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Toque Familiar
Cinema e StreamingCrítica

Crítica: ‘Toque Familiar’ é poético retrato de memória e envelhecimento

Por
André Quental Sanchez
Última Atualização 14 de setembro de 2025
6 Min Leitura
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Cena de Toque Familiar- Divulgação Imovision
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Dirigido por Sarah Friedland, Toque Familiar é uma meditação cinematográfica sobre memória, esquecimento e persistência da afetividade

O envelhecimento, enquanto dispositivo narrativo, mostra-se especialmente eficaz em produções que buscam despertar emoção e empatia, uma vez que permite revisitar experiências universais, sejam pessoais ou mediadas pela convivência com parentes e amigos do espectador. No caso de Toque Familiar, a fragilidade da memória é não apenas um tema, mas um recurso estético que orienta toda a estrutura narrativa, afinal, se a memória se desfaz, o corpo permanece como testemunho da continuidade afetiva, capaz de reconhecer e de amar.

A partir da trajetória de Ruth, uma mulher com Alzheimer que se muda para uma casa de repouso, a produção de Sarah Friedland articula uma reflexão sensível sobre a velhice, a vulnerabilidade do corpo e a resistência da vida diante da perda progressiva da identidade.

A construção visual de Toque Familiar reforça esse princípio. A cinematografia privilegia inicialmente tons terrosos e alaranjados, sugerindo certa opacidade da experiência de Ruth. Gradualmente, cores mais vibrantes emergem, como um maiô vermelho de destaque, simbolizando a aceitação e o a aceitação da protagonista diante de sua condição. Trata-se de um uso expressivo da cor como marcador narrativo, substituindo a linearidade da história por uma lógica da percepção e da sensibilidade, entregando uma produção bem mais profunda e poética do que aquela permeada somente por diálogos.

Toque Familiar

Kathleen Chalfant em cena de Toque Familiar- Divulgação Imovision

Outro elemento central é a opção pela quase ausência de trilha sonora. Em lugar de música diegética ou extradiegética, predominam os ruídos do ambiente da casa de repouso, que funcionam como índice de imersão e aproximam o espectador do cotidiano de Ruth. Essa estratégia promove uma escuta atenta do espaço, conferindo ao som um papel narrativo, quase claustrofóbico, na medida que sentimos junto com Ruth os medos e isolamentos de sua condição, porém, também os confortos.

Toque Familiar também se distingue pelo ritmo narrativo, que acompanha a monotonia da rotina institucionalizada. O tempo dilatado, marcado por pequenos gestos e encontros aparentemente banais, como a amizade com Verônica, o exercício do speed dating, o olhar para o vizinho sem camisa, ou a experiência na piscina, traduz a experiência subjetiva da protagonista, e enaltece prazeres humanos, comuns, e pouco retratados em personagens cinematográficos de sua faixa etária.

A verdadeira ação da produção se encontra nos momentos de ruptura, como a fuga de Ruth, introduzindo tensões que evidenciam tanto a fragilidade quanto a vitalidade da personagem. Nesse sentido, a performance de Kathleen Chalfant é decisiva, transitando com precisão entre o humor, a lucidez súbita e a dor do esquecimento.

Durante o debate ocorrido no Reserva Cultural em 09 de setembro de 2025, destacou-se a dimensão poética da memória, comparável ao funcionamento do próprio cinema. Essa relação torna-se visível na cena em que o filho de Ruth observa o álbum de fotos materno, e compartilha as roupas de Ruth com sua própria filha, instaurando uma continuidade geracional que ressignifica a lembrança, ainda que fragmentada. O filme, assim, não apenas tematiza a memória, mas a performa como processo de transmissão.

Toque Familiar

Cena de Toque Familiar- Divulgação Imovision

Se comparado a outras representações cinematográficas do Alzheimer, como Para Sempre Alice (2014, Richard Glatzer e Wash Westmoreland), Toque Familiar adota uma abordagem menos dramática e mais contemplativa. A limitação espacial, quase inteiramente circunscrita à casa de repouso, não compromete, mas intensifica a proposta estética: transformar o cotidiano em um estudo de personagem em que presenciamos a perda e a permanência.

Dessa forma, Friedland oferece ao espectador não um relato de doença, mas uma poética da memória que sofre um lento processo de erosão. Toque Familiar reafirma a capacidade do cinema de elaborar esteticamente questões existenciais universais, mobilizando o olhar e a escuta para compreender que, mesmo quando a lembrança falha, o corpo persiste em reconhecer, em amar e em viver.
 

Aclamado no 81º Festival Internacional de Cinema de Veneza, aonde ganhou três prêmios, e nomeado “Melhor Filme de Ficção” na última Mostra SP, Toque Familiar é uma distribuição Imovision e estreia nos cinemas no dia 18 de Setembro.

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Tags:alzheimerCinemacríticaCrítica Toque FamiliarimovisionMemoriareserva culturalToque Familiar
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