A obra de Chico Science e sua querida Nação Zumbi transformou o rock brasileiro nos anos 90. O artista pernambucano trouxe sua manguebeat para escancarar os problemas de sua amada Recife. Com isso, o país conheceu uma sonoridade única que alcançou um reconhecimento além de nossas fronteiras.
E o disco que começou tudo isso foi Da Lama ao Caos, lançado em 1994. Ou seja, 30 anos se passaram e era hora da nossa Nação comemorar. E o palco escolhido para essa celebração foi o icônico Circo Voador, no Rio de Janeiro.
The Baggios abre a noite
Mas antes, o público que foi entrando devagar, foi se chegando quando The Baggios, a banda de abertura, começou a tocar. O trio de Sergipe, que já chegou a ser indicado ao Grammy Latino, também comemorava 20 anos de carreira.
Júlio Andrade (voz e guitarra), Gabriel Carvalho (bateria) e Rafael Ramos (piano, órgão e baixo) apresentaram seu blues rock psicodélico de álbuns premiados como Brutown (2016) e Vulcão (2018).
Quem viu, não esqueceu. E saiu querendo mais. Destaque para o show de guitarra praticado por Julico, como o vocalista também é conhecido.
Nação Zumbi começa a ode ao manguebeat
Pouco tempo depois, entre uma cerveja e outra esperando a atração principal, o público foi chegando para se amontoar próximo ao palco. Provalmente para se proteger do frio no Rio de Janeiro. Mas se na Cidade Maravilhosa havia uma noite gelada, dentro do Circo Voador, o caldeirão fervia quando a Nação Zumbi entrou em cena.
Liderados pelo vocalista Jorge Du Peixe, Dengue, Toca Ogan, Marcos Matias, Gustavo Da Lua; Tom Rocha e Neilton Carvalho incendiaram os presentes que lotaram a casa carioca. Como uma espécie de ode ao movimento manguebeat idealizado por Chico Science – e Fred Zero Quatro, do Mundo Livre S/A, o que vimos foi uma apresentação na íntegra de Da Lama ao Caos.
Que a catarse viria, isso era óbvio, mas o mais interessante na noite desta última sexta-feira (19) foi ouvir clássicos com uma roupagem ainda moderna e letras extremamente necessárias. Essa contracultura brasileira dos anos 90, e criada na cidade de Recife, segue se destacando pela combinação original de ritmos regionais, como o maracatu, ao rock, hip hop, funk e música eletrônica.
Paulada atrás da outra
A química da Nação com seus fãs sempre foi um espetáculo à parte. Mas especialmente ontem parecia ter um elemento a mais: a emoção. Entre uma música e outra, Jorge Du Peixe contava uma história do disco e o quanto Chico Science era um gênio.
Aliás, o artista que morreu em 1997 num infeliz acidente de carro, se vivo estivesse, talvez seria o músico mais incomodado com a situação do país que ele tanto quis que fosse justo. Canções como Banditismo por uma questão de classe, A cidade e Da Lama ao Caos, mostram ainda a inquietação de um ícone atemporal da nossa cultura.
Após executar todo o clássico disco, a Nação Zumbi não poderia encerrar sem algumas outras pauladas que o público também ansiava escutar. Assim sendo, todos saíram satisfeitos ao terminarem sua noite com músicas como Foi de amor, Manguetown, Meu maracatu pesa uma tonelada, Quando a maré encher e Maracatu atômico.
Por fim, vale dizer que os ingressos para o show de celebração dos 30 anos de Da Lama ao Caos haviam se esgotado de forma quase recorde. E a vontade de vê-los era tão grande e saudosa que o Circo Voador acabou disponibilizando uma data extra: 16 de agosto.
Desse modo, a emoção do reencontro com o amor pelas músicas de Chico Science e Nação Zumbi tem um novo dia para ser vivido. Aconselhamos não perder dessa vez!
Set List Nação Zumbi:
Monólogo ao pé do ouvido
Banditismo por uma questão de classe
Rios, pontes & overdrives
A cidade
A praieira
Samba makossa
Da lama ao caos
Maracatu de tiro certeiro
Salustiano Song
Antene-se
Risoflora
Lixo do mangue
Computadores fazem arte
Côco dub (Afrociberdelia)
Bis:
Foi de amor
Manguetown
Meu maracatu pesa uma tonelada
Quando a maré encher
Maracatu atômico (Jorge Mautner cover)