Dirigido por Kim Soo-jin, Ruídos transforma o som em protagonista de thriller claustrofóbico sobre medo, silêncio e isolamento
O som é uma das ferramentas mais eficazes e complexas dentro do cinema de horror. Desde O Exorcista (William Friedkin, 1974) até Um Lugar Silencioso (2018, John Krasinski), o controle entre silêncio e ruído pode transformar a experiência sensorial do espectador, evocando o medo por meio do que não é visto, mas sentido.
Isto tudo é presenciado em Ruídos, novo filme da diretora sul-coreana Kim Soo-jin, que utiliza o campo sonoro de forma que o som se torna o verdadeiro protagonista da narrativa, conduzindo o público por uma experiência claustrofóbica e angustiante a partir da perspectiva de uma jovem mulher com deficiência auditiva.
A trama acompanha Joo-Young, Lee Sun-bin, uma jovem que investiga o desaparecimento de sua irmã Jon-Hee, enquanto lida com vizinhos hostis e um prédio opressor. A partir de seu ponto de vista auditivo, Ruídos mergulha o espectador em um universo onde cada som, ou sua ausência, possui um peso emocional e narrativo. O design de som é elaborado de forma não naturalista, explorando distorções, abafamentos e agudos que simulam a percepção limitada e distorcida da protagonista, criando uma sensação constante de vulnerabilidade.

Cena de Ruídos- Divulgação A2 Filmes
Kim Soo-jin demonstra domínio técnico ao manipular frequências e texturas auditivas para provocar incômodo e inquietação, como o uso dos agudos que cria momentos de real desconforto, enquanto os silêncios abruptos traduzem o isolamento e o medo interno de Joo-Young. O público é convidado a habitar a mente e o corpo da protagonista, sentindo o mesmo desespero e confusão que ela vivencia ao tentar decifrar o que acontece ao seu redor.
Apesar da força desta proposta, Ruídos oscila entre o brilhantismo técnico e a repetição narrativa, apresentando um design de som, tão inovador em seus primeiros atos, mas perdendo impacto com o passar do tempo, tornando-se previsível. O roteiro, que inicialmente sugere uma experiência sensorial e psicológica à la O Bebê de Rosemary (1969, Roman Polanski), acaba se inclinando para uma investigação de estilo policial, lembrando mais um mistério de Agatha Christie do que um horror perturbador. Aos poucos, a tensão se desloca do medo do invisível para a curiosidade sobre o mistério, enfraquecendo o terror em sua essência.
A influência do horror japonês é evidente tanto no uso do som quanto na forma como o filme retrata o corpo e o espaço. A claustrofobia dos corredores, o silêncio opressivo e a sensação de contaminação emocional lembram obras como Kairo (2001, Kiyoshi Kurosawa), porém, não tão eficaz. Kim Soo-jin adota um estilo visceral e cru, buscando que o espectador partilhe a angústia de sua protagonista. No entanto, esta estética potente se perde pela falta de variação formal, repetindo soluções visuais e sonoras que, a certa altura, deixam de surpreender.
A fotografia do filme, marcada por uma interação intensa entre luz e sombra, contribui para a atmosfera de aprisionamento. A iluminação escassa e a paleta de cores frias intensificam o sentimento de que não há saída possível daquele universo sufocante, porém, em certos momentos a escuridão excessiva parece gratuita, usada apenas para reforçar o clima de horror, sem um propósito narrativo claro.

Cena de Ruídos- Divulgação A2 Filmes
No elenco, Lee Sun-bin se destaca ao oferecer uma interpretação contida, mas profundamente expressiva, enquanto os demais personagens, o vizinho ameaçador, a síndica autoritária, o zelador enigmático, funcionam mais como arquétipos do gênero do que como figuras realmente desenvolvidas, servindo apenas para manter o clima de desconfiança.
Ao final, Ruídos constrói uma experiência incômoda e tecnicamente ambiciosa, mas que não alcança plenamente o potencial sugerido em seus primeiros momentos, com manipulação do som e da atmosfera, mas que peca pela repetição e excesso, dentro de um contexto que poderia ter sido melhor explorado.
Com distribuição da A2 Filmes, Ruídos estreou no dia 09 de outubro, exclusivamente nos cinemas em cópias dubladas e legendadas.
Siga-nos e confira outras dicas em @viventeandante e no nosso canal de whatsapp !



