Novo longa de Carolina Markowicz é um dos destaques do ano
2023 foi um ano agitado nos cinemas. Vimos o fenômeno “barbenheimer” lotar as salas de exibição, porque fomos convencidos de que essas eram obras imprescindíveis. Também nos deparamos com uma infinidade de franquias hollywoodianas, já bem conhecidas do grande público, disputando as bilheterias – e o nosso dinheiro. E nunca foi tão discutida a tão falada fadiga dos filmes de super – heróis, que cada vez arrecadam menos em bilheteria (com raríssimas exceções).
Quando achávamos que nada mais nos surpreenderia, eis que neste final de ano somos presenteados com uma grata surpresa: “Pedágio”, longa metragem com uma direção sensível de Carolina Markowicz que não por acaso foi o filme mais premiado do Festival do Rio 2023.
“Pedágio” nos coloca diante de Suellen, vivida de forma sublime por Maeve jinkings. Suellen é uma cobradora de pedágio, que vive uma rotina triste em um mundo onde não há perspectiva de mudanças e parece que não há possibilidade de escapar daquela realidade. E realmente não há. O filme nos coloca naquele mundo de poucas cores, pobre, violento, sem glamour. Violência aqui pode assumir diversas formas, não apenas aquela a qual estamos habituados.
“Pedágio” tem um elenco primoroso e todos têm a sua oportunidade de brilhar.
Tal como a protagonista Suellen, aquele lugar onde se desenrola a trama é duro, maltratado pelo tempo e pela própria vida. A gentileza passou longe dali. A gentileza passa longe daquelas vidas. O grande mérito do longa é a humanidade de seus personagens; por mais que algumas atitudes ali tomadas nos pareçam condenáveis, no fundo todas buscam, ao seu modo, uma forma de ser feliz e tentar amenizar aquela realidade sofrida. Também, ainda que por meios questionáveis, existe uma preocupação e um cuidado com quem se ama, mesmo por modos tortuosos.
O grande destaque do filme é o ator Kauan Alvarenga, que vive Tiquinho, filho da protagonista. Em sua primeira aparição somos enganados, pois parece que Tiquinho será um estereótipo, uma caricatura, mas logo o personagem toma pra si a sua própria história e emociona. Somos levados a rir e a chorar com ele, e o riso muitas vezes é de nervoso e denúncia.
Os coadjuvantes são um show a parte. Não estão ali como figuras decorativas, mas cada um tem o seu peso e suas atitudes atravessam nossa protagonista Suellen e a levam a tomar suas decisões. “Pedágio” é um filme que merece ser visto e nos diz muito sobre o Brasil de hoje.
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