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Crítica | ‘A Última Noite’ mostra o último Natal

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Como você pretende passar as últimas horas da sua existência? “A Última Noite” apresenta uma possível resposta para essa pergunta. Uma nova comédia dramática estrelando Keira Knightley, Matthew Goode, Roman Griffin Davis, Lily-Rose Depp e grande elenco, “A Última Noite” apresenta um último natal pré apocalíptico que mistura vários e diversos atores numa bagunça família bem provocante.

Ambientalismo e temáticas

Inicialmente, “A Última Noite” passa uma energia bem natalina, o que é o esperado, mas logo ela se dissolve com o impacto da vida real. O primeiro ato do filme é um jogo dissimulado para encobrir o real motivo dessa congregação de velhos amigos enquanto todos os personagens são apresentados. Não que clichês sejam ruins, mas é bom fugir da receita enlatada dos “filmes de Natal”.

Se a temática natalina disfuncional já não fosse um alívio, “A Última Noite” ainda vem com um apocalipse ecológico do qual não existe escapatória. Esse plot ambientalista aparece como um relâmpago num céu azul, o que causa um certo estranhamento, mas não é algo necessariamente ruim. No fundo, “A Última Noite” parece simultaneamente um pouco consciente demais e de menos. A mensagem política se perde nos personagens, principalmente em Art (Roman Griffin Davis), jovem estrela de Jojo Rabit, que tem o papel de canalizar as frustrações dos gen-z que vão morrer sem viver em um discurso inflamado e ecológico.

Talvez por conta desse peso de discurso que “A Última Noite” fica seco lá pra metade. São muitas histórias acontecendo ao mesmo tempo, e a diretora Camille Griffin acaba encostando em uma narrativa à la Extinction Rebellion, até mencionando a Greta Thunberg pelo nome.. A mensagem ambientalista é vital para nos manter vivos agora (tanto no filme quanto na realidade), mas parece que ela é entregue de forma mecânica e formulaica. Falta paixão e toque para se abordar um tema real e urgente como um apocalipse ambiental que vai matar todo mundo na Terra.

Elenco e atuação

Mesmo com um elenco extenso (8 adultos e 4 crianças e mais alguns extras), são poucas as vezes em que um personagem parece mal desenvolvido. Nell (Keira Knightley) é apresentada como a protagonista, mas apaixonada; mas a estrela real é Art (Roman Griffin Davis), sendo essa criança o fio condutor que une quase todos os personagens, seja pelo sangue, pela atitude, ou por sua ideologia. Sua visão mais humana da crise e a sua opinião é o maior ponto de tensão do filme, o que é uma escolha interessante, levando em consideração que o bruto da carga emocional está nos ombros de um jovem ator de 14 anos de idade.

Afora isso, se “A Última Noite” tem um ponto fraco, esse seria os  traços repetitivos dos personagens. Algumas personagens acabam ficando pouco desenvolvidas, como no caso de Sandra (Anabelle Wallis), que é só fútil e infeliz no seu casamento. Essa unidimensionalidade também é o caso dos gêmeos, irmão de Art. Com pouquíssimas falas e quase nenhuma conexão com o resto do filme, os dois rapazes são simplesmente esquecíveis. Além disso, eles e o Art são filhos sanguíneos da diretora de “A Última Noite”.

Moralidade

Afora o discurso ambientalista e um humor mordaz, “A Última Noite” traz um questionamento moral que é muito pertinente num tempo pandêmico onde todas as escolhas estão mais em tons de cinza do que em preto e branco. Temos mesmo o direito de escolher quando vamos morrer? O quanto a nossa autonomia corporal influencia a saúde (nesse caso mental) daqueles a nossa volta?

Pensando na morte, esse mesmo mês foi lançada uma cabine de suicídio assistido. Essa notícia é um pouco chocante, mas uma cabine com injeção letal é diferente de um comprimido com veneno num momento de total desespero? Essas assuntos são levantados junto com toda a questão de culpabilidade ambiental, dando um tom extremamente pesado para um “filme de Natal”. Sair do cinema eufórico para discutir “A Última Noite” é mais do que natural, já que essas situações não são tão fictícias quanto imaginamos.

Por fim, esse bem comum em nome da autonomia do próprio corpo é questionado; o que no meio de uma pandemia com pessoas se negando a ser vacinadas não é nem de mal tom, é basicamente desinformação. A última cena do filme reforça essa ideia de “será que os cientistas sabem mesmo o que estão fazendo?”, o que não poderia ser um final mais polêmico.

Conclusão

Assim, “A Última Noite” é um caos de filme, mas do bom tipo. Misture uma pitada de moralidade, adicione relações disfuncionais, um toque de criança chata, uma colherada linguagem chula, e esquente tudo junto num casarão burguês belíssimo. Leve à telona por 90 minutos e desenforme quando você se sentir desconfortável com a crise climática. Bon appetit e boas festas!

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas, com Cida Bento e Daniel Munduruku | Assista aqui

Veja o filme que aborda ações afirmativas e o racismo na ciência num diálogo contundente

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Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku

Na última quinta-feira (23), fomos convidados para o evento de lançamento do curta-metragem Nenhum saber para trás: os perigos das epistemologias únicas | com Cida Bento e Daniel Munduruku. Aconteceu no Museu da República, no Rio de Janeiro.

Após a exibição um relevante debate ocorreu. Com mediação de Thales Vieira, estiveram presentes Raika Moisés, gestora de divulgação científica do Instituto Serrapilheira; Luiz Augusto Campos, professor de Sociologia da UERJ e Carol Canegal, coordenadora de pesquisas no Observatório da Branquitude. Ynaê Lopes dos Santos e outros que estavam na plateia também acrescentaram reflexões sobre epistemicídio.

Futura série?

O filme é belo e necessário e mereceria virar uma série. A direção de Fábio Gregório é sensível, cria uma aura de terror, utilizando o cenário, e ao mesmo tempo de força, pelos personagens que se encontram e são iluminados como verdadeiros baluartes de um saber ancestral. Além disso, a direção de fotografia de Yago Nauan favorece a imponência daqueles sábios.

O roteiro de Aline Vieira, com argumento de Thales Vieira, é o fio condutor para os protagonistas brilharem. Cida Bento e Daniel Munduruku, uma mulher negra e um homem indígena, dialogam sobre o não-pertencimento naquele lugar, o prédio da São Francisco, Faculdade de Direito da USP. Um lugar opressor para negros, pobres e indígenas.

Jacinta

As falas de ambos são cheias de sabedoria e realidade, e é tudo verdade. Jacinta Maria de Santana, mulher negra que teve seu corpo embalsamado, exposto como curiosidade científica e usado em trotes estudantis no Largo São Francisco, é um dos exemplos citados. Obra de Amâncio de Carvalho, responsável por colocar o corpo ali e que é nome de rua e de uma sala na USP.

Aliás, esse filme vem de uma nova geração de conteúdo audiovisual voltado para um combate antirracista. É o tipo de trabalho para ser mostrado em escolas, como, por exemplo, o filme Rio, Negro.

Por fim, a parceria entre Alma Preta e o Observatório da Branquitude resultaram em uma obra pontual para o entendimento e a mudança da cultura brasileira.

Em seguida, assista Nenhum saber para trás:

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