A novidade da semana é o filme “Uma voz contra o poder” (“Percy Vs Goliath”) (2020), de Clark Johnson. O filme é baseado na história real do fazendeiro canadense Percy Schmeiser. Eventualmente, ele teve que enfrentar uma batalha legal contra a Monsanto, empresa gigante do agronegócio, em 1998.
Frequentemente, ao longo de décadas, a Monsanto criou produtos extremamente nocivos e colecionou polêmicas por suas atitudes que ameaçam a existência dos pequenos agricultores. Ao passo que em 2015, Neil Young gravou um disco de protesto contra a empresa, chamado “The Monsanto years”, inclusive atacando a Starbucks, por sua parceria com a multinacional.
Primeiramente, Percy Schmeiser era um agricultor que armazenava sementes. Vindo de uma geração que se especializou neste método para ter sempre as melhores à disposição, ele nunca havia comprado nenhuma sementes de qualquer outra pessoa ou empresa. No entanto, a Monsanto o acusou de roubo de patente de uma semente geneticamente modificada.
Uma batalha contra o poder
A situação parece totalmente absurda, talvez saída de algum filme de cenário distópico. Como alguém pode ser acusado de roubar algo que plantou? Percy, a princípio fica nessa perplexidade, assim como o espectador, que pelo menos não conhecia ainda a história. Peritos da Monsanto analisaram a terra da fazenda de Percy e constataram a presença das sementes. O advogado de defesa alega que elas podem ter ido parar lá por obra do acaso, como vento. Afinal, sementes se espalham assim.
Mas para a empresa, isso não importa. A lógica da grande corporação é: o agricultor é quem tem a obrigação de averiguar se sementes patenteadas estão, ou não, em suas terras. Além da noção absurda de se patentear um elemento da natureza, há também a ironia no fato de que a Monsanto tem recursos para averiguar o “uso indevido” de suas sementes, mas não para evitar o mesmo. Parece um modus operandi bem conveniente. Ainda mais se levar em conta que a semente é geneticamente modificada para resistir a um agrotóxico criado pela própria empresa.
Davi contra Golias
O caso de Percy começa a chamar bastante atenção da mídia e do público em geral. A princípio, relutante em dar entrevistas, ele acaba entendendo a importância de sua batalha. O que parecia apenas um desafio para provar sua honra e o legado de sua família se transformou em um combate em nome de milhares de fazendeiros ao redor do mundo. Uma verdadeira luta de Davi contra Golias, como o título original sugere (Percy vs. Goliath).
A atuação de Christopher Walken é precisa e impressionante. Ele personifica a simplicidade e a perseverança de Percy de forma eficiente e cativante. Destacam-se também a excelente Christina Ricci no papel de uma ativista que vê na história a oportunidade de se batalhar contra o trigo transgênico da Monsanto, e Zach Braff (da série “Scrubs”), que interpreta o advogado inexperiente, que leva o caso até suas últimas consequências.
Uma jornada contra o poder
O filme segue a tradição de outros que mostram a batalha de uma voz solitária contra o poder estabelecido. Até que ponto uma pessoa pode mudar o mundo, ou um pequeno aspecto dele? Até que ponto vale a pena arriscar tudo que se tem em nome de tantas milhares de pessoas? Essa é a reflexão que Percy tem que enfrentar.
Como Percy diz em determinado momento do filme: precisamos nos unir. Os métodos de intimidação que a Monsanto, e muitas outras empresas, utilizam em casos assim, visa dividir as pessoas. O filme nos mostra que, embora essas empresas tenham dinheiro e poder, elas não têm a determinação que uma pessoa, como Percy, pode ter para lutar contra as injustiças do mundo.
Mas não há idealização da jornada de Percy. Pelo contrário, o filme deixa bastante claro que falar por aqueles que não tem voz pode ser uma carga pesada, que nem todos conseguem suportar. Por outro lado, pode-se inspirar outras pessoas e gerações a não desistirem de suas lutas. Por fim, o filme é um excelente veículo para entender a lógica e o funcionamento do agronegócio, especialmente em meio ao momento que vivemos no Brasil, como na aprovação da “PL do veneno”.
O filme “Uma voz contra o poder” está disponível nas seguintes plataformas digitais: Claro Now, Vivo Play, iTunes/Apple TV, Google Play e YouTube Filmes. A distribuição é da Synapse Distribution.