O filme ‘Cinco da Tarde’ é um drama apaixonante sobre formas de luto. Da fotografia em preto e branco ao enredo sobre perda, traz uma narrativa bonita, mas triste; e onírica, mas que representa uma dor real.
O longa de Eduardo Nunes conta sua história no tempo dele. Engole o que não é dito, respira fundo, fala com o olhar, viaja com o que já foi e sonha com o que falta chegar, com o que não foi feito. Em diálogos emocionantes, as duas protagonistas do filme, vão se aproximando após uma perda. A avó de uma das meninas morre e ela se sente acolhida pela figura desta outra jovem que mora no seu prédio.
A história entre as vizinhas aponta muitas reflexões sobre os espaços. O prédio é uma figura central. Nele, Bel, vivida por Bárbara Luz transita na tentativa de esvaziar o apartamento em que morava com sua avó (em uma limpeza física e mental) e busca um pertencimento ao se aproximar da vizinha que mora dois andares abaixo.
Além disso, o filme, gravado em Niterói tem uma perspectiva muito pessoal do diretor, nascido na cidade. A vizinhança ao redor de um parque, uma igreja que é famosa na cidade e seu sino que toca sempre às seis da tarde dentre outros lugares é de fácil identificação para os niteroienses. Esse aspecto é muito interessante considerando que os ambientes são marcantes na memória das pessoas que já passaram por ali. É um daqueles momentos em que você se vê nas cenas, buscando uma volta no parque, uma ida à igreja, uma conversa no banco da praça para tentar se encontrar depois de vivenciar alguma experiência que te tira o chão.
‘Cinco da Tarde’ tem uma força gigantesca em atos pequenos, desmorona em poucas palavras e traz de volta a sensibilidade no audiovisual. É na simplicidade que o filme se constrói, e é na tristeza que as potências se encontram. O luto da perda, da pandemia, da juventude, de um bairro que se modifica traz uma enxurrada de emoções para as duas personagens que se encontram na poesia e nas pequenas coisas.