Em 1789, a França fez a revolução que mudou o mundo ocidental como era conhecido. Seguindo ideais iluministas já colocados em prática durante a Revolução Americana, 1775, a luta tinha o objetivo de acabar com o regime absolutista e instaurar uma república do povo, para o povo. Após realizada, e os reis decapitados na guilhotina, se iniciou um período apelidado de “Terror Jacobino”, aonde membros do clero, nobres, camponeses e até mesmo outros jacobinos ditos como insurgentes, foram mortos em pró da república que estava surgindo.
Um período tão importante para o mundo, estudado e reverenciado até os dias de hoje, obviamente já foi trabalhado diversas vezes em adaptações cinematográficas como: Maria Antonieta (2007, Sofia Coppola), Casanova e a Revolução (1982, Ettore Scola) e recentemente Vencer ou Morrer, uma produção que aborda o lado dos camponeses perante os acontecimentos que se desenrolaram.
Confira abaixo o trailer de Vencer ou Morrer e continue lendo a crítica
Vencer ou Morrer foca em François-Athanase Charette, um ex militar da guerra de independência dos EUA, que vive recluso na França com sua irmã. Quando diversos camponeses exigem que ele os comande em uma luta por mudanças, Charette se torna um líder habilidoso, lutando em uma guerra que só poderia acabar de duas maneiras, a vitória ou a morte.
Apesar da história promissora, Vencer ou Morrer apresenta falhas homéricas em quesito de narrativa, o que faz o espectador perder rapidamente o interesse pela produção, acredito que um de seus maiores problemas se encontra logo no inicio, quando Charette é convencido de modo extremamente fácil a lutar do lado daqueles que chamou, 5 minutos antes, de caipiras, bastou chamá-lo de covarde, no melhor estilo Marty McFly de De Volta Para o Futuro (1985, Robert Zemeckis), isto não cria gosto pelo seu personagem, somente rimos de seu absurdo, afinal, não conseguimos acompanhar os seus verdadeiros anseios e objetivos.

Hugo Becker em cena de Vencer ou Morrer– Divulgação Oficial
A partir daí acompanhamos uma narração enfadonha que mais parece um audio-livro, que cita personagens e acontecimentos a todo momento, e espera que o espectador crie empatia somente com base nisso, porém, ao final, nenhum destes ganha muita profundidade ou individualidade, além de um traço de personalidade mínimo: o clérigo, o segundo em comando, a Amazona, a loira casada com o irlandês, entre outros que são esquecidos no momento que os créditos se iniciam.
Indo na contramão do mandamento “show, not tell”, Vencer ou Morrer nos desgasta com personagens demais, que não conseguimos lembrar do nome, além disso, ao tentar dar profundidade à François e construir camadas para seu protagonista, são inseridas cenas que se passavam no vazio de sua mente, um local preto amedrontado por arrependimentos e traumas, incluindo a aparição de um jovem Luís XVI, último rei do antigo regime, guilhotinado em 1792, porém, são cenas isoladas e vazias.
Historicamente nem faz muito sentido o fato de François ser atormentado por uma criança na forma de Luís XVI, afinal, ele tinha mais de 30 anos quando foi morto, porém, esta é somente uma das questões apresentadas na produção, que almeja ser um épico da mesma forma que Coração Valente (1995, Mel Gibson), apresentando inclusive muitas semelhanças narrativas com o épico de Gibson, mas, passa longe de sua construção.
Por fim, dando crédito aonde deve ser dado, Vencer ou Morrer é um épico grandioso em questão de figurino e de escala, além de abordar um retrato pouco explorado na história, porém, na medida que não nos importamos com a luta, ou se o personagem principal realmente irá vencer ou morrer, do que adianta um filme com tanto potencial?

Cena de Vencer ou Morrer- Divulgação Oficial
Distribuido pela Kolbe Arte, Vencer ou Morrer estreia nos cinemas brasileiros no dia 05 de Junho.
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Não se pode entender a alma dos católicos vendeanos sem compreender que, para eles, Deus vinha antes da Revolução, antes da Pátria e antes da própria vida. “Dieu le Roi” – Deus e o Rei – não era uma fórmula vazia, mas a expressão de uma ordem natural e sobrenatural em que a autoridade legítima deriva de Deus, como ensina São Paulo: “Non est potestas nisi a Deo” (Rm 13,1).
A Revolução Francesa foi, antes de tudo, uma revolta contra Deus, uma tentativa de apagar a Cristandade e instaurar uma nova religião laica baseada na razão corrompida, no igualitarismo artificial e no culto do homem. Foi nesse contexto que se ergueu a Cruz da Vendeia, como baluarte da verdadeira fé contra a apostasia institucionalizada. O Exército Católico e Real não foi um bando de fanáticos; foi um povo que defendeu suas igrejas, seus padres, sua Missa, seu Deus.
A crítica chega ao absurdo de afirmar que o filme é apenas “propaganda” por ter sido apoiado por conservadores e produzido com apoio de um parque temático. O que deveria chocar é que, em pleno século XXI, ainda há quem tenha vergonha de exaltar o heroísmo de um povo que preferiu morrer a trair Cristo. A senhora Magalhães vê lixo ideológico onde, na verdade, há um tributo tardio – e ainda tímido – à verdadeira história, aquela que os livros escolares ocultam com zelo revolucionário.
Que a Vendeia seja lembrada não como um fracasso, mas como o mais nobre fracasso que um povo pode viver: morrer lutando por Deus, pelo Rei e pela Civilização Cristã. Se o mundo moderno ri disso, é porque perdeu o senso do sagrado. Nós, católicos tradicionais, não apenas honramos a memória dos mártires da Vendeia – nós a reivindicamos. O seu sangue não foi derramado em vão, mas se une ao sangue dos mártires de todos os tempos, aqueles que, com os olhos fixos no Céu, preferiram a cruz ao compromisso com a mentira revolucionária.
Vencer ou morrer? Para o católico fiel, a verdadeira vitória é morrer em estado de graça, combatendo sob o estandarte da Cruz.
“A Vendeia não foi apenas uma revolta: foi um milagre de fidelidade.”– Mons. Marcel Lefebvre