Estreia neste fim de semana, o novo filme de François Ozon: “O crime é meu”. O filme é uma adaptação livre de uma peça homônima de Georges Berr and Louis Verneuil, que já havia sido lavada para as telas duas vezes por Hollywood. Nessa versão há uma mescla entre gêneros difíceis de se conciliarem, mas que aqui funcionam perfeitamente.
Ozon conduz uma mescla de temas sérios e atuais de uma forma amena e, por muitas vezes, cômica. Desde a luta pelos direitos das mulheres, ao sensacionalismo da alta indústria midiática e a noção do que é justo ou não. Todos, inclusive, temas bastante atuais, quase um século depois da produção da obra original.
De quem é o crime?
A mise-en-scène do filme é incrível, com diálogos e atuações afiadíssimas. Além, da ótima montagem que contribui no ritmo preciso do filme. É bom destacar também o excelente trabalho da direção de arte que recriou de forma brilhante a França da década de 1930.
A jovem atriz Madeleine Verdier (Nadia Tereszkiewicz) está em busca de um importante papel no cinema. Porém, ao se reunir com um famoso produtor, ela escapa de uma tentativa de estupro pelo figurão, em sua mansão. Horas depois, a polícia a acusa de tê-lo assassinado.
Nem tudo é o que parece ser
Começando como um filme dramático de investigação, o roteiro toma uma guinada inesperada quando entra em cena a célebre estrela do cinema mudo: Odette Chaumette (interpretada estupendamente por Isabelle Huppert). Ela traz um elemento que torna a farsa ainda mais incrível.
Quando Georges Méliès começou a fazer seu cinema fantástico no final do século XIX, ele mostrou que no cinema, assim como na vida, nem tudo é o que parece ser. Esse é o mote básico de “O crime é meu”. O roteiro brinca o tempo todo com essa noção do que seria mais louvável. Manter uma mentira por conveniência ou revelar a verdade por alguma questão moral?
Homenagem ao cinema
Assim como François Truffaut, Ozon utiliza a narrativa e a estética de seu filme para homenagear o cinema. Mais especificamente, uma época do cinema já bem distante. Seja nos cortes de imagem se fechando, típicos do cinema mudo. Seja nas músicas exageradas e nas situações cômicas frenéticas das comédias clássicas dos anos 1930.
Essas duas gerações, inclusive, se deparam no filme. Unidas pelo teatro que deu origem, junto a outras artes, ao cinema e que também é a fonte original do roteiro. Há, até, homenagem aos cinejornais, cujo formato é utilizado nas cenas de flashback, como forma de recriação audiovisual dos “fatos”.
Muitas reviravoltas
Madeleine vive com a amiga Pauline Mauléon (Rebecca Marder). Ambas estão com o aluguel atrasado, o que a princípio parece ser uma clara motivação para o crime. Pauline defenderá a amiga. O que a princípio parecia o fim do poço, pode acabar se tornando a oportunidade que ambas estavam esperando.
Apesar de tantas reviravoltas, nada é muito previsível ou forçado. Afinal, nem tudo é o que parece ser. Algo que é bem aproveitado pelo roteiro no fato da personagem de Madeleine ser uma atriz, e que de certa forma precisa “atuar” em seu julgamento. Os outros personagens, embora não sejam atores, todos parecem interpretar de certa forma, a imagem que eles querem transmitir. Tal qual o cinema que nos transmite um recorte da realidade, mas não a realidade em si.
Personagens secundários hilariantes
Além das ótimas protagonistas e um roteiro inteligente cheio de reviravoltas, o filme apresenta também uma penca de personagens secundários extremamente hilariantes. Em síntese, personagens como o delegado bufão Rabusset (Fabrice Luchini) e seu auxiliar debochado Trapu (Olivier Brocheo), e o playboy André Bonnard (Édouard Sulpice), grande paixão de Madeleine.
Onde assistir
Em suma, o filme aparece como uma boa alternativa para os lançamentos atuais e quase onipresentes de blockbusters de Hollywood. Além disso, é uma ótima opção para um bom programa de cinema, onde você pode rir e também refletir um pouco sobre alguns assuntos.
Por fim, consulte a rede de cinemas de sua cidade para encontrar sessões disponíveis.