Jimmy Cliff, um dos pilares do reggae mundial e um dos poucos artistas jamaicanos reconhecidos ainda em vida como Patrimônio Cultural do planeta, morreu hoje aos 81 anos. O cantor, compositor e ator, figura essencial para a expansão internacional do reggae nos anos 1970, deixa uma obra monumental marcada por espiritualidade, políticas de resistência e melodias imortais.
Cliff projetou o reggae para além da Jamaica muito antes de Bob Marley se tornar um símbolo global. Seu protagonismo no filme The Harder They Come (1972), e canções como “You Can Get It If You Really Want”, “Sitting in Limbo” e “Many Rivers to Cross” moldaram o gênero e influenciaram gerações inteiras de artistas no Brasil e no mundo. Sua morte encerra um ciclo, mas seu legado segue pulsando em cada artista que entende o reggae como veículo de consciência, beleza e identidade.
Pessoalmente, cresci escutando na rádio cancões como a linda e melódica “Rebel in Me”, I can see clearly now”, “Reggae Night”, e tantas outras.
E justamente hoje, em meio ao luto global, trago três lançamentos importantes que conversam com a força criativa de Jimmy Cliff: Alborosie, IZA e Marcelo Falcão revelam novos trabalhos ligados ao legado de resistência, espiritualidade e ancestralidade que o artista eternizou.
Alborosie lança “Trench Town Legend” e homenageia o poder global do reggae
O cantor e produtor siciliano-jamaicano Alborosie lançou o single “Trench Town Legend”, homenagem direta ao berço do reggae e à linhagem de artistas que moldaram sua estética, entre eles, Jimmy Cliff.
A faixa, parte do álbum Nine Mile, é uma meditação sobre o alcance mundial do gênero, entrelaçando referências a Marley and the Wailers e explorando Trench Town com respeito e reverência. Gravado em Kingston, no estúdio Shengen, o single une lirismo consciente, estética clássica e texturas modernas, um gesto que reforça como o reggae segue vivo, evoluindo, dialogando com tempos complexos sem perder sua espiritualidade.
Alborosie, que retorna ao Brasil em outubro para uma turnê especial, se estabelece hoje como uma das maiores vozes globais do reggae contemporâneo, expandindo fronteiras com autenticidade, exatamente como Jimmy Cliff fez em sua época.
IZA mergulha no reggae e na ancestralidade em “Caos e Sal” e “Tão Bonito”
No Brasil, IZA estreia oficialmente sua fase reggae com os singles “Caos e Sal” e “Tão Bonito”. A artista, que sempre dialogou com espiritualidade, crítica social e ancestralidade, aprofunda sua conexão com as matrizes africanas e afro-diaspóricas, algo que Cliff sempre considerou central em sua obra.

Inspirada por Kemet (antigo Egito), pela Etiópia e pelo Maranhão, IZA constrói uma estética visual própria, com texturas, pigmentos ancestrais e referências a Bastet, Nefertiti, Cleópatra e aos Adinkras. Musicalmente, ela transita entre reggae, afrobeat, R&B e groove moderno, evocando mensagens de paz, força e consciência política, pilares que Jimmy Cliff defendeu ao longo de toda a vida.
Em “Caos e Sal”, IZA canta sobre proteção ancestral e enfrentamento das estruturas de poder; em “Tão Bonito”, entrega leveza e sensualidade num reggae romântico de forte identidade afro-brasileira. Sua entrada no gênero confirma que o reggae continua a produzir novas linguagens e conectar gerações.
Marcelo Falcão lança “Fela Kuti”, faixa que une reggae, rap e ativismo
Marcelo Falcão, uma das vozes mais marcantes do reggae nacional, lança “Fela Kuti” como prévia de seu próximo álbum, O Legado. A música, que chega com participação de Major RD, nasce como tributo ao ativista e criador do afrobeat, mas carrega também a força espiritual e social que Jimmy Cliff sempre incorporou.
Com fusão de reggae, rap, groove e batidas urbanas, Falcão canta sobre superação, verdade e consciência:
“Pode deixar, vou me organizar, fazer meu sonho se realizar / Escalando o sucesso ouvindo o disco do Fela”.
A faixa reafirma a posição do artista como uma das vozes que mantém viva a relação entre música negra, identidade e crítica social.
Afinal, a morte de Jimmy Cliff representa a despedida de um dos últimos grandes arquitetos do reggae original. Mas o movimento segue vivo, múltiplo e em expansão. Entre Kingston, Rio de Janeiro, Recife, Maranhão e Trench Town, artistas como Alborosie, IZA e Marcelo Falcão mostram que seu legado se transforma, se renova e continua acendendo caminhos.
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Jimmy Cliff abriu portas e eternamente ecoará a mensagem universal que carregou durante toda a vida: paz, liberdade, justiça e a certeza de que a música negra é força, cura e futuro.



