Dirigido por Clarissa Campolina e Sérgio Borges, Suçuarana é uma lenta busca por pertencimento que aparenta não ter começo nem fim.
A procura por um lugar para chamar de lar é uma força narrativa do cinema desde seus primórdios, afinal, é o reflexo de um desejo humano universal: encontrar um espaço de acolhimento, satisfação e segurança. Nesta busca eterna, às vezes o encontramos, porém, abrimos mão dele em busca de um Éden idealizado, existente apenas na memória ou na imaginação. No caso da produção de Clarrissa Campolina e Sérgio Borges, esse lugar é enxergado como Suçuarana.
O filme acompanha Dora em sua peregrinação à essa reserva mágica que ouviu mencionar na infância. Solitária e sobrevivendo como pode, a personagem ganha corpo na interpretação estoica de Sinara Teles, que impede o público de sentir dó de sua trajetória, somente enfatizando a sua força e perseverança. Sua jornada naturalista é feita de caronas pelas estradas, amizades ocasionais com cantoras em boates e a descoberta de um vilarejo em ruínas, aonde é acolhida. Esse espaço poderia ser seu lar, mas, por não ser Suçuarana, Dora segue adiante, encerrando sua caminhada na escuridão, do mesmo modo que iniciou no começo, sem que haja um arco transformador, e transformando o filme em somente um capítulo de sua vida, sem nenhuma jornada.

Sinara Teles em cena de Suçuarana- Divulgação Embaúba FIlmes
Ainda que Dora nunca inspire piedade, sua busca exaustiva pode cansar o espectador. Sua construção dramática é limitada a poucos traços: solitária, trabalhadora, em busca de um paraíso e acompanhada pelo cachorro Encrenca, o vínculo que a obra apresenta com o realismo fantástico. O animal sobrevive à fome, ao abandono e até a um atropelamento, sempre reencontrando Dora como guia, e podendo ser enxergado sem muito esforço como um espelho de sua família perdida. Não à toa, quando Dora é finalmente aceita no vilarejo, Encrenca decide permanecer ali, sublinhando a mensagem de que o lar já havia sido encontrado, enquanto a protagonista continua sua jornada em busca de seu Éden privado.
Com ecos do cinema novo e de outras produções brasileiras contemporâneas, como Arábia (2017, João Dumans e Affonso Uchoa), Suçuarana adota um ritmo lento, com uma fotografia fria das estradas de Minas Gerais, e o retrato de um Brasil marginalizado, habitado por quem vive à deriva, andando pelas auto estradas e pedindo carona, comendo quando deve e dormindo aonde pode. Porém, ao invés de pistoleiros errantes buscando sentido, como nos faroestes de outrora, aqui o protagonismo é feminino.

Carlos Francisco em cena de Suçuruana- Foto por Bianca Aun / Embaúba Filmes
Tanto Dora, a cantora que cruza seu caminho, a líder do vilarejo, e outras mulheres da trama, são retratadas a todo momento como fortes, decididas e donas de si, mesmo que o mundo inteiro as jogue para baixo, elas continuam fortes. Já o único homem de destaque, Ernesto, interpretado por Carlos Francisco, é um personagem marcado pela dor: vai diariamente a um túnel esperar por um filho que nunca voltará, e é dele, e não das mulheres, que nasce a compaixão da parte do espectador.
Apesar de sua curta duração, 85 minutos, e de uma mensagem clara desde o seu início, a monotonia da jornada de Dora torna a experiência desgastante. Independentemente dos acontecimentos, a sensação permanece inalterada, como um mormaço que nunca traz a chuva, se tratando de um cinema naturalista, e de apelo restrito ao público brasileiro atual, que pode se encantar com a experiência humana de Dora, porém, após mais de uma hora sem nenhuma recompensa, torna Suçuarana bem desgastante.
Distribuído pela Embaúba Filmes, Suçuarana estreia nos cinemas em 11 de setembro.
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