Dirigido por Maïwenn, A Favorita do Rei beira o rigor histórico e drama palaciano, em fiel retrato da corte de Luís XV, que não apresenta o brilho memorável de outras produções do gênero
Dirigido por Maïwenn, A Favorita do Rei se insere no já consolidado gênero dos dramas históricos sobre rainhas, amantes de monarcas, e prostitutas dos grandes chefes de estado da história. Este tema já foi explorado por meio de diferentes gêneros, desde na sátira como em Carlota Joaquina, Princesa do Brazil (1995, Carla Camurati), até a tensão e o drama como em A Rainha Margot (1994, Patrice Chéreau), e geralmente envolve protagonistas femininas fortes, intrigas palacianas, certo tom erotismo e doses ocasionais de humor. Na medida que o público já viu algumas produções deste campo, ele acaba se saturado, assim, cada produção necessita encontrar sua própria identidade para não se tornar apenas mais uma, e se manter memorável com o público.
O paralelo mais imediato que se pode fazer com A Favorita do Rei, é obviamente Maria Antonieta (2007, Sofia Coppola), porém, enquanto Coppola aposta no anacronismo histórico, utilizando uma trilha pop, tênis all star e alegorias modernas, com o objetivo para sublinhar o caráter à frente de sua protagonista, Maïwenn segue o caminho oposto: busca a reconstituição histórica com rigor. Figurinos detalhados, rituais de corte como o “despertar do rei” e até a etiqueta de nunca virar as costas ao monarca, reforçam um retrato cru e verossímil do século XVIII.

India Hair, Capucine Valmary, Suzanne de Baecque em cena de A Favorita do Rei- Copyright Ste’phanie Branchu – Why Not Productions
Neste cenário, um grandioso Johnny Depp surpreende como Luiz XV. Após anos afastado de grandes papéis, entrega uma atuação contida, mas carismática, transmitindo com um rápido olhar ou um sorriso um mar de emoções que o ator sempre soube produzir, podendo, assim, se equilibra com a estonteante Jeanne de Maïwenn. As cenas entre os dois são o coração do filme, sustentadas mais pelo magnetismo do casal do que pela variedade dramática do roteiro, que acaba repetindo momentos e circunstâncias, ao invés de realmente explorar novos caminhos narrativos como a relação de Jeanne com as outras amantes do rei.
A narrativa acompanha Jeanne du Barry da infância ao isolamento final, com espaço para figuras históricas já conhecidas do público: as filhas rancorosas do rei, o jovem Luiz XVI e uma Maria Antonieta retratada aqui de modo bem mais doce do que a versão irreverente de Coppola, dando um tom particular à obra, embora, em certos trechos, a repetição de costumes e interações torne o ritmo arrastado.
Apesar de o ritmo ser mais lento do que deveria, a produção impressiona, principalmente em sua estétcia. A fotografia valoriza os interiores e jardins de Versalhes, enquanto a direção de arte recria com esmero o luxo e as regras da corte, entregando ao seu final um filme que pode não alcançar a força ou a ousadia de outras do gênero, mas que se sustenta pela fidelidade histórica e pela intensidade de seu casal central.

Maïwenn em cena de A Favorita do Rei- Copyright Ste’phanie Branchu – Why Not Productions Suzanne
Ao final, A Favorita do Rei pode ser considerado bem mais rigoroso do que o trato anacrônico e feminista de Coppola, e certamente mais sólido e coeso do que a sátira absurda Carla Camurati, porém, não apresenta características suficientes que o tornem memorável por si só, encontrando seu lugar como um retrato fiel da época, mas que não é suficientemente memorável para uma audiência que já presenciou retratos mais inovadores dos mesmos acontecimentos.
A Favorita do Rei está disponível desde 18 de setembro, exclusivamente no streaming Filmelier+.
Siga-nos e confira outras dicas em @viventeandante e no nosso canal de whatsapp !



