Dirigido por John Laing, Abandonados se inspira em uma boa história, porém…
Produções sobre sobrevivência atraem um público cada vez mais amplo, afinal, a luta entre o homem e a natureza, e a perseverança do ser humano na luta por se manter vivo, atrai muito a atenção da audiência. No caso de Abandonados, ocorre uma situação contrária, a narrativa que poderia dialogar com clássicos como Náufrago (2001, Robert Zemeckis) ou obras recentes como A Sociedade da Neve (2023, Juan Antonio Bayona), acaba presa em sua própria superficialidade, assim, afastando o público da produção.
Filmes de sobrevivência fascinam porque vão além da luta física contra a natureza: são jornadas humanas, em que a resistência emocional e os objetivos pessoais dos protagonistas se tornam a verdadeira força motriz. No entanto, Abandonados parece esquecer essa camada essencial. A trama acompanha quatro homens obrigados a passar 119 dias à deriva após uma onda virar seu veleiro, mas em vez de criar vínculos profundos entre eles ou explorar seus dilemas internos, o filme se limita a situações repetitivas e pouco envolventes.

Dominic Purcell e Owen Black em cena de Abandonados- Copyright Lighthouse Home Entertainment
Jim, Rick, Phil e John carecem de carisma e profundidade. O vínculo entre eles nunca convence, mesmo com a amizade prévia dos três primeiros, e a fé inabalável, e cansativa, do quarto. O resultado são personagens unidimensionais, que não despertam empatia nem transmitem o peso da experiência de quase quatro meses perdidos no mar. O único ponto mais interessante surge em Josh, o homem sem família que parecia mais confortável isolado em alto mar do que em terra firme, mantendo seus colegas cativos por conta deste desejo inconsciente. Ainda assim, sua construção nunca é totalmente explorada, se mantendo na tangente e sendo esgotada de modo rápido e vazio.
No campo técnico, o filme não entrega todas as possibilidades que poderia, optando por uma fotografia, que no início sugere um tom claustrofóbico, porém, logo se revela apenas vazia. A iluminação plastificada não valoriza os personagens, a direção de arte é frágil e os efeitos especiais da onda inicial beiram o artificial, juntamente com outros momentos que não demonstram o senso de perigo que deveriam. A trilha sonora, genérica, até tenta criar tensão, mas não chega a se destacar, soando como um exercício estético sem substância.
Com menos de 90 minutos, Abandonados condensa quatro meses de sobrevivência, mas acaba acelerando a narrativa de forma anticlimática, ao não apresentar um rumo certo. A produção acredita que uma simples narração de John poderá nos emocionar e fazer refletir, porém, isto não ocorre. Nem os flashbacks das famílias dos protagonistas conseguem acrescentar emoção, já que reforçam arcos igualmente rasos, como as mulheres que se tornam amigas após perderem os maridos. O drama nunca parece imediato, as soluções surgem rápido demais e faltam tanto cenas memoráveis quanto símbolos bem trabalhados.

Dominic Purcell, Peter Feeney, Owen Black em cena de Abandonados- Copyright Lighthouse Home Entertainment
No fim, Abandonados é uma promessa desperdiçada: uma história real transformada em um filme plástico, repetitivo e sem alma. O que poderia ser uma jornada intensa de resistência humana contra a natureza se torna apenas um relato vazio de sobrevivência, que pode entreter durante sua duração, porém, não consegue deixar marcas maiores.
Abandonados estreia exclusivamente no Filmelier+ em 28 de agosto.
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