Dirigido por Shinnosuke Yakuwa, Totto-Chan: A Menina na Janela é linda e ágil animação sobre amizade, otimismo e a importância de termos sempre um apoio
Assim como em Anne of Green Gables (1902, L.M.Montgomery), Totto-Chan: A Menina na Janela parte de uma menina “diferente”, energética, falante, curiosa, que desafia as normas sociais de comportamento, sendo uma criança que pergunta demais, que se encanta com o trivial e que busca compreender o mundo à sua volta de forma genuína e espontânea, mas enquanto Anne vive em um universo quase idílico, Totto-Chan existe em um tempo determinado: o Japão da década de 1940.
A escolha temporal estrutura um paralelo fundamental para a produção, a escola onde Totto-Chan é acolhida, representa a liberdade em meio a uma sociedade que valoriza obediência e disciplina rígida, enquanto seu diretor, funciona como uma metáfora de resistência: ele acredita que a verdadeira educação nasce da curiosidade, da escuta e da individualidade de cada aluno, por conta disso que se torna um modelo tão importante para Totto-Chan.

Cena de “Totto-Chan: A Menina na Janela”- Divulgação Sato Studios
Visualmente, o filme reforça um dualidade entre sonho e realidade. Nos primeiros momentos, a animação, desenhada em 2D com paleta suave e contornos esmaecidos, parece flutuar em uma atmosfera quase onírica. Há algo do Studio Ghibli em sua simplicidade e em seu amor pelo detalhe: o vento nas árvores, os risos no pátio, o som distante dos trens, mas conforme a guerra se aproxima, a luz vai diminuindo, os tons tornam-se frios e o branco cede lugar ao cinza.
Essa transformação cromática não é apenas estética, mas também interna: o mundo de Totto-Chan é cada vez mais consumido pela realidade, enquanto a guerra invade a infância, e o espectador é lembrado de que somente a imaginação, não pode impedir o sofrimento, ou mudar o mundo.
O relacionamento entre Totto-Chan e Yasuaki, um colega da escola que apresenta poliomielite, é um dos pontos mais sensíveis da narrativa, afinal, Totto-Chan não enxerga Yasuaki pela deficiência, mas pela curiosidade e pelo senso de criança que apresentam, e da mesma forma que o diretor apoio Totto-Chan, permitindo que ela crescesse e florescesse, ela fez o mesmo com o solitário menino, permitindo que ele não se sentisse menos, somente por conta de uma doença, uma importante lição para todos.
Poucas animações tratam com tanta delicadeza de temas como doença, perda e mortalidade, especialmente em um contexto infantil, mas Yakuwa nunca explora a tragédia pelo drama: ele o faz pela ternura, deixando que o espectador sinta a dor silenciosa de crescer em meio ao colapso.

Cena de “Totto-Chan: A Menina na Janela”- Divulgação Sato Studios
Ao fim, Totto-Chan: A Menina na Janela é mais do que uma animação sobre uma menina encantadora; é uma reflexão sobre como a humanidade pode sobreviver em tempos desumanos. Shinnosuke Yakuwa constrói uma obra que emociona sem manipular e que reafirma o poder transformador da bondade e da imaginação.
Em meio às sombras da guerra, Totto-Chan continua sorrindo — não por ignorar a dor, mas por acreditar, com a força da infância, que ainda há beleza no mundo. E talvez seja essa a lição que o filme oferece aos espectadores: tudo bem continuar sonhando, mesmo quando o mundo insiste em nos dizer o contrário.
Distribuído pela Sato Company, Totto-Chan: A menina na Janela estreou no dia 09 de Outubro.
Siga-nos e confira outras dicas em @viventeandante e no nosso canal de whatsapp !



