Dirigido por Luiza Shelling Tubaldini, Love Kills tropeça dentro da grandiosidade de uma produção que, apesar de bela e ambiciosa, não sabe o que deseja ser
Em 2024, durante o 26º Festival do Rio, assisti a uma produção sem saber nada sobre ela. O filme era Continente (2024, Davi Pretto). Em poucos minutos, percebi que estava diante de uma obra nacional de vampiros que unia o coronelismo, ainda presente nas cidades do interior, a uma poderosa carga erótica, duas dimensões inseparáveis em sua proposta. Um ano depois, no 27º Festival do Rio, entrei em uma sessão já ciente de que se tratava de um filme de vampiros, porém, diferente da surpresa anterior, Love Kills não demonstra nem a mesma inteligência narrativa, nem a mesma criatividade daquele encontro anterior.
É importante reconhecer, antes de tudo, as qualidades estéticas de Love Kills. A cinematografia abraça uma estética neo-noir ambientada no centro de São Paulo, criando uma sensação de mundo dentro do mundo, um submundo pulsante e melancólico que vive à margem do “normal” e do “limpo”. A fotografia é corajosa, explorando sombras, brilhos e tons avermelhados que ressaltam seus personagens com elegância, especialmente na cena de sexo entre Helena e Marcos, uma das sequências mais bem compostas visualmente de um filme que somente cresce por meio de uma direção de arte admirável, traduzindo a essência dos vampiros através de diferentes tecidos, estilos e texturas, além de uma maquiagem precisa e um cuidado minucioso com cada detalhe do cenário.

Thais Lago em cena de “Love Kills”- Divulgação Festival do Rio
O problema, no entanto, está no roteiro, e apenas isso é suficiente para arrastar toda a produção por um caminho frustrante. A mitologia dos vampiros é explorada de várias formas, mas o enredo que acompanha Helena, uma vampira milenar que reencontra sua humanidade ao se apaixonar por um garçom inocente, ao mesmo tempo que é caçada por outros vampiros, se divide entre duas propostas distintas. De um lado, há um romance interessante e intimista, do outro, um filme de ação e perseguição que, devido às limitações orçamentárias, não consegue transmitir urgência nem intensidade.
Durante o debate após a sessão, Luiza Shelling Tubaldini citou Blade: O Caçador de Vampiros (1998, Stephen Norrington) como uma de suas principais referências, algo perceptível em diversos momentos, afinal, é outra produção que equilibra romance e ação, enquanto lida com temas como trauma. Luiza Shelling poderia ampliar ainda mais esta ideia, focando nos traumas do passado destes seres e rendendo uma abordagem bem mais emocional, porém, essa dimensão dramática não se sustenta, enquanto as cenas de ação carecem de ritmo e consistência.
Com pouco menos de cem minutos, Love Kills se perde em um oceano de beleza noturna, com uma trama que muda constantemente de foco, eliminando personagens sem qualquer catarse, como o caso de Victor, um personagem interessante mas que nunca recebeu a explicação devida, e oferece resoluções apressadas para conflitos centrais, como a luta final com Leander que é encerrada de forma quase banal.

Gabriel Stauffer em cena de “Love Kills”- Divulgação Festival do Rio
Em seu final, Love Kills é uma obra de contrastes. Ao mesmo tempo que é visualmente sedutora, respeitosa à tradição dos vampiros, e marcada por uma poderosa atuação de Thaís Lago, também é um filme que carece de direção emocional. Sendo denso em atmosfera, mas raso em sentimento, ficando no limiar entre o sangue e o amor, entre o noir e o neon, almejando ser mais de um filme, e terminando sem ser nenhum deles.
Love Kills participa da Competição Premiere Brasil do 27º Festival do Rio.
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