Dirigido por David Midell, O Ritual retrata o exorcismo mais registrado da história, porém, ao não inovar nem na narrativa e nem no fator técnico, tem dificuldade de prender o público
Battle Royale (2000, Kinji Fukasaku) é um dos filmes favoritos de Quentin Tarantino, uma produção japonesa que conta a história de alunos de uma turma do 9º ano, que são jogadas em uma ilha para lutar pela sobrevivência. Anos depois, Suzanne Collins escreveu a saga Jogos Vorazes (2008, Suzanne Collins), que apresentava um conceito muito parecido, no qual jovens eram lançados em um arena para lutar até a morte. Tarantino defende que Jogos Vorazes plagiou Battle Royale, porém, por conta de ter feito mais sucesso do que seu irmão oriental, o argumento está perdido aí.
O Ritual sofre com algo semelhante, a produção estrelada por Al Pacino e Dan Stevens, retrata o exorcismo de Emma Schmidt, um dos mais documentados da história e inspiração para diversas produções audiovisuais sobre o tema, incluindo O Exorcista (1973, William Friedkin), considerado até hoje um dos melhores filmes de terror de todos os tempos.
Enquanto Battle Royale é um filme excelente que foi apagado por Jogos Vorazes (2012, Gary Ross), O Ritual é um filme mediano que somente demonstra como o filme de 1973 é superior em todos os sentidos, tanto em narrativa, quanto em técnica, quanto no fator medo.
Em questão de narrativa, a produção conta de um padre que perdeu a fé após a morte do irmão, e que fica responsável por anotar o andamento de sessões de exorcismo realizadas em uma jovem, por um experiente e atormentado padre, somente esta premissa, já é suficiente para percebermos um certo nível de “plágio”, porém, se considerarmos que este foi o exorcismo que inspirou a ficção de Friedkin, o caso fica ainda mais complexo.

Cena de O Ritual- Divulgação Oficial
As inevitáveis comparações, impedem que O Ritual se destaque, sendo em todos os sentidos uma versão mais fraca do filme de 1973, incluindo em seus arcos semelhantes e lavados, sem nuâncias ou os detalhes que fizeram o horror do original tão icônico para início de conversa, sendo assim, sobraria para a produção deixar sua marcar dentro da forma técnica, porém, tecnicamente o filme mais incomoda do que diverte.
Por bem, ou por mal, é inevitável fazer uma comparação entre a direção de fotografia de O Ritual, e o sitcom The Office (2005, Greg Daniels e Ricky Gervais), por conta da câmera que se assemelha a um mocumentary, o uso de zoom para se aproximar de seus personagens, handcam, entre outras escolhas equivocadas e propositais.
Enquanto estas escolha podem ser eficientes e produções do gênero found-footage como A Bruxa de Blair (1999, Eduardo Sánchez e Daniel Myrick) e REC (2008, Jaume Balagueró e Paco Plaza), em O Ritual ela é destoante, tirando a atenção do espectador e ocasionando estranheza e riso por conta de enquadramentos muito mal escolhidos, algo prejudicial em um filme deste gênero, na medida que a fotografia não recebe suporte nem da arte minimalista e pastel, e nem do som que poderia ser melhor explorado.

Cena de O Ritual-Divulgação Oficial
Existe um último fator que poderia salvar o filme, que é o fator medo, algo essencial para um terror, mas nem nisso a produção se destaca. Apesar da atuação de Abigail Cowen ser superior à de Al Pacino em certos momentos, a personagem em si não chega aos pés da potência que foi Linda Blair em O Exorcista, ocasionando uma comparação que originalmente não deveria existir.
No filme de Friedkin, o medo vinha de uma deformação e um pavor que existia em Reagan, principalmente por acompanharmos esta jornada pelo ponto de vista de sua mãe, em O Ritual, não temos este olhar externo de zelo, apesar da preocupação de Steiger com o bem estar de Emma, seu personagem não pode ser compreendido como um protetor, chegando inclusive a se exaltar e quebrar em diversos momentos, destoando muito do padre Damian no filme de 1973.
Além disso, Reagan nos trouxe cenas icônicas como o vômito, a cabeça girando, a masturbação com a cruz, entre outras questões, enquanto Emma não traz nada tão memorável, talvez por conta de um purismo, ou um receio de ultrapassar o limite e ser fiel demais às anotações de Joseph Steiger. Apesar dela lamber o braço do personagem de Stevens, puxar o cabelo da Irmã Rose, xingar e subir na parede, nada disso se equipara ao medo e surpresa que presenciamos a mais de 50 atrás, não conseguindo nem mesmo se diferenciar de todos os filmes sobre exorcismo que vieram depois.
O Ritual é um filme que foi lançado tarde demais, se fosse lançado na mesma época que O Exorcista, ou até antes, ele teria potencial de se tornar um clássico, porém, ao não inovar em sua narrativa, apresentar uma falta de originalidade nítida, e uma construção técnica que perturba o espectador, dificilmente será lembrado entre os fãs do gênero, que dirá aqueles fãs pontuais de terror.
Distribuído pela Paris Filmes, O Ritual estreia nos cinemas no dia 31 de Julho.
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