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Contornando a Morte | Entenda a realidade da criogenia

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Contornando a Morte

Vimos Contornando a Morte (Hope Frozen: A quest to live twice), filme que está na Netflix. Mesmo não atuando na área da saúde, você já deve ter se deparado com conteúdos a respeito de pesquisas de células tronco e de modificação genética como tratamentos de última geração. A ciência cria esperanças de futuro para quem está sentenciado a tratamentos paliativos. Acredita-se que é só uma questão de tempo para que novos tratamentos estejam disponíveis. Mas, como ganhar tempo enquanto a doença avança e os tratamentos atuais não se mostram eficazes? Congelar o paciente enquanto os cientistas realizam a pesquisa permitiria a estabilização da doença e a garantia de recuperação? Seria como num filme de ficção com uma cápsula de congelamento?

No documentário Contornando a Morte podemos conferir os avanços e limitações da ciência em busca da extensão da vida. O que parece ficção, mas já é uma realidade. No filme, quando Einz é diagnosticada com um câncer raro e agressivo aos 2 anos. Sahatorn, um cientista tailandês budista, inicia uma jornada em busca de novas opções. Ao enfrentar a notícia de que os tratamentos atuais não foram eficazes e se preparar para o luto, ele opta por congelar a filha em uma empresa pioneira de criogenia nos EUA.

A doença

O ependioblastoma é um câncer cerebral raro que ocorre em crianças. Devido às suas características é o tipo mais letal que existe. A descoberta da doença ocorreu por meio de um evento traumático que levou a uma sequência intensa de tratamentos e cirurgias. Entretanto, apesar de Einz ter acesso a todo tratamento disponível a doença avançou rápido demais e ela não resistiu.

Sabemos que a intenção de congelar pessoas é bem antiga porque até mesmo em ficção este tema é bem abordado. Desde o filme o Homem da Califórnia até o Capitão América temos exemplos de pessoas que descongelaram anos depois e tiveram que lidar com o mundo atual. Com abordagem técnico-científica, o documentário revela como o congelamento preserva o material biológico, a relação entre este material e a personalidade, as memórias e quais as etapas que a pessoa deverá enfrentar para restabelecer a vida.

O congelamento

O procedimento requer mais do que material para resfriamento. A empresa Alcor – que realizou o procedimento em Einz – apresenta em Contornando a Morte, de maneira bem didática, a estrutura dos tanques, as técnicas de congelamento, o propósito da empresa a e até mesmo os valores do processo.

Também aborda as limitações do congelamento. Explica como é o processo cirúrgico do congelamento criogênico e a ausência de procedimentos atuais para descongelamento. Não há nenhum paralelo com o congelamento de material humano. Contudo, é possível observar que as técnicas de congelamento de corpos são mais agressivas e complexas dos que as utilizadas em rotinas de laboratórios médicos e clínicas de fertilidade. Além disso, os procedimentos que envolvem óvulos, embriões e cordões umbilicais contam com um procedimento bem estabelecido de congelamento e descongelamento que permitem a viabilidade não só do material biológico, como a viabilidade do tratamento posterior e consequentemente da vida.

Aliás, veja o trailer de ‘Contornando a Morte‘ com legendas em inglês e siga lendo:

Cientista vs Pai vs Religioso

O raciocínio lógico de um cientista, o amor pela filha e as crenças religiosas na mente de um único homem mostram a complexidade desta situação. A princípio, vemos os conflitos internos e a pressão social de forma clara permitindo compreender como a esperança é o fator comum em todas as nuances deste homem que permanece convicto sobre sua decisão.

As questões éticas e legais sobre vida e morte não aparecem neste documentário. Porém, como o congelamento só ocorre após a morte declarada, a empresa realiza procedimentos para manter o organismo viável para o processo de ressuscitação. Além disso, também apresenta a perspectiva religiosa relacionada a negação da morte e do destino da alma por não se cumprir os ritos fúnebres do budismo.

Todo o intuito do congelamento é aguardar a invenção de tratamentos viáveis. Como Sahatorn possui conhecimento científico, teve acesso a laboratórios para testar fármacos. Ainda por cima, passou meses buscando informações sobre as pesquisas mais avançadas. Como o desenvolvimento de novos medicamentos podem levar décadas, ele se convenceu de que a criogenia seria uma opção favorável para Einz.

