Dirigido por Mika Gustafson, Paraíso em Chamas tropeça na falta de direcionamento, entregando interessantes curtas, mas se distanciando de um longa metragem
Se analisarmos o trailer de Paraíso em Chamas, imaginamos uma produção profunda e dramática sobre o amor fraternal entre três irmã, Laura, a mais velha, Mira, a do meio e Steffi, a mais jovem, que tiveram que se unir na ausência da mãe, porém, apesar do filme se iniciar com esta premissa, a produção tropeça na falta de direcionamento narrativo. O que poderia ser um retrato contundente sobre a fraternidade entre três irmãs acaba se fragmentando em episódios que funcionam isoladamente, mas não sustentam um longa coeso.
A ausência de uma figura adulta em suas vidas e a iminente visita de uma assistente social, deveriam servir como eixo dramático e premissa principal da produção, no entanto, a narrativa se dispersa em subtramas: a amizade de Steffi com um menino de rua, a breve carreira de “empresária” de Mira e o romance de Laura com Hannah, uma mulher casada. Histórias interessantes, mas que carecem de amarração dentro do todo, por consequência, se tornam episódios isolados que distanciam do tema principal: a relação entre as irmãs, o verdadeiro coração da produção.

Bianca Delbravo, Dilvin Asaad e Safira Mossberg em cena de Paraíso em Chamas- Divulgação Pandora Filmes
Mesmo nos momentos de cumplicidade, como quando invadem casas para nadar em piscinas ou roubam comida do mercado, o universo das três parece isolado. Mesmo sendo uma comunidade pequena em que todos se conhecem, ninguém percebe os atos errados que eles fazem, ou servem de exemplo para elas, na verdade todos preferem fingir que elas não existem, e as meninas mais velhas que elas convivem, não recebem aprofundamento narrativo nenhum.
A narrativa de Paraíso em Chamas se enfraquece pela ausência de consequências práticas para certas ações, como as faltas na escola de Mira e Steffi, o caso extra conjugal de Hannah ou a investigação da assistente social, problemas bem estruturados, porém, nunca explorados, fragilizando o impacto da trama. Laura, que assume o papel de guardiã, remete a personagens como Fiona Gallagher, personagem da série Shameless (2011, Paul Abbott), uma jovem dividida entre cuidar da família e buscar sua própria vida, porém, diferente da personagem de Emmy Rossum, Paraíso em Chamas não apresenta tempo para aprofundar os dilemas mais profundos de Laura, assim, suas atitudes variam entre um amor forte e protetor com suas irmãs e uma nítida negligência.
Esteticamente, Gustafson aposta em luz e sombra, desfoques e uma atmosfera nostálgica típica do cinema sueco contemporâneo, unindo momentos de beleza visual, mas também trechos excessivamente escuros, que contrastam de maneira pouco orgânica com a proposta de um filme que deveria pulsar o amor fraternal.

Bianca Delbravo e Ida Engvoll em cena de Paraíso em Chamas- Divulgação Pandora Filmes
No fim, a promessa da visita da assistente social nunca se concretiza, e o desfecho aberto, uma dança poética entre as irmãs, um ode ao amor que existe entre elas, deixa a sensação de um ciclo inacabado, emocionando pela carga simbólica, porém, não oferecendo uma resolução satisfatória para a narrativa construída, e que ao seu final, aparenta que nunca foi iniciada para início de conversa, tendo diversas ideias jogadas, e nenhuma realmente seguida.
Distribuído pela Pandora Filmes, Paraíso em Chamas estreia nos cinemas brasileiros no dia 25 de setembro.
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