Dirigido por Felipe Joffily, O Rei da Feira aposta em um espetáculo visual para potencializar a persona cômica de Leandro Hassum, mas hesita nos riscos narrativos e acaba soando como mais um veículo clássico do ator.
Na época do lançamento de Tudo Bem no Natal que Vem (2021, Roberto Santucci), surgiram diversos memes e comparações entre Adam Sandler e Leandro Hassum. Ambos os atores construíram alguns estigmas na comédia, e na medida que os anos passam, apesar de já terem se provado atores capazes com drama, Sandler com Jóias Brutas (2019, Ben Safdie, Josh Safdie), e Hassum com o arco dramático de Tudo Bem no Natal que Vem, ambos os atores optam por fazer comédias populares, gêneros que dominam e que apresentam um público cativo, e este amor da parte do público que faz surgir produções como O Rei da Feira.
Na mais nova produção de Hassum, desta vez se passando em uma feira de rua no Rio de Janeiro, o realismo mágico rende boas piadas “à la” O Sexto Sentido (1999, M. Night Shyamalan), enquanto a trama flerta com o whodunit à moda Agatha Christie, temperado por um twist “hassumiano”. O elenco abraça o tom caricato, com destaque para o Bode de Pedro Wagmer, o morto que ajuda o Monarca de Hassum a desvendar o próprio assassinato, e para Angelita, de Talita Younan, uma perita que diversas vezes rouba a cena.

Talita Younan em cena de O Rei da Feira- Divulgação Imagem Filmes
No campo técnico, o filme se diferencia. A profundidade de campo e a câmera frequentemente estática, que privilegia planos amplos e o movimento dos atores, realçam a grandiosidade de cenários pensados nos mínimos detalhes, levando a um desenho de produção que pede a tela grande e confere vida à feira, por vezes funcionando como um ode aos trabalhadores que a sustentam, com uma cena que inclusive os destaca e traz um sentimento de novo, um ode a este trabalhador.
Porém, a narrativa de O Rei da Feira não acompanha esse vigor. Falta ao protagonista a credibilidade de um detetive capaz, longe do carisma metódico de um Hercule Poirot ou da sagacidade de Benoit Blanc, detetive de Entre Facas e Segredos (2019, Rian Johnson), o que fragiliza o whodunit e deixa a produção dependente de um humor de Hassum, que parece desconfortável dentro da produção.
A investigação gira em círculos e o equilíbrio com o drama é cambaleante: inserções emotivas no terço final pesam a narrativa, como a cena com a família do Bode, apresentada tardiamente e sem construção prévia. O prólogo do jovem Monarca que vê fantasmas, bem como a relação de culpa ligada à mãe, surge promissor, mas se resolve sem a catarse necessária, e de uma maneira bizarra que mesmo em uma produção não realista, aparenta falsa demais para tudo o que foi apresentado anteriormente.

Cena de O Rei da Feira- Divulgação Imagem Filmes
Assim, O Rei da Feira diverte e impressiona pela forma, uma direção confiante, visual arrebatador, e um elenco capaz, mas recua quando poderia ousar. A ideia é inventiva, porém, a execução, é “dentro da caixinha”, por consequência diluindo o impacto e tornando a experiência menos memorável do que poderia ser.
Com distribuição da Imagem Filmes, produção da Rubi Produtora, em coprodução com a Paramount Pictures, Wikishows e Calenza Filmes, O Rei da Feira estreia em 4 de setembro nos cinemas de todo o Brasil.
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