Esperança

Um indício do que pode ter alimentado as esperanças dele, pode ser as pesquisas relacionadas a terapias gênicas. Em agosto de 2020 foram aprovados no Brasil os primeiros medicamentos de terapia gênica, que proporcionam o tratamento de duas doenças raras de causas genéticas distintas – até então sem tratamento específico. Um deles permite a prevenção de um tipo de cegueira por DHR (Distrofia Hereditária de Retina) e o outro permite a estabilização da AME (Atrofia Muscular Espinhal). Com o grande investimento em novas tecnologias, os tratamentos podem não ser acessíveis.

No ano passado o medicamento para o tratamento da AME foi aprovado e lançado nos EUA. Aliás, ganhou grande notoriedade com a campanha de arrecadação @Cureamarina por ser o mais caro no mundo – o valor nos EUA é de U$ 2,1M. Não se sabe ainda qual será o valor deste medicamento no Brasil.

A tecnologia

Estes novos medicamentos representam um grande avanço. Isso porque ao invés de uma substância sintética produzida em laboratório, contém um vírus geneticamente modificado com a sequência necessária para sintetizar as proteínas que não eram expressas em quantidade suficiente por causa da deficiência genética. Logo após a primeira dose, o medicamento produz seu efeito enquanto o vírus se propaga no organismo produzindo as proteínas necessárias que causam os principais sintomas. Estes medicamentos marcam uma nova era na medicina. Eles podem de evitar a perda de visão gradual e permanente em jovens com alterações no gene RPE65 e a mortalidade em crianças de até 2 anos com alterações no gene SMN1.

Enfim, no ano passado, o Brasil teve um caso de sucesso de remissão de linfoma com um tipo similar desta terapia. Este tratamento ainda está em fase de pesquisa. Entretanto, o custo para realizá-la não representa um valor tão exorbitante quanto o medicamento para AME. E ainda se mostra eficaz, economicamente viável. Pode ser um tratamento utilizado no sistema de saúde no futuro. As inovações na medicina trazem uma perspectiva mais favorável. Mas ainda assim será necessário percorrer um longo caminho de descobertas científicas para alterar conceitos sobre doença e vida e até mesmo para que seja possível contornar a morte.

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas, com Cida Bento e Daniel Munduruku | Assista aqui

Veja o filme que aborda ações afirmativas e o racismo na ciência num diálogo contundente

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku

Na última quinta-feira (23), fomos convidados para o evento de lançamento do curta-metragem Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku. Aconteceu no Museu da República, no Rio de Janeiro.

Após a exibição um relevante debate ocorreu. Com mediação de Thales Vieira, estiveram presentes Raika Moisés, gestora de divulgação científica do Instituto Serrapilheira; Luiz Augusto Campos, professor de Sociologia da UERJ e Carol Canegal, coordenadora de pesquisas no Observatório da Branquitude. Ynaê Lopes dos Santos e outros que estavam na plateia também acrescentaram reflexões sobre epistemicídio.

Futura série?

O filme é belo e necessário e mereceria virar uma série. A direção de Fábio Gregório é sensível, cria uma aura de terror, utilizando o cenário, e ao mesmo tempo de força, pelos personagens que se encontram e são iluminados como verdadeiros baluartes de um saber ancestral. Além disso, a direção de fotografia de Yago Nauan favorece a imponência daqueles sábios.

O roteiro de Aline Vieira, com argumento de Thales Vieira, é o fio condutor para os protagonistas brilharem. Cida Bento e Daniel Munduruku, uma mulher negra e um homem indígena, dialogam sobre o não-pertencimento naquele lugar, o prédio da São Francisco, Faculdade de Direito da USP. Um lugar opressor para negros, pobres e indígenas.

Jacinta

As falas de ambos são cheias de sabedoria e realidade, e é tudo verdade. Jacinta Maria de Santana, mulher negra que teve seu corpo embalsamado, exposto como curiosidade científica e usado em trotes estudantis no Largo São Francisco, é um dos exemplos citados. Obra de Amâncio de Carvalho, responsável por colocar o corpo ali e que é nome de rua e de uma sala na USP.

Aliás, esse filme vem de uma nova geração de conteúdo audiovisual voltado para um combate antirracista. É o tipo de trabalho para ser mostrado em escolas, como, por exemplo, o filme Rio, Negro.

Por fim, a parceria entre Alma Preta e o Observatório da Branquitude resultaram em uma obra pontual para o entendimento e a mudança da cultura brasileira.

Em seguida, assista Nenhum saber para trás:

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