Dirigido por Scott Cooper, Springsteen: Salve-me do Desconhecido é lento retrato introspectivo das batalhas internas de Bruce Springsteen.
Vivemos uma era de cinebiografias abundantes, tão recorrentes quanto os filmes de super-heróis, desde as que constroem um retrato completo da carreira do artista, como Homem com H (2025, Esmir Filho), até as que se concentram em períodos específicos e mais pessoais, como Meu Sangue Ferve por Você (2020, Paulo Machline). Independentemente do recorte, espera-se que essas produções revelem a essência do retratado, explorando altos e baixos tanto na estética quanto na narrativa.
Com o excesso de produções do tipo, e novas cinebiografias anunciadas, como as dos Beatles previstas para 2027, o público já começou a reconhecer certos padrões temáticos: a depressão, os amores conturbados, os vícios, os conflitos familiares e a arte como válvula de escape. Em Springsteen: Salve-me do Desconhecido, esses elementos retornam com força, apesar de não tão inovadora em seu retrato.

Jeremy Allen White e Odessa Young em cena de “Springsteen: Salve-Me do Desconhecido”- Copyright 2025 20th Century Studios. All Rights Reserved.
A trama começa em clima de euforia: um show vibrante ao som de Born to Run (1975). No entanto, logo somos levados ao oposto: um Bruce exausto e deprimido. A narrativa se divide em duas linhas do tempo: uma em preto e branco, retratando a infância difícil marcada por um pai violento, e outra ambientada em 1982, quando Springsteen lida com seus traumas enquanto concebe o álbum Nebraska, uma das obras mais cruas e sinceras de sua carreira.
Entre conversas com o produtor e amigo Jon Landau e um relacionamento com a jovem Faye, a produção revela que o maior inimigo de Springsteen é interno. Para fãs veteranos, essa jornada é familiar, marcando um artista ainda em formação, sem saber o peso que seu nome carregaria no futuro. Já para quem conhece apenas o ídolo consagrado, a experiência pode soar decepcionante: trata-se de um retrato intimista, lento e contemplativo, distante do espetáculo de Rocketman (2019, Dexter Fletcher), e mais próximo de uma meditação silenciosa sobre a dor, a ponto de focar menos em suas músicas, e sim em silêncios e introspecções do retratado, brilhantemente interpretado por Jeremy Allen White.
A fotografia de tons sóbrios reforça esse mergulho interior, com raros momentos de brilho, como a bela cena do carrossel. Ainda assim, a produção carece de variação estética e acaba soando uniforme demais para o próprio bem, repetindo temas comuns como a difícil relação paterna, mas sem nada tão inovador quanto o retrato feito em Better Man (2024, Michael Gracey). Embora o filme mantenha uma coerência emocional admirável, o ritmo arrastado e a falta de catarse afastam o público mais casual

Jeremy Allen White em cena de “Springsteen: Salve-Me do Desconhecido”- Copyright 2025 20th Century Studios. All Rights Reserved.
O recorte de Cooper funciona como ponto de virada na trajetória pessoal e artística do cantor, o momento em que o homem atormentado começa a se transformar no ícone conhecido como The Boss, contudo, enquanto ode à sua vida e obra, o longa fica aquém de A Música da Minha Vida (2019, Gurinder Chadha), que traduz de forma mais vibrante a influência de Springsteen em sua audiência. Aqui, a jornada é mais fria e introspectiva, oferecendo poucas respostas e deixando temas delicados, como os vícios e a esquizofrenia do pai, no não dito.
Distribuído pela Walt Disney Studios Motion Pictures, Springsteen: Salve-me do Desconhecido estreia nos cinemas em 30 de outubro, como um retrato honesto e dolorido de um artista em busca de si mesmo, mas que, infelizmente, não encontra em seu próprio filme a força que sempre teve em suas canções, carecendo de ritmo e vigor narrativo.
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