Dirigido por Caco Souza, Atena se perde em um direcionamento equivocado para uma interessante narrativa, resultando em um filme sem destaque temático ou estético
A temática do vigilantismo é tão antiga quanto o próprio cinema. Quando a sociedade se depara com a ineficiência dos que deveriam fazer cumprir a lei, cresce a tendência pela justiça com as próprias mãos, e com ela surgem histórias que discutem as implicações morais e éticas dessas ações. Personagens como o Batman exploram essas nuances, levantando questões como “Quem vigia os vigilantes?”. No entanto, para que tais tramas funcionem, é essencial que ofereçam sentido e alguma forma de satisfação ao público, algo que Atena infelizmente não entrega.
O filme acompanha a trajetória de uma justiceira que, movida por traumas do passado, decide punir abusadores, inclusive marcando seus corpos com feridas visíveis, para que todos saibam de seus crimes. No entanto, quando descobre o paradeiro de seu próprio pai, ela decide confrontar o maior de seus fantasmas.
Apesar da premissa interessante, a execução deixa muito a desejar. Problemas técnicos básicos comprometem a experiência: microfones aparecendo em cena, trechos com o áudio mutado, um design de som que desequilibra falas, ruídos e trilha sonora, além de uma montagem truncada e redundante, enfatizando acontecimentos e sentimentos já compreendidos pelo público. A atuação tenta sustentar a narrativa, mas esbarra em um roteiro frágil, que desperdiça grande parte de seu potencial tanto como drama, quanto como filme de vingança.

Cena de Atena- Divulgação A2 Filmes
Em certos momentos, Atena remete a Bela Vingança (2020, Emerald Fennell) especialmente na figura de uma mulher que busca vingança contra agressores após um trauma pessoal. No entanto, o longa brasileiro carece do mesmo cuidado na construção de sua protagonista, ou da complexidade moral dos personagens do filme de Fennell, como o advogado interpretado por Alfred Molina. Ao invés disso, a produção apresenta uma dicotomia simplista: Atena é a guardiã da ordem, da civilização e do feminino, enquanto os homens são retratados como abusadores, omissos ou emocionalmente despreparados, como o personagem de Thiago Fragoso, um policial que no terceiro ato se vê paralisado diante da violência e atitude de Atena.
A ideia inicial de mistério que poderia girar em torno da questão de quem seria a grande vingadora, é rapidamente descartada. O filme aposta em uma estrutura repetitiva e mal executada, que ignora o potencial da linguagem cinematográfica para enriquecer sua narrativa, seja pelo silêncio, edição, fotografia, ou qualquer outra questão, que mais prejudica a produção do que a ajuda. Em vez de assumir um tom esteticamente ousado, como o das chanchadas brasileiras ou do Cinema Marginal, a produção tenta se levar a sério demais, sem apresentar o rigor técnico ou artístico para isso, assim, o envolvimento do espectador só se intensifica em um fraco terceiro ato, mas já é tarde demais para resgatar o seu interesse.

Cena de Atena- Divulgação A2 Filmes
A obra flerta com o chamado revenge porn, buscando causar impacto através da violência de sua protagonista, contudo, a repetição exaustiva de atos de sofrimento, sem qualquer contraponto emocional ou sensibilidade narrativa, acaba por anestesiar o público. Falta catarse, falta respiro. Ao seu final, Atena entrega apenas uma sucessão de traumas que, em vez de provocar reflexão ou empatia, geram cansaço e frustração.
Atena, estreia exclusivamente nos cinemas brasileiros no dia 31 de julho, com distribuição da A2 Filmes.
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