O músico pernambucano Heraldo do Monte tem uma carreira tão extensa quanto importante para a história da música popular brasileira instrumental. Aos 85 anos, o músico ganha agora uma publicação dedicada à sua obra: “As cordas livres de Heraldo do Monte”. O livro mostra como a vida do músico se confunde com a própria história da guitarra elétrica no Brasil.
Além disso, traz também o conjunto completo de sua obra em partituras, juntamente com um CD coletânea que esboça sua trajetória musical. A publicação é a primeira da série Brasil de Dentro, criada pelo Instituto Çarê para sistematizar, editar e difundir obras de compositores brasileiros, e conta com a parceria da editora Contraponto.
“As cordas livres de Heraldo do Monte” destaca o trabalho pioneiro do músico que introduziu a viola de dez cordas na música popular brasileira. Ademais, como guitarrista, desenvolveu uma linguagem de improvisação com referências sonoras na cultura brasileira. Certamente, sua obra tornou-se uma referência no cenário da música instrumental. Obteve reconhecimento não só nacional, mas também de diversos artistas internacionais.
O estudo
Inicialmente, suas primeiras experiências como instrumentista foram em rodas de choro do seu bairro, nas quais tocava clarinete, violão e bandolim.
“Estudei música por puro amor, acho que ela é uma espécie de deusa que escolhe pessoas e as escraviza com sua beleza. O acaso me puxou para ser profissional”, diz Heraldo do Monte.
Posteriormente, Heraldo do Monte integrou importantes grupos da história da música popular brasileira como o Quarteto Novo, ao lado de Theo de Barros, Airto Moreira e Hermeto Pascoal, em 1967. Afinal, o grupo acabou tornando-se um trabalho referencial na música instrumental brasileira por utilizar elementos sonoros da cultura nordestina na sua construção e não a sonoridade dos jazz-trios, como era comum na época.
Também integrou Dick Farney Trio, Heraldo E Seu Conjunto Bossa Nova, Grupo Medusa, Hermeto Pascoal & Grupo, Os Cinco-Pados, Walter Wanderley & Seu Conjunto. Em 1970, gravou seu primeiro disco solo.
Aliás, ouve só a genialidade, e siga lendo:
“Uma vez profissional, me senti como um operário anônimo, dedicado, disciplinado e responsável pelo sustento de minha família. Trabalhei em casas noturnas, com carteira assinada, CLT, como qualquer operário”, relembra o músico.
Atuou em discos ao lado de artistas como Teca Calazans, Elomar Figueira Mello, Paulo Moura e Arthur Moreira Lima, Zimbo Trio e inúmeros outros. Aliás, foi um dos instrumentistas que mais atuou em estúdios de gravação no Brasil.
Seus discos Cordas Mágicas e Cordas Vivas são referenciais no que toca à utilização das cordas dedilhadas no contexto da música instrumental.
Brasil de Dentro
O Instituto Çarê faz de “As cordas livres de Heraldo do Monte” a sua primeira publicação da série intitulada Brasil de Dentro. Isso é por acreditar que o passo inicial para um país se tornar grande seja reconhecer a sua própria cultura como ponto de referência e de partida na construção de uma identidade nacional. A publicação foi uma iniciativa da artista plástica e educadora Elisa Bracher e do músico e professor Ivan Vilela. Além disso, teve uma equipe de profissionais como Budi Garcia, pesquisador que assina o texto sobre a história e o universo sonoro do músico, Luis do Monte, que realizou a maior parte das transcrições e de Edmilson Capelupi e Toninho Carrasqueira, que realizaram a revisão musical ao lado do próprio compositor, entre outros.