Moonage Daydream é um filme escrito, dirigido e editado por Brett Morgen (The Kid Stays in the Picture, Kurt Cobain: Montage of Heck, Jane). É um tipo de documentário, mas que busca uma imersão na arte e na música de David Bowie.
A partir de muitas imagens de arquivo, entre outras sequências caleidoscópicas e coloridas, junto com performances inéditas, Brett conta a história de um artista que prezou pela mudança. Morgen passou quatro anos montando o filme, e mais 18 meses projetando a paisagem sonora, animações e paleta de cores. Resultou num trabalho primoroso.
Para o filme, a equipe de som remixou e traduziu os temas originais de Bowie. Ouvir isso no cinema, na sala escura, coloca o espectador em outra dimensão. Em muitas vezes a impressão é de estar num show, vendo Bowie no telão, junto com o público hipnotizado. A vivência é ampliada se for numa sala IMAX, como foi a cabine de imprensa em que participei.
Vida transitória
Para esse jornalista, cuja área de maior interesse é a cultural, o filme trouxe um conjunto de reflexões sobre o que é a arte e a transitoriedade da vida. São temas-chave da película e do caminho de Bowie. Desde sua juventude, num estilo andrógino, assumindo uma bissexualidade e chocando a sociedade britânica, até a descoberta de um amor hétero, é cativante procurar entender a jornada de David Bowie em busca de si mesmo.
Aliás, veja o trailer de Moonage Daydream, e siga lendo:
Budismo, teatro Kabuki, a magia de Crowley, tudo isso faz parte da persona do artista. Assim como Bowie, o filme é múltiplo e passa pela história do século 20. Vemos cenas de muitos filmes, como Nosferatu, que surge várias vezes, talvez dando a entender que David é um tipo de vampiro? Há terror, drama, e muita música, claro.
A edição é frenética na maior parte do tempo, mas em certo momento desacelera, dando um respiro ao espectador. Ali é quando Bowie também parece desacelerar. Muda de lar, sai de Los Angeles para Berlim Ocidental, muda novamente de estilo até chegar aos anos 80.
Moonage Daydream é longo, e chega a ser cansativo, mas instigante em seu mergulho no caos artístico do personagem abordado. É realmente uma experiência cinematográfica e, mais relevante que isso, transcende em suas colocações sobre a complexidade do ser humano. “O artista não existe. É uma invenção do imaginário do público”, diz Bowie em certo momento. Ele flerta com o caos, resolve abraçá-lo, se inspira dessa forma, até chegar ao equilíbrio. Um garoto espacial.