu Verão com Glória é um filme morno e confortável para se assistir em uma tarde chuvosa de domingo, composto de momentos isolados e interessantes, como o batismo do neto de Glória e a proteção contra espíritos do mal.
Em seu primeiro papel como atriz, Louise Mauroy-Panzani transmite um grau de emoção e inocência, que em certos momentos é factível de crer que ela não estava nem mesmo atuando, sua relação com Glória de Ilça Moreno Zego, trás uma leveza e uma calma à produção, que não é encontrada em grandes filmes de atualmente. Quando Meu Verão com Glória aparenta engajar, vemos uma sequência de animação que nos lembra novamente o que estamos assistindo: um filme pequeno de autor, um belo filme pequeno de autor.
Em resumo, Meu Verão com Glória se destaca por sua franqueza e honestidade de seus personagens, em nenhum momento ele tenta ser algo mais do que um retrato poético do despertar, e liberdade, de duas mulheres. Tanto Cleo, uma criança que não deseja perder a figura materna, quanto Glória, uma mulher que se arrepende de ter abandonado a própria família, crescem ao longo do verão e se preparam para seguir em frente, por mais difícil que seja esta aceitação.
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