Dirigido por Jon M. Chu, Wicked: Parte 2 chega como a conclusão épica de uma das adaptações musicais mais aguardadas da década.
Com dezenas de prêmios e montagens ao redor do mundo, incluindo no Brasil, Wicked já se consolidou como um dos musicais mais influentes da história da Broadway. Sua mistura de fantasia, política e identidade o transformou em ícone cultural e queer. Em 2024, o primeiro filme conseguiu o impossível: traduziu a energia teatral para o cinema com um toque cinematográfico próprio, conquistando dez indicações ao Oscar e vencendo em direção de arte e figurino, assim, a expectativa para a segunda parte era altíssima, ainda que o segundo ato do espetáculo nunca tenha sido o mais forte no palco.
Em sua versão cinematográfica, Wicked: Parte 2 praticamente dobra a duração do segundo ato, expandindo números clássicos como March of the Witch Hunters, Wonderful e a emocionante For Good, além de apresentar duas novas canções, No Place Like Home, para Elphaba, e The Girl in the Bubble, para Glinda. Apesar de ambas compostas por Stephen Schwartz, as músicas reforçam o talento das intérpretes, porém, passam longe de serem tão marcantes quanto Popular e obviamente Defying Gravity, sendo tentativas de ampliação do material existente, mas que somente evidencia as limitações narrativas que o material apresenta.

Ariana Grande e Cynthia Erivo em cena de ‘Wicked Parte 2’- Divulgação Universal
Se o primeiro Wicked venceu o Oscar de direção de arte, esta sequência certamente merece ainda mais elogios. Desde a abertura, com a fauna de Oz construindo a estrada de tijolos amarelos, até o detalhismo dos cenários da floresta e do castelo do Mágico, tudo é meticulosamente composto, afinal Jon M. Chu sempre demonstrou em sua cinematografia um olhar apurado para a estética e o movimento, transportando o público para um mundo mágico de rara beleza, contudo, por mais encantador que seja o visual, falta-lhe o mesmo impacto emocional. A beleza, aqui, é contemplativa, não transformadora.
A tentativa de expandir o universo de Oz é visualmente arrebatadora, mas narrativamente cansativa. A história, que já dependia das amarras entre Wicked e O Mágico de Oz, apresenta um trabalho esplêndido com trabalho técnico primoroso, porém, o encanto visual não consegue mascarar a sensação de que o filme se alonga além do necessário.
Para o público que vive e respira Wicked, a Parte 2 será um deleite. É um reencontro emocional com personagens e músicas que marcaram gerações, trazendo novas interações e fortalecendo laços. Já para quem busca apenas entretenimento, a experiência pode parecer excessivamente grandiosa e emocionalmente rasa, ainda mais com temas políticos, como a manipulação do povo pelo Mágico e a construção de um inimigo comum, que nunca são realmente aprofundados. O mesmo vale para a amizade entre Elphaba e Glinda, na qual sentimos a força, mas raramente compreendemos verdadeiramente por que nasceu.

Cena de “Wicked: Parte 2”- Divulgação Universal Pictures
Assim como no musical, Dorothy permanece ausente. Jon M. Chu defende a escolha, dizendo que ela é apenas um “peão” na história das bruxas, porém, sua exclusão soa como falta de ousadia: a presença da garota de Kansas poderia ter trazido o frescor e novo significado à narrativa, em vez de mais do mesmo, o que levou inclusive à erros anacrônicos com a cronologia do Mágico de Oz.
No fim, Wicked: Parte 2 encerra a duologia com o mesmo amor e cuidado com que começou, sendo um espetáculo visual de tirar o fôlego, com performances dedicadas, direção precisa e uma composição artística impecável. Mas, assim como sua protagonista, o filme parece buscar um lugar que talvez não exista, um espaço onde técnica e emoção se encontrem com a mesma força, sendo belo o bastante para ser admirado, mas não mágico o suficiente para realmente se destacar como algo próprio, atuando como um braço do espetáculo teatral, e não algo realmente único por si.
Distribuido pela Universal Pictures, Wicked: Parte 2 estreia nos cinemas no dia 20 de Novembro.
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