Estreia dia 2 de fevereiro “Os Banshees de Inisherin“. O novo filme de Martin McDonagh conta a história do término abrupto de uma longa amizade, na Irlanda da década de 1920, por decisão repentina de um dos amigos. Apesar de uma sinopse aparentemente bem simples, o filme vai muito além e traz temas que são apresentados de forma reflexiva e, por vezes, satírica.
A fragilidade das relações humanas
Em um dia comum, Pádraic Súilleabháin (Colin Farrell) caminha para encontrar seu grande amigo Colm Doherty (Brendan Gleeson), para irem ao pub da ilha de Inisherin, como sempre fazem. Porém, Colm não abre a porta, não responde e ignora seu convite.
Pádraic pensa então que ele fez ou falou algo que o amigo não gostou. Todos no pub acham que eles brigaram e precisam fazer as pazes. Mas, Colm acaba dizendo que não gosta mais de Pádraic e que por ele, a longa amizade de ambos acabou ali.
A partir desse conflito, aparentemente simples, a trama se desenvolve de uma maneira que o espectador se envolve com os personagens, suas decisões, seus receios e percebe como as relações humanas podem ser frágeis e mudam de uma hora para a outra.
Como aproveitar a vida?
Pádraic e Colm têm personalidades tão opostas que este contraste entre ambos é o grande trunfo do roteiro que prende nossa atenção. Pádraic conduz o espectador, e serve como fio condutor à medida em que vai se surpreendendo com acontecimentos à sua volta. O enigmático Colm, porém, mantém o mesmo espectador na constante curiosidade e incerteza do desenrolar da trama.
Outros personagens vão se envolvendo no impasse entre ambos, como a irmã de Pádraic, Siobhán (Kerry Condon) e Dominic (Barry Keoghan), filho do policial da ilha. Seus próprios conflitos e dilemas vão sendo desenvolvidos e se emaranhado com outros pontos reflexivos sobre simplicidade, confiança, lealdade e busca por oportunidades.
Os Banshees de Inisherin
Eventualmente, Colm compõe uma música e diz que o título será “Os Banshees de Inisherin”. Em suma, um Banshee é um ser da mitologia celta que pode prever a morte. A morte e o temor dela é o que ronda a vida dos habitantes da ilha. Seja pela guerra civil que acontece no continente, seja pelo receio da finitude da própria vida, sem que se deixe uma marca para a posteridade.
O roteiro de Martin McDonagh se apoia em reviravoltas e momentos insólitos. Mas, a sua direção conduz a trama de maneira que não há exagero, nem caricaturas exageradas dos personagens. O espectador pode dar algumas risadas, porém elas não advém de um humor barato. Mas de inquietações quanto a tensão das situações e as reflexões que elas geram.
A tensão da história contrasta, inclusive, com a bela e bucólica paisagem da fictícia ilha de Inisherin, cujas filmagens ocorreram nas ilhas de Inishmore e Achill (ambas localizadas na Irlanda). A ilha de longe é bela e inspiradora, mas ao adentrar-se nos locais e conhecendo-se os habitantes, só se percebe mesquinharia, desilusão e a sensação de uma vida desperdiçada.
Atuações
O filme reedita a parceria do diretor Martin McDonagh com a dupla de protagonistas de seu primeiro longa “Na mira do chefe”, de 2008. Suas atuações, em especial a de Farrel, são impressionantes para tornar crível e envolvente uma história de relacionamentos, que se desenvolve do cômico para o trágico de forma bastante natural.
Os coadjuvantes Kerry Condon e Barry Keoghan também brilham no filme. De forma muito justa, os quatro atores foram indicados ao Oscar por suas atuações. Embora seja um filme baseado totalmente no texto e nos diálogos, em momento algum ele se torna tedioso e cansativo.
Onde assistir
O filme vem recebendo diversos prêmios internacionais, incluindo no Festival de Veneza, onde recebeu aplausos por 15 minutos, e o Globo de Ouro, tendo recebido o prêmio de melhor filme (musical/comédia). Além disso, também está indicado a 9 prêmios no Oscar.
A estreia de “Os Banshees de Inisiherin” no circuito dos cinemas é no dia 02/02. Consulte a rede de cinemas de sua cidade para encontrar sessões disponíveis.
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