Eu gosto de pensar que todas as histórias hoje consumidas pela humanidade, se originaram em três lugares: o teatro grego, os escritos de William Shakespeare e, obviamente, na Bíblia, sendo não à toa o livro mais vendido da humanidade, com mais de 5 bilhões de cópias compradas e distribuídas.
As histórias presentes na Bíblia estão inconscientemente presentes no ser humano, independente de a pessoa apresentar uma crença religiosa ou não, alguns acontecimentos cruciais da Bíblia, como a vida de Jesus Cristo, são de conhecimento popular, nem que seja por osmose ao assistir produções alegóricas como Mãe (2017, Darren Aronofsky), ou adaptações voltadas para o público infantil, como aquelas que ocorriam, e que eu mesmo lia na infância, em histórias da Turma da Mônica (1959, Mauricio de Sousa).
O Rei dos Reis é uma animação que aborda justamente estas principais marcas da vida de Jesus Cristo, acontecimentos como o seu nascimento, os três reis magos, o sermão da montanha, a santa ceia e sua famosa crucificação, porém, a diferença crucial entre esta adaptação e outras como A Paixão de Cristo (2004, Mel Gibson), e a série The Chosen (2017, Dallas Jenkins), é o modo como O Rei dos Reis intercala duas histórias, inicialmente tão distintas: Charles Dickens e a jornada do cordeiro de Deus.
Assista abaixo o trailer de O Rei dos Reis e continue lendo a crítica
Baseado em um escrito de Dickens intitulado A Vida de Nosso Senhor e publicado postumamente em 1934, a produção se inicia com uma leitura clássica de Um Conto de Natal (1843, Charles Dickens), feita pelo próprio autor e dramaturgo, que é subitamente interrompida pelas brincadeiras de seu filho Walter, que sonha em ser o grande Rei Arthur. Convencido pela esposa, Dickens decide contar para Walter a história daquele conhecido como o Rei dos Reis, uma história que, como exposto verbalmente pelo próprio personagem, inspirou a história dos cavaleiros da Távola Redonda e diversas subsequentes.

Cena da Santa Ceia em O Rei dos Reis- Divulgação oficial
Este paralelo entre o Rei Arthur, um cavaleiro que simboliza a guerra por meio de sua espada, e Jesus Cristo, um homem que é símbolo de paz entre os homens, é uma das maiores forças do filme. Por meio do conto de Dickens, o público redescobre a história de Jesus, ao mesmo tempo que a produção também serve como uma introdução à história, na medida que ele é voltado ao público infantil, sem a presença de piadinhas ou excessos como outras animações apresentam, O Rei dos Reis trata com muito respeito todos os personagens da produção, inclusive os “vilões” como o Rei Heródes.
A história apresenta um didatismo bem grande, talvez até um pouco demais em certos momentos, porém, isso é exemplificado por um motivo bem simples: estamos enxergando esta história por meio dos olhos de uma criança, e como já foi exemplificado no clássico conto A Roupa Nova do Rei (1837, Hans Christian Andersen), não existe um olhar tão lúdico e verdadeiro quanto o de uma criança, principalmente quando ela apresenta uma ativa imaginação, transmitida com toda a pompa e circunstância por meio de uma animação simples, mas, eficiente.
Claramente uma animação independente, O Rei dos Reis se inspira em personagens já vistos anteriormente de modo muito semelhante em diversas produções animadas, como o gato como expressões antropomórficas. Os maiores destaques animados do filme são os momentos que juntam o ambiente e o cenário da natureza, seja um sol ao fundo de um personagem, que constrói uma aura em sua cabeça, ou uma tempestade de raios que preenche toda a tela, e nos momentos em que realmente o século XIX de Dickens e a história de Jesus realmente se fundem em uma coisa só, fazendo paralelos simples, mas, muito eficientes dentro do objetivo da produção.
Diferente do filme de Mel Gibson, a violência do filme é apaziguada em prol de um tom lúdico, até mesmo quando é mostrado Jesus crucificado, não aparece sangue em nenhum momento, com um nítido desfoque nas mãos de Jesus, além disso, os motivos que levaram os Fariseus a optarem por sua perseguição, são exemplificados de modo extremamente simples, facilitando a compreensão de todos.

Cena de O Rei dos Reis- Divulgação oficial
Acredito que O Rei dos Reis será muito comparado com O Príncipe Do Egito (1998, Brenda Chapman, Steve Hickner e Simon Wells) em quesito do respeito e o trato dado à história bíblica, além do elenco estrelado que apresenta nomes como Uma Thurman, Mark Hamill, Oscar Isaac, entre outros.
O Rei dos Reis apresenta sessões especiais nos dias 12 e 13 de Abril, com um maior alcance a partir do dia 17, uma data propícia, afinal, dia 18 de Abril de 2025 será o feriado de Sexta Feira Santa, a data religiosa cristã que marca o dia que Jesus foi crucificado.
Ao fim, é sempre bom assistir uma animação produzida e distribuída por um estúdio independente, principalmente quando ela apresenta tanto cuidado pelo material explorado, a ponto de levar adultos aos prantos durante à sessão e emocionar pessoas com um simples trailer, este é o poder de uma história universal, e neste caso é uma das maiores já contadas.
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