Jair Rodrigues Deixa que Digam tem direção de Rubens Rewald e fala de um ícone brasileiro. Um cantor que prezava pelo bom humor e por um suingue muito especial. Enquanto via o filme, feliz da vida, graças a uma cabine de imprensa (digital) que recebi pelo Festival É Tudo Verdade, fiz um café. A fumacinha que saía parecia vir ao som de “Disparada”, que Jair dizia ser a música de sua vida. O café era preto como Jair, forte como o Jair, estimulante e poderoso. Essa canção em especial consagrou Jair como além de sambista, para um intérprete capaz de trazer seriedade afiada e a vitória – em empate com “A Banda” de Chico Buaque – de um Festival da Canção.
Jair cantando “Terra Seca” de Ary Barroso sobre um negro trabalhador é de arrepiar. As imagens de arquivo detalham a magia do nascimento de uma música que marcou história e o maior sucesso de Jair: “Deixa Isso Pra Lá”.
O início na roça ele conta em uma entrevista. Ali vemos seu semblante ficar um pouco mais sério, mas não por muito tempo, pois o sorriso logo assume seu lugar e ilumina tudo. Ele começou cantando no coral da igreja. Com sua voz potente e o jeito de dançar, laureado por seu carisma contagiante, Jair começou a evoluir. Como é lindo ver, ainda em preto e branco o jovem Jair Rodrigues serelepe. Energia que se mantém até o último dia de sua vida, o último show – e um infarto.
Rei
Uma das graças do filme, um diferencial, é a mistura com teatro, a partir de Jair Oliveira e o direcionamento que Rubens Ewald e uma diretora teatral fornecem a ele. Vemos inclusive a preparação e a troca de ideias entre eles. São algumas inserções pontuais que pedem um espetáculo futuro.
Jair Rodrigues foi o rei negro. Zuza Homem de Mello, crítico musical, diz como ele fazia questão de manter as raízes da música brasileira.
Como é bom ver “Dois Na Bossa”, Elis Regina e Jair Rodrigues, com talento e energia surreais e a conexão que vem no final, em uma das últimas filmagens dele, onde cita a cantora, pouco antes de falecer.
Jair Rodrigues Deixa que Digam me fez admirar ainda mais e ter vontade exaltar esse cantor excelente que o Brasil teve e que deveria estar em outro patamar na história da música brasileira pelo seu pioneirismo em tantas frentes, seu talento, seu poder e sua brasilidade.
Afinal, veja o trailer:
Por fim, o filme ganha exibição no Festival É Tudo Verdade nos dias 1 e 2 de outubro de 2020.
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