Adivinha, doutor, quem está de volta na praça! Sim, eles mesmos! Após 22 anos, o Planet Hemp retorna com sua sagaz crítica social e seu caldeirão de hardcore, hip hop, ragga, funk e outros elementos modernos em Jardineiros, provando que a banda nunca perdeu sua essência de criar sua própria sonoridade.
Jardineiros é o quarto álbum de estúdio de Marcelo D2, BNegão, Formigão, Pedro Garcia e Nobru, e era evidente que o alvo era a política brasileira, em especial, você-sabe-quem.
Yuka e Criolo
A abertura com uma frase do falecido Marcelo Yuka é emblemática até estourar no primeiro single “Distopia”, que já tem clipe lançado com o rapper Criolo. A abertura vem com um rock seco e direto, mas não dá a ideia do mix sonoro que seremos apresentados.
Isso porque logo depois chega o hardcore punk rock de “Taca Fogo”, lembrando os bons e velhos anos 90. Mas a banda não seria a mesma se não apresentasse o seu famoso “Raprocknrollpsicodeliahardcoreragga”, que garante uma sequência de canções que são o suprassumo do que é o Planet Hemp.
Roda de pogo, ska, rock eletrônico
“Puxa Fumo”, “O Ritmo e a Raiva” (com participação do onipresente Black Alien), “Jardineiro”, “Amnésia” ou “Meu Barrio”, esta última com o rapper argentino Trueno como convidado: enfim, escolha sua faixa preferida aqui.
Mas abra espaço na sala para a roda de pogo quando entrar os acordes de “Fim do Fim” ou o ska de “Eles Sentem Também”. Não adianta, é uma música boa atrás da outra.
E sim, é evidente que se fala de maconha a cada faixa, mas as críticas sociais de D2 e BNegão amadureceram com o tempo e fica ainda mais claro o quanto se sentiu falta dessa visão no caos brasileiro de hoje. Um exemplo disso é o funk trap de “Ainda” com duo Tropkillaz.
O final com o rock eletrônico de “Veias Abertas”, que tem a presença forte do trio carioca Tantão e Os Fita, assim como “Onda forte”, com sample da funkeira MC Carol, trazem a sensação de que os caras estão mais antenados com o mundo musical do que sempre soubemos.
Em meio às eleições
Jardineiros é uma experiência sonora: moderno, saudoso (o falecido fundador e amigo Skunk é celebrado várias vezes) e altamente comercial. Prepare-se para ouvir muito essas músicas por toda as caixas de som do Brasil.
Aliás, talvez seja emblemático que o Planet Hemp volte com Jardineiros uma semana antes das eleições mais importantes da história do Brasil. A invasão dos sagazes homens-fumaça era exatamente o que estávamos precisando.
Crítica originalmente publicada no site Ultraverso há um ano pelo jornalista Cadu Costa, agora no Vivente Andante.