Adolescentes envolvidas em uma situação macabra envolvendo uma criatura sobrenatural, mortes misteriosas, pessoas que não acreditam apesar de todas as evidências, mais mortes e no meio disso tudo ainda sobra tempo para um romance. “Não Abra”, longa dirigido pelo indiano Bishal Dutta abraça todas as convenções do gênero “terror adolescente” para levantar questões pertinentes aos dias atuais como imigração, barreiras culturais, anular sua identidade para ser aceito, xenofobia, intolerância.
A história tem foco em Sam, jovem de origem indiana, cujo único desejo é levar uma vida “normal” como a de qualquer adolescente norte-americana. Entretanto, aí começam os conflitos: sua mãe é fiel aos costumes indianos e à religião hindu e deseja que a filha siga os mesmos passos. Por outro lado, o pai tenta ser a figura conciliadora entre as duas, sendo o mais moderado. Sam esbarra no fato de que por mais americanizada que esteja ela é sempre vista como exótica por suas amigas. Apesar de sofrer com isso ela dá as costas para Tamira, que na escola é seu único elo de pertencimento com seu povo, uma jovem, também indiana, mais arraigada aos costumes de sua origem e vista pelas outras alunas como “estranha” justamente por carregar em si fortemente os traços étnicos e culturais da Índia.
Aliás, confira uma cena de “Não Abra”, e siga lendo:
Tamira é figura que faz a trama do filme se desenrolar. De forma muito inteligente a obra mostra todas as amigas de Sam como brancas e a professora mais próxima da nossa protagonista sendo uma mulher negra. De forma sutil o filme mostra que isso terá impacto na trama. O terror está presente no longa metragem, mas está ali na função de ajudar o elenco em sua jornada e tornar o púbico cúmplice daquela família que com todas as suas falhas, imperfeições e diferenças culturais, são bem parecidas com as nossas famílias.
Realizado pelos mesmos produtores de “Corra”, o filme “Não Abra” certamente figurará entre os melhores filmes de terror de 2023. Traz uma ideia muito clara para aqueles que pertencem a grupos minoritários: que a única forma de sobreviver aos monstros e demônios é nos mantermos fiéis às nossas origens. Mas não basta isso: também é necessário se manter unido àqueles que estão na mesma condição. O final do filme explicita bem essa ideia. Outro ponto que merece destaque é a prova de que para ser fazer um bom filme com personagens cativantes não é necessário orçamentos milionários e efeitos especiais mirabolantes. Fica aí uma lição para a Marvel e DC